Juliano Ribas

Juliano Ribas de Oliveira, 51 anos, é publicitário e Sócio Furacão. Foi colunista da Furacao.com entre 2004 e 2007 e depois entre março e junho de 2009.

 

 

Bola de neve

17/04/2006


Trinta minutos de Atlético. Quinze no início, quinze no final. Trinta minutos em que pudemos sentir um pouco o espírito e o futebol atleticanos, dentro e fora de campo. Torcida acesa fora nas cadeiras, time aceso no gramado. Muito pouco, mas pelo menos vimos o Atlético.

Mas o que explica a covardia que demonstrou o time após os gols do Fluminense? O medo que se abateu sobre os jogadores? É o medo de se expor ao julgamento de uma torcida exigente e fanática? Isso precisa ser corrigido o quanto antes, essa corrente temerária que embala os times durante as crises e os levam rumo ao fundo do poço.

Aconteceram algumas coisas que desestabilizaram o clube e o time, que foi abandonado por um treinador de um dia para o outro, eliminado de duas competições em menos de um mês e atacado com mentiras por pessoas que desejam ver o caos. A confiança de todos foi exaurida, a pegada desapareceu. A ânsia por resultados cresce a cada revés e qualquer coisa que dificulte a chegada às vitórias deixa a todos abalados. Uma bola de neve, que ganha proporções maiores a cada jogo.

Ontem, o Atlético vinha bem, com boa posse de bola, duas chances claras de gols e fazendo algumas jogadas até os quinze minutos do primeiro tempo. Aí, vacilou, tomou o gol e algo que seria normal dentro de um jogo, que é sair atrás do marcador, transformou-se em um obstáculo enorme para a vitória. Os jogadores e torcedores já começaram a pensar no pior.

No segundo tempo, Givanildo fez uma boa mexida que foi tirar o inoperante Moreno e colocar o Fabrício, que entrou bem. Com a entrada do bom Válber, no lugar de Ferreira, o time subiu um pouco de produção e chegou ao gol num lance de oportunismo de Pedro Oldoni. A partir daí, tivemos um pouco de Atlético novamente, meio na empolgação, mas Atlético, perto do que a gente conhece, que é um time que vai para cima e no grito da galera se inflama. Mas a qualidade técnica individual do Fluminense falou mais alto.

Está claro que o Atlético não tem elenco para almejar alguma coisa no campeonato. Existe qualidade no plantel, mas é preciso somar mais qualidade, o campeonato é longo e algumas peças de reposição estão deixando a desejar. E o talento acima da média de um jogador como o Dagoberto faz muita falta. Fica o alento da boa estréia do Válber, é jogador que promete, assim como a recuperação do Fabrício, que deu ao meio-campo mais cadência e responsabilidade. Temos ainda um jogador titular da seleção da Colômbia, Herrera, para estrear e que pode dar mais contundência ao ataque e também a volta de Ivan, em breve, à lateral.

Para evitar o efeito bola de neve, em que a corrente negativa cresce a cada jogo e leva o time para o fundo, podendo chegar a uma 2ª divisão, é preciso que a diretoria apresse a chegada dos reforços e que o técnico trabalhe os jogadores individualmente a fim de quebrar o sentimento de frustração existente. E que a torcida ajude. A presença de público medíocre para uma estréia de Campeonato Brasileiro merece ser ressaltada. O Atlético precisa de mais apoio numérico para sair dessa fase. Urucubaca ou maldição germânica, se existirem, só terminam com talento, trabalho e união.

Ainda há tempo hábil e, enquanto a boa de neve é apenas uma pequena esfera no alto da montanha há como pará-la. Depois que se transformar em uma avalanche, não há mais nada a fazer. Para evitá-la, basta o Furacão voltar a ser o fenômeno que conhecemos e mandar a neve embora com uma lufada forte. Diretoria, treinador, jogadores e torcida precisam, cada um, fazer a sua parte. Foi assim que as coisas sempre deram certo no Atlético.


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