Fernanda Romagnoli

Fernanda Romagnoli, 51 anos, é atleticana de coração, casada com um atleticano e mãe de dois atleticanos. Foi colunista da Furacao.com entre 2005 e 2009.

 

 

Desagravos e agravantes

22/03/2006


Um amigo de Recife, torcedor ferrenho do Santa Cruz, me ligou indignado com o desconhecimento que demonstrei em minha última coluna sobre o senhor Givanildo Oliveira. Antes de dizer qualquer outra coisa, perguntei a ele se conhecia Dalton Trevisan e Paulo Leminski. Ele me perguntou se o Leminski era o "tal" da pedreira e eu disse que sim. E que o outro ele nunca tinha ouvido falar, nem no vestibular. E este era todo o conhecimento dele a respeito de duas figuras ilustres da minha terra.

Pois bem, jamais em tempo algum houve a intenção de ofender ou diminuir o sucesso de carreira do técnico recém contratado do meu amado time. Apenas ironizei o fato de ele ser o rompante "Plano B", imediatamente após a ultra badalada contratação do ex-jogador alemão para técnico, seguido de seu sumiço. Justificativas a parte, a grande verdade é que até quinta ou sexta-feira da semana passada pouca gente daqui sabia muita coisa de Givanildo Oliveira. Como os relações públicas trabalharam bastante nesta semana, não