Juliano Ribas

Juliano Ribas de Oliveira, 51 anos, é publicitário e Sócio Furacão. Foi colunista da Furacao.com entre 2004 e 2007 e depois entre março e junho de 2009.

 

 

Edson e Edilsons

09/05/2006


Edson Rezende, da comissão de arbitragem brasileira, classificou como pênalti a falta fora da área de Paulo André em Iarley, do Inter. O árbritro do jogo não foi punido, diferentemente do juiz que apitou Paraná contra o Fluminense, apesar do erro igualmente crasso. A arbitragem mostra nestas situações falta absoluta de critério. O erro no Maracanã não foi mais "errado" que o da Baixada. São igualmente erros claros, a subjetividade não pode pautar esta avaliação.

Erros de arbitragem causam muita discussão, além de movimentos peristálticos de nojo e fervuras de raiva no esôfago daqueles que acompanham o futebol. Depois, são absorvidos pelo tempo, são esquecidos ou lembrados apenas como a parte de uma história. Não adianta punir árbitros. Eles recorrem no erro porque recorrem no despreparo. A arbitragem no Brasil é amadora, enquanto o futebol fica cada vez mais profissional. O critério de cada árbitro acompanha a sua formação pessoal, geralmente pobre. Na falta de critério técnico, usam-se outros tipos de avaliação, bem menos cartesianos.

Ficou exposto para todo o país no ano passado o quanto de interesses existe na arbitragem nacional. Não é à toa que a qualquer presepada dos juízes a massa começa a gritar "Edílson!". Este ano apenas vinte clubes disputam a primeira divisão e está cada vez mais difícil se manter nela. Interesses obscuros serão defendidos de forma mais exacerbada neste campeonato. Não é teoria conspiratória. O histórico recente embasa este pensamento. Os erros de uns serão mais errados que os dos outros. Vai depender da cor da camisa e da importância política do clube que as ostenta. Os juízes vão olhar de maneira distinta um mesmo lance e, por falta de critérios técnicos, vão atender a critérios políticos. Falta no jogador do Flamengo, será muito mais falta que uma em um jogador do Santa Cruz ou Juventude, por exemplo.

A força política e financeira definiu os campeonatos Brasileiro e da Libertadores de 2005. Todo mundo lembra dos absurdos que acabaram favorecendo o Corinthians e na jogada política que nos fez jogar a final da Libertadores em Porto Alegre. No futebol é assim, quem é forte politicamente, tem meio caminho andado. As arbitragens são só uma parte do exercício de poder e de influência que existe no futebol. Numa terra com leis flexíveis demais e de moral elástica como o Brasil, este exercício ocorre de maneira solta.

Dagoberto

Os juízes estão esperando a próxima contusão do Dagoberto para apitar falta quando ele estiver na ambulância a caminho do hospital. Neste domingo, o pênalti sofrido por Dago foi cristalino, o jovem foi claramente abalroado o interior da área. Jogadores leves e ariscos como Dagoberto sofrem com a insensibilidade dos árbitros, que permitem que craques como Dago apanhem de maneira tosca.

No início do ano infelizmente tivemos que jogar o desprezível campeonato estadual, uma bobagem que só serve para promover o clientelismo de clubes nanicos com as federações estaduais e promover figuras bizarras como o enjaulado Onaireves Moura. E graças ao Campeonato Paranaense, jogamos sem Dagoberto nas competições mais importantes. Nunca ele apanhou tanto e tão toscamente como no certame estadual.

Fico horrorizado quando justificam a pauleira dizendo que Dagoberto cai demais. O talento tem que ser priorizado nos gramados. Dagoberto é uma jóia do futebol nacional, seu toque é diferenciado. E ainda não pôde exercer seu talento devido à conivência da arbitragem com a "macheza" que impera no meio do futebol. Jogador limitado não gosta de ver o craque brilhar, acha que é humilhação. Passar o pé na bola, dar um rolinho, uma caneta, uma penteada na esfera, um drible da vaca, uma pedalada são motivos para a botina correr solta. E o juizão não apita nada, porque acha que se apanhou é porque mereceu.

Dagoberto ainda está em recuperação e tem que contar com todo o nosso apoio. Se a imprensa paranaense fosse menos inerte e autofágica, já tinha levantado esta lebre de maneira mais enfática. Mas acho que é dar murro em água. O caminho de Dago vai acabar sendo, prematuramente, a Europa, onde vai apanhar também, mas menos.


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