Rogério Andrade

Rogério Andrade, 52 anos, é administrador. Atleticano de "berço", considera a inauguração da Arena da Baixada como o momento mais marcante do Atlético, ao ver um sonho acalentado por tantos anos tornar-se realidade.

 

 

Parabéns, Atlético!

25/03/2006


Todos os dias são dias de Atlético. Dias de alegria, dias de sufoco, dias de suspense, preocupações, desafios e conquistas. A cada dia o Atlético nos encanta, e na verdade sempre foi assim, evoluindo e encantando, transformando-se aos poucos não apenas em motivo ou ideal, mas transformando-se em um grande clube de futebol.

É aniversário do Atlético, do nosso Atlético, e não poderia existir razão maior para eu deixar o meu merecido período de férias e escrever sobre a nossa paixão. Sim, estamos aqui movidos por essa paixão chamada Clube Atlético Paranaense, e mesmo nos momentos mais sofridos e incertos, como o que estamos vivendo, não deixamos de crer e juntar forças para fazer nossos corações ficarem do tamanho do Furacão.

Sempre que falo de amor ao Atlético, não posso deixar de dar uma passada, mesmo que rápida, pelo excelente livro “Atlético, a paixão de um povo”, escrito por Heriberto Ivan Machado e Valério Hoerner Júnior. Um livro que já começa com palavras de casos de amor, e que traduz, exatamente, quase tudo o que sentimos pelo Atlético. Para quem não teve ainda o prazer dessa leitura, vou relatar aqui alguns trechos do livro:

“O amor a um clube é inexplicável e na maioria das vezes não se justifica. Não pode ser aferido. A ele, não se pode dar motivo que o legitime perante razões aparentemente mais fortes. É uma coisa parecida com lua-de-mel, intensa, violenta, absorvente, inesquecível.”

“Da mesma forma que o futebol se apresenta como uma função da alma, o amor a um clube pode ser visto como condicionamento psíquico, propulsor até de disparates, justificáveis somente pelos olhos e pelas cabeças dos torcedores de mesma camisa, que em determinados instantes pensam com uma cabeça só, a da torcida, agindo numa espécie de histeria coletiva, senhora do mundo e de todas as razões, incapaz de exercer o racional.”

Dentre outras linhas muito bem escritas, perfeitamente combinadas com a história do Atlético, voltei lá no início do livro para buscar a frase que cabe exatamente ao momento do Atlético, no auge e na forma dos seus 82 anos:

“O clube nunca se entrega a um torcedor; o torcedor é que se entrega ao clube ou ao amor dele.”

É isso, exatamente isso. Talvez cada atleticano, no dia de hoje, tenha que resgatar momentos e imagens da nossa história. Incluo nessa relação de atleticanos, os jogadores do Atlético. É preciso que saibam, de alguma forma, o real significado e a grandeza do escudo que por muitas vezes, vestem e acabam nem prestando atenção de que lado ele está. É preciso dar muito valor, muito mais valor e ter a consciência de que existe uma história, bela e vencedora, e a cada vez que o Atlético entra em campo, há sim uma histeria coletiva.

Do clube, dos dirigentes e até do presidente do Atlético, podemos e devemos exigir, não em tom de discussão ou violência, mas sempre debatendo boas idéias e tentando ao menos estabelecer consenso entre todas as partes. Não podemos esperar milagres. Digo isso porque mesmo em férias e mesmo longe, tive o desprazer de acompanhar fatos tristes e que não condizem com a história do meu time do coração. E digo, como bom e velho (não muito) atleticano, que as piores tempestades fizeram o Atlético ser grande, cada vez maior. Nunca deixamos uma ferida sem cicatrizar, nunca deixamos de apoiar, vibrar e até chorar com o Atlético, pelo Atlético e para o Atlético, e principalmente, nunca deixamos de acreditar.

Neste dia 26 de março de 2006, quero que cada atleticano continue acreditando. Deixe de ir ao estádio para xingar ou para vaiar, e quando pretender fazer isso, leia algumas páginas da história do Atlético e entenda que nada é por acaso. Vá ao estádio e vá à belíssima Baixada para aplaudir, para sorrir, e quando for preciso, também para cobrar, mas não confunda cobrança com ofensas. Muitas vezes a maior cobrança em momentos difíceis é quando o time não encontra caminhos, perde o jogo e mesmo assim um estádio inteiro grita “A-tlé-tico...”

Me entristece assistir hoje em dia, atletas do clube “jogando a toalha”, sonhando em jogar na Europa antes de entrar em campo vestindo a camisa do Atlético, caindo ao ser substituído, puxando camisas de adversários e cavando alguns dias de férias. Me entristece jogador treinar forte no sábado e no domingo “pedir” para não jogar, pois não está se sentido bem. Me entristece uma torcida vaiar um ídolo do seu time, pedir sua saída, e em uma das grandes falhas do seu substituto, iniciar coros novamente em volta do seu nome, como um sentimento de saudade. Isso é hipocrisia, é falsidade, é idiotice. Isso não é atleticanismo!

Sei que hoje é preciso arrumar a casa, mas se nós, que também somos moradores desta casa, não ajudarmos e não acreditarmos que os dias difíceis estão indo embora, se não acreditarmos que o sol vai novamente brilhar, tenham certeza, estaremos sendo contrários à linda história do Atlético. Se existem idéias ou práticas erradas e absurdas, ao invés de criticar um ao outro e ao invés de continuar acreditando nos bonitos discursos da imprensa esportiva, vamos ajudar o Atlético e nos lembrar que diante da nossa história, nada foi fácil.

Atleticano, viva o dia de hoje, o aniversário do Atlético, como um novo dia. Troque o pensamento preocupado pelo otimismo, e não vista sua camisa ao avesso a cada derrota do seu time, isso é no mínimo uma atitude anti-atleticana. Usar a camisa dessa forma, escondendo a sua paixão ao lado contrário do seu coração, é uma atitude suspeita de traição. Não ache que é bonito trair. Aprenda a amar o seu clube e entenda que as derrotas fazem parte da vida daqueles que hoje aprenderam a vencer.

Estamos de novo técnico, estamos próximos da vaga para a próxima fase da Copa do Brasil, fazemos parte da elite do futebol nacional, temos um estádio maravilhoso, um centro de treinamentos de causar inveja. Temos um elenco competente, e somados a alguns reforços, podemos sim ser campeões, não tenho dúvidas. Temos objetivos, temos uma camisa linda e temos o que todos os clubes do Brasil e do mundo gostariam de ter: uma torcida espetacular! Isso ninguém nos tira. Com tudo isso, com união, com paciência e com otimismo, temos tudo para dar início a um novo tempo. E este novo tempo começa agora.

Feliz aniversário, Atlético!


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