Ricardo Campelo

Ricardo de Oliveira Campelo, 44 anos, é advogado e atleticano desde o parto. Tem uma família inteira apaixonada pelo Atlético. Considera o dia 23/12/2001 o mais feliz de sua vida. Foi colunista da Furacao.com entre 2001 e 2011.

 

 

Ídolos

27/04/2006


Há pouco tempo, estreou no SBT o programa “Ídolos”, cujo mote é selecionar cantores de qualidade para um reality show. Tinha tudo pra ser um programa chato, como o enfadonho “Fama”, da Rede Globo. Mas “Ídolos” vem fazendo sucesso graças à exibição das cenas patéticas por que passam alguns candidados, a maioria completamente desqualificada. O sadismo do brasileiro é satisfeito com os pareceres nada brandos dos jurados, que muitas vezes beiram a humilhação. Mas, acreditem, é engraçado.

O que não é engraçada é a situação atual do Atlético. O time também está carente, e muito, de ídolos. Ontem, pela Libertadores, vimos em campo três times paulistas e um argentino, desfilando seus ídolos. Rogério Ceni, Júnior, Juninho Paulista, Edmundo, Tevez, Gallardo... E quando paramos pra pensar, que ídolo temos no Atlético hoje? Que jogador nos encanta a ponto de causar expectativa pela próxima partida? Quem nos levaria, por conta própria, ao estádio para assistir uma partida?

O único ídolo já consagrado é Dagoberto. Infelizmente, atuou pouquíssimo em 2006 em razão da brutalidade dos marcadores adversários, que o impuseram uma nova contusão. Fora isso, a novela para sua renovação deixou embaçada parte da admiração que muitos torcedores tinham. Resumindo: nosso único ídolo está contundido e seu futuro no Atlético é bem incerto.

Fico imaginando o que nossos candidatos a ídolos ouviriam se fossem submetidos a jurados sinceros como os do programa do SBT. “Zagueiro que toma gol nas costas todo jogo... Tu achas que vai ser ídolo assim?”, diria, com seu sotaque peculiar, o gaúcho Carlos Miranda aos nossos zagueiros. O produtor Arnaldo Saccomani talvez perguntaria para Jancarlos: “Aquilo que vimos em 2005 foi um lapso? Esse futebolzinho de 2006 que é o teu verdadeiro potencial? Se for assim...”. E o lateral-esquerda Moreno, que até agora foi peça nula? Ouviria algo como “Quem te disse que você é jogador?”

Alguns candidatos têm até potencial, como acontece no reality show. Evandro e Ferreira, por exemplo, precisariam escutar algo como “Veio, dá um pouco mais de ti. Tu é meio-campo, tem que se destacar, chamar a responsabilidade, fazer a diferença, mesmo que o resto do time seja fraco”. Alan Bahia, Denis Marques e Michel Bastos receberiam um chamado do tipo “Meu amigo, vida de ídolo tem que ser levada muito a sério. Senão, esqueça.” Pedro Oldoni, o “novo Kaká” segundo palavras dos empresários da Massa Sports, também seria cobrado: “Cara, tem que mostrar mais. Teus empresários disseram que você é craque, mostra isso pra gente porque até agora você não nos convenceu.”

Infelizmente, sou cético quanto a possibilidade de algum jogador do elenco atual se tornar um ídolo da torcida atleticana. O único com potencial para isto é Cléber, que vem se consagrando a cada jogo com defesas de encher os olhos. E só. Um jogador que nos empolgue, que nos faça imaginar o time fazendo gols, vencendo partidas, não temos. Todos que tivemos até 2005 foram embora. E não temos sucessores. Até quando?


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