Ricardo Campelo

Ricardo de Oliveira Campelo, 45 anos, é advogado e atleticano desde o parto. Tem uma família inteira apaixonada pelo Atlético. Considera o dia 23/12/2001 o mais feliz de sua vida. Foi colunista da Furacao.com entre 2001 e 2011.

 

 

Entrevista particular

13/04/2006


Nesta semana, o Presidente do Conselho Mário Celso Petraglia publicou uma carta, refutando as acusações publicadas pela Revista Placar, segundo as quais o Atlético faria parte de um esquema de engorda de jogadores e ficaria com meros 30% do valor das negociações.

A carta foi mais para uma "negativa geral", sem dar maiores detalhes. Segundo o Presidente, a matéria da Placar, assim como o panfleto anônimo que circulou pela Baixada na última partida do Furacão, não apresenta provas de suas alegações, em razão do que não mereceriam maior consideração.

O Presidente tem razão, em parte. É muito fácil acusar sem provas, ou sem dar as caras, e ficar por isso mesmo. Ainda mais em uma fase em que a imprensa não tem a credibilidade de outrora (tem site publicando até entrevistas com jogadores ou treinadores que "preferiram não ser identificados", tudo para atingir o Atlético).

Por outro lado, o torcedor fica com a pulga atrás da orelha. Ok, confiamos na índole dos nossos dirigentes, é claro. Mas se vem uma reportagem dessas e o Clube fica calado, as acusações ficam ecoando. E, bem ou mal, vêm da maior publicação esportiva do país. A carta do Presidente já nos deixa um pouco mais tranqüilos. Mas, para esclarecer de vez o assunto, eu, se pudesse, faria uma entrevista particular com o Presidente Petraglia com a seguinte pauta:

Presidente, o Sr. refutou as acusações da Revista Placar de que o Atlético faria parte de um esquema de engorda de jogadores. Como funciona, realmente, o esquema de negociações do Clube atualmente? Qual a porcentagem que o Atlético possui sobre os direitos federativos de seus jogadores? Existe algum jogador em que a participação do Clube seja de apenas 30%, que possa ter sido usado como paradigma pela reportagem?

Sobre os jogadores que estão chegando ao Atlético, em especial vindos do Guarani e Paulista de Jundiaí: o Atlético desembolsa dinheiro para contratá-los? Quem dá aos seus clubes de origem a contra-partida para tirar os jogadores de lá?

A reportagem afirmou ainda que sua filha teria participação nos supostos "fundos" para negociação de jogadores. É uma acusação bem grave, vejamos bem, que afirma que pessoas da sua família estariam lucrando em negociações envolvendo o Clube. Já sabemos que o Sr. nega esta afirmação, mas gostaria de saber se sua filha tem alguma outra ligação com o Clube? Alguma idéia de como a Revista chegou ao nome dela? O Sr. já ajuizou a ação de indenização contra os responsáveis pela matéria?

Presidente, o Atlético é um dos clubes brasileiros que mais têm atletas registrados na CBF, jogadores estes espalhados em outros times. Contudo, é notável que o atual elenco atleticano é de nível inferior ao do ano passado, haja vista que perdemos atletas de qualidade como Marcão, Aloísio e Lima, por exemplo. Por conseqüência, a folha salarial tende a ser menor. Por que o Clube não se reforça no futebol, aproveitando-se, inclusive, dos recursos vindos da parceria com a Kyocera e dos ingressos mais caros?

Presidente, aproveitando a oportunidade... a torcida ficou perdida no caso do Aloísio. O Clube alegava ter um recibo que comprovava a sua compra junto ao clube russo Rubin Kazan, mas as notícias são de que este recibo não teria sido juntado aos autos do respectivo processo. O que aconteceu? Os russos nos passaram a perna? Ou, na visão do Clube, a Juíza do Trabalho foi induzida a erro pelos ardilosos dirigentes do São Paulo? Enfim, por que perdemos o caso?


Estas são as perguntas que, hoje, eu faria ao nosso Presidente do Conselho. Não tenho a intenção de ficar "remexendo" coisas contra o Clube... mas afinal, o que é a repercussão de minha coluna comparada com a da Revista Placar? Só acho que, se a diretoria está com a razão, poderia respondê-las e, assim, deixar o torcedor atleticano plenamente tranqüilo quanto à administração do Clube. E, vejam bem, não é nem questão de questionar a política do Clube de não contratar medalhões, de apostar em jogadores desconhecidos e tal. Se for assim, tudo bem, é questão de concordar ou não com a política do Clube. Agora, se o time realmente estiver recebendo apenas 30% do valor dos atletas, ou, pior, esteja forçando sua permanência na equipe titular apenas para tentar sua valorização, como alguns insinuam, aí a história é outra.


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