Ricardo Campelo

Ricardo de Oliveira Campelo, 45 anos, é advogado e atleticano desde o parto. Tem uma família inteira apaixonada pelo Atlético. Considera o dia 23/12/2001 o mais feliz de sua vida. Foi colunista da Furacao.com entre 2001 e 2011.

 

 

Recaracterização da torcida

30/03/2006


No momento, há pouco a falar sobre o Atlético. Jogo, só daqui a uma semana, Givanildo viajando (espero que volte!), nenhuma contratação à vista... vou aproveitar o momento e colocar em discussão um assunto levantado no Fórum Furacao.com, e como fiquei sabendo, debatido na última reunião da torcida Os Fanáticos: a "descaracterização" da torcida atleticana.

É fato que a torcida que vai à Arena não é mais tão vibrante como era, por exemplo, em 1996, ou mesmo em 1999. Além de pouca parte dos torcedores acompanharem os cantos dos Fanáticos, a cobrança aos jogadores tornou-se exagerada. Vaias viraram fato comum, assim como xingamentos a jogadores (o que acho profundamente lamentável). Não que eu ache que a torcida não tem o direito de cobrar, mas sim que deve fazê-lo moderadamente, sem prejudicar o time.

Alguns fatos explicam esta perda da magia da torcida, comparando com a de dez anos atrás. Um deles é a proibição de bandeiras e outros adereços, que ajudavam a deixar a festa muito mais bonita e contagiavam o estádio inteiro. Porém, ainda é um fato superável, pois o motivo maior para festa é, e sempre tem que ser, o Atlético.

Outro fato que contribui bastante para esta descaracterização da torcida é a elitização proposta pela diretoria. Público mais abastado é igual a mais "comportado", ou seja, torcida menos vibrante, simples assim. Mas também não é um motivo absoluto. Mesmo em 1996, tinha muita gente de clásse média pra cima que ia ao jogo e gritava o jogo inteiro.

O "x" da questão me parece estar no seguinte pensamento. Nos anos 90, o Atlético necessitava da força da torcida. Sabíamos que somente com base na vibração é que o time poderia vencer. Lembro que em 94, 95, 96, eu deitava a cabeça no travesseiro e ficava imaginando como seria um êxtase se conseguíssemos subir pra Série A, ou como seria a alegria de um dia eu ver o Atlético ser campeão paranaense (!!!). Sonhava com todas as minhas forças, e canalizava isso no estádio.

Hoje, o Atlético tem uma estrutura invejável, um estádio excepcional, um time 90% das vezes muito melhor que o do passado, conseguiu um titulo nacional e se acostumou a ganhar títulos estaduais. Então, além de ficar acostumado com bons resultados, o torcedor cai em uma sensação de que o time "não precisa" dele. A própria diretoria cai neste pensamento equivocado.

Isso é uma contradição. O Atlético tem estrutura, tem time, mas continua precisando sim do seu torcedor. Não para conseguir um suado campeonato paranaense, ou um "honroso" quarto lugar no Brasileiro. Mas para conseguir títulos, vôos mais altos, mais estrelas pra camisa. É isso que o torcedor tem que ter em mente: que ele precisa apoiar o Atlético como fazia no começo dos anos 90. Senão, haverá uma indesejável compensação: antes tínhamos força da torcida e não tínhamos estrutura; hoje temos estrutura mas estamos perdendo a força da torcida.

Afinal, nós não queremos um Atlético cada vez maior?


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