Rogério Andrade

Rogério Andrade, 52 anos, é administrador. Atleticano de "berço", considera a inauguração da Arena da Baixada como o momento mais marcante do Atlético, ao ver um sonho acalentado por tantos anos tornar-se realidade.

 

 

Ao atleticano Petraglia

22/04/2006


Prezado presidente do Conselho Deliberativo do Clube Atlético Paranaense, Mario Celso Petraglia.

Primeiramente, de atleticano para atleticano, quero lhe agradecer pelas palavras de seu segundo pronunciamento, denominado “VERDADE ATLETICANA”. Serviu, e muito, não apenas como desabafo de sua parte, mas como um certo alívio ao torcedor atleticano. Ao contrário do primeiro pronunciamento, este foi direto ao ponto, nos trazendo pelo menos explicações e algumas respostas sobre graves acusações e respostas sobre sua postura diante das inúmeras cobranças do torcedor.

Não temos dúvida alguma sobre a responsabilidade e a dificuldade a que o senhor mesmo submeteu a sua vida, quando assumiu a presidência de um clube a um passo do caos, ou praticamente no caos, como queira. Também sabemos que o Atlético evoluiu, e muito, graças a sua capacidade, sua ousadia, seu empenho e sua coragem. Não duvidamos em hipótese alguma de sua força e seu equilíbrio, os quais tornaram-se temperos essenciais ao dirigir um clube como o nosso. E sendo nosso, divido minhas opiniões, minhas sugestões e também minhas críticas.

Talvez as situações tornem-se conturbadas a partir do momento em que o atleticano precise expor, de alguma forma, a sua preocupação, a sua angústia e muitas vezes a sua ira. E da mesma maneira como lhe temos como figura a frente do clube em momentos sublimes, importantes e de extrema evolução, a sua figura também nos serve de referência, inclusive nos momentos negativos. A quem iríamos recorrer, implorar ou cobrar, caso não existisse alguém de “cara e coragem” no comando do nosso Atlético? Ninguém mais, ninguém menos, que o senhor, Mario Celso Petraglia.

Portanto, presidente, venho em tom extremamente amigável, lhe ceder a minha palavra de agradecimento, mas também minha palavra explicativa sobre um pouco do sentimento de cada atleticano que acompanha a sua paixão de uma forma um pouco “menos responsável”, mas não menos apaixonada que o senhor ou qualquer outro dirigente do clube. Desta forma, de maneira alguma colocamos a sua pessoa como alvo principal ou elemento único diante dos fracassos do nosso time. Ao senhor, apontamos e lançamos a nossa bravura pela referência que sua figura tornou-se com o passar dos anos, e como ponto de equilíbrio, pois suas ações e medidas fizeram com que nossas emoções fossem, pelo menos nestes pouco mais de dez anos de convivência, suportáveis e imensamente agradáveis. Não lhe acusamos, em momento algum, como o fator provocante de uma possível crise, mas lhe cobramos e sempre lhe cobraremos atitudes e respostas, para apenas um único fim: o bem do Clube Atlético Paranaense. Da mesma forma que o Atlético está em seu sangue, está também nas nossas veias, com a diferença que suas responsabilidades são dez ou mais vezes, maiores que as nossas.

Com a certeza da dificuldade deste imenso compromisso, mesmo assim, por muitas vezes, fomos contrários a determinadas atitudes de sua parte, como o reajuste abusivo dos ingressos e proibições de adereços e instrumentos de percussão da torcida organizada. Em todo este tempo, tais problemas acabaram se tornando frívolos, diante da grandiosidade e da beleza que se tornou o Atlético. Mesmo com a consciência de que atualmente alguns atleticanos de menor poder aquisitivo não mais estarão ao lado do Atlético, conseguimos entender a política do clube e entendemos também que, mesmo que ainda haja algum tipo de discordância em alguns pontos sobre os valores de ingressos, não temos mais argumentos nem forças para lutar. Os demais direitos vamos continuar exigindo, pois baseado em nosso semelhante ponto de vista, o Atlético é tão nosso quanto seu. Felizmente, batalhamos e sofremos sempre em busca da felicidade do clube, mas infelizmente, muitas vezes somos incompreendidos, e entendo que isto também seja o seu sentimento.

Quanto ao episódio da Revista Placar, perceba há quanto tempo as incógnitas na cabeça do torcedor poderiam ter sido desfeitas. Se um dia não tivemos dúvida alguma sobre o controle financeiro do clube diante das negociações dos nossos atletas, passamos a conviver com a dúvida, a incerteza e a preocupação, devido exclusivamente ao seu silêncio e ao silêncio de todos os que estão lhe acompanhando a frente do clube. Ao ler seu segundo pronunciamento, não estamos totalmente isentos de dúvidas, mas tenha certeza de que estamos muito mais aliviados. Esperamos que os próximos acontecimentos ou mesmo as próximas acusações sejam respondidos de forma imediata, evitando desta forma que o tempo seja aliado das pessoas de má fé, oferecendo margem para que propaguem seus devaneios e instalem as desavenças, pois sabemos que no futebol o que se estende por muito tempo torna-se por demais duvidoso.

