Juliano Ribas

Juliano Ribas de Oliveira, 51 anos, é publicitário e Sócio Furacão. Foi colunista da Furacao.com entre 2004 e 2007 e depois entre março e junho de 2009.

 

 

Como vencer o Volta Redonda

04/04/2006


O Atlético não é um time com 11 anos de idade. Não foi fundado em 1995, ano da grande Revolução Atleticana. O Atlético não se envolveu em fusões pela história, tem um passado fulgurante sempre com o pavilhão colorido pelas mesmas cores. Tem heróis e mártires em sua galeria, forjados a ferro e fogo e suor desde 1924.

Muitos atletas que iniciam ou chegam ao Furacão, por ignorância ou desinformação, podem não conhecer as passagens e os personagens de uma história antiga e riquíssima. Talvez achem que o nome do CT do Caju seja em homenagem a algum cajueiro frondoso que lá exista, não a Alfredo Gottardi, a Majestade do Arco, espetacular goleiro que defendeu o Furacão e a Seleção Brasileira nos anos 40.

Se escutarem sobre o Atletiba da Gripe talvez pensem que fora algum clássico em que se trocavam entradas por embalagens de aspirina, não um jogo em 1933, que jogamos com a maior parte do time tomada por forte virose e mesmo assim vencemos o Coritiba "Foot Ball Club", que não aceitou a mudança de data do jogo para tentar tirar proveito da situação.

Alguns desses jovens atletas que formam o Furacão atualmente podem até achar que este nome veio homenagear algum vento forte que passou por Curitiba e não o time de Laio, Delcio, Waldomiro, Waldir, Wilson, Sanguinetti, Viana, Rui, Neno, Jackson e Cireno; o time mais espetacular que o Paraná já viu. Talvez nunca tenham escutado falar de Jofre Cabral e Silva, que bradou contra a morte do Atlético e morreu pelo Atlético.

Talvez não saibam que aqui jogaram Bellini e Djalma Santos. Ou achem que Sicupira é só um bigodudo que entende de bola que comenta no rádio e na TV, não o maior artilheiro da história atleticana. Talvez pensem apenas nos dólares que seus procuradores farejam como o sabujo a caça. Se é impossível que amem a camisa do Atlético como nós, que ao menos respeitem a grande tradição construída em 82 anos. E este respeito à tradição é a fórmula para vencer o jogo contra o Volta Redonda.

Faltou respeito à tradição atleticana pelo alemão trapalhão que por aqui passou. Alguns jogadores também faltam com o respeito quando se sentem estrelas acima do bem e do mal. A honra à tradição do Atlético é e sempre será o motivo maior das grandes vitórias. Honrar essa tradição é fazer valer a vocação de time vencedor, sempre com lugar entre os maiores. Todo jogador que chega ao Atlético deveria ter aulas de história atleticana, aulas de catequese rubro-negra.

Mesmo com o crescimento que obteve nos últimos 11 anos, pensar no passado não pode ser considerado um retrocesso, muito pelo contrário. É envolver-se da mística que faz partes das fibras da camisa rubro-negra. O Atlético tem importantes títulos recentes conquistados e campanhas fantásticas realizadas graças a jogadores que souberam aliar a estrutura e a modernidade do Atlético atual com a honra e a tradição do Atlético de sempre. Adriano Gabiru, Gustavo, Alex Mineiro, Washington, Marcão e Diego são exemplos recentes de respeito à camisa rubro-negra.

Me perdoe o Volta Redonda, mas este não é um time à altura do Atlético. O Atlético tem que fazer valer a sua força com a garra que suja o calção, marca a canela, encharca a camisa. Na preleção do Givanildo, devia ser mostrado o vídeo com o gol do uruguaio Matosas, entre lama e cambalhotas, na Estradinha, em 96, para dar inspiração. Esses jogadores do elenco atual são bons, mas precisam uma boa dose de mística atleticana nas veias. Aí voltarão a campo as "blitzkriegs" rubro-negras, a disputa pela bola que nunca termina, cabeças mergulhando sem medo, como fez Marcelo Araxá, a um palmo do solo e a centímetros da bota adversária, para empurrar a bola para as redes num Atletiba.

O Atlético que arranca tufo de grama e também trata bem a bola, o Atlético que briga até o último minuto, que defende a honra até sentir cãibras, e mesmo as sentindo, não se entrega. O Atlético impiedoso, sem pena, que faz tremer zagas com grandes ataques, verdadeiros bombardeios de fúria. É esse Atlético que a gente ama e respeita e mesmo numa derrota, aplaude. Que a zaga, que anda deficiente, tire as bolas sem medo de arriscar a cabeça. Que o meio campo, inseguro, troque passes sem medo de errar, pois medo é verbete que não existe no dicionário atleticano. E que o ataque vá em todas as bolas, acredite o tempo todo que a qualquer momento a rede será estufada.

Vencer o Volta Redonda, ou qualquer um, é simples assim.


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