Basicamente, nós, torcedores atleticanos, atualmente, imploramos por algo que há muito tempo nos tem feito padecer: comunicação. Um clube, com a grandeza e o dinamismo do Atlético, não pode e não deve, em hipótese alguma, deixar os seus dirigentes, sua administração ou mesmo o seu Conselho Gestor, conviver tão longe de um grande patrimônio do clube, que é a sua torcida. E mais uma vez tomemos a base que o senhor mesmo fez questão de nos colocar. Levando em consideração que somos todos atleticanos, com os mesmos sentimentos e os mesmos objetivos, não há motivos para instituir a ausência da transparência e a verdade dos fatos. Não quero entrar em alguns méritos ou mesmo detalhes de certos acontecimentos, como o caso Aloísio, mas refiro-me de uma forma geral a todas as circunstâncias que envolvem o Clube Atlético Paranaense. Entendemos também que diante de pequenos ou grandes negócios, somos, antes de qualquer coisa, humanos, e por algumas vezes o erro nos acompanha. E se estamos certos ou errados, talvez tudo não tivesse se tornado uma grande batalha ou um grande ponto de interrogação se o esclarecimento e as verdades fossem expostas sobre nossos semblantes de torcedor.

E diante desta mesma linha de raciocínio, queremos saber os motivos que levam o senhor a não contratar um diretor exclusivo no “ramo” do futebol. Percebemos, com extrema evidência, que o clube encontra dificuldades para manobrar os assuntos futebolísticos e busca soluções de forma equivocada, levando o time ao insucesso. Sentimos que algo não vai bem com o elenco do Atlético, e não temos a mínima noção de como o clube reagirá no decorrer do campeonato brasileiro para nos arrancar a preocupação e nos devolver o bom sono em saber que o Atlético está muito bem, obrigado! Temos plena convicção de todo o seu esforço e todas as energias consumidas de sua parte para oferecer ao Atlético um estádio pomposo e magistral, um centro de treinamentos de excelência e parcerias extraordinárias. Temos absoluta certeza que o senhor, tanto quanto nós, desejou solucionar o problema referente ao terreno do colégio, fazendo nascer a segunda parte do nosso sonho. Não, nada disso está em questão, muito pelo contrário, tudo está muito óbvio para todos nós. O que não podemos e não vamos permitir, e que o Atlético esmoreça dentro das quatro linhas, onde realmente faz o Atlético mostrar a sua verdadeira face. Ali é que são colocadas à prova todas as condições e expostas todas as virtudes e fraquezas do clube. E hoje, infelizmente, não estamos bem. Precisamos reagir, e precisamos novamente de suas atitudes, como um homem atleticano, humilde, mas de caráter inigualável, para nos ajudar a devolver o Atlético novamente ao seu devido lugar.

Não tenha dúvidas, amigo e torcedor presidente, que a torcida do Atlético entende muitas das suas pretensões e solicitações, algumas destas solicitações até desnecessárias. Em momento algum vamos abandonar o Atlético, e em momento algum deixaremos de apoiar o nosso clube, o qual tanto amamos. Tomemos como exemplo apenas a estréia neste campeonato nacional. Após uma desastrosa eliminação no campeonato paranaense e uma trágica eliminação na Copa do Brasil, este mesmo Atlético entrou em campo em uma das noites chuvosas mais frias do ano, e surpreendentemente quase dez mil torcedores estavam ao lado do time. Isso prova o quanto confiamos no Atlético e o quanto o Atlético representa em nossas vidas.

Hoje estamos mais confortados, embora nem a metade dos nossos problemas tenha ainda sido resolvida. A sua promessa de que não caminharemos para o mesmo buraco de outros clubes, já nos conforta, e muito. Esperamos por dias melhores, e se o Atlético unido torna-se ainda mais forte, procure não encontrar sozinho, presidente, as soluções para o nosso Atlético. Ali, nas cadeiras da querida Baixada, há muita gente que sabe das coisas e que gostaria muito de poder compartilhar contigo as coisas do Atlético. Para alguns, basta uma sugestão, um palpite, para muitos, apenas um aceno positivo em nome da paz já torna-se suficiente. Não com afrontas, acusações ou xingamentos. Não, definitivamente tais atitudes não condizem com o status do Atlético e precisam ser revistas. Apenas a coerência, a humildade em aceitar os equívocos e a sabedoria em entender que, do lado de cá, há muita gente que está sofrendo ao observar um Atlético carente de futebol.

Não faça nada por nós, presidente Petraglia. Faça pelo Atlético. Faça pelo futebol do Atlético. É o que basta para que nossos dias sejam melhores e para que a paz volte a reinar no meu, no seu, no nosso Clube Atlético Paranaense. E que em breve, muito breve, nossos sonhos voltem a caminhar rumo ao infinito.

Muito obrigado e um grande abraço.


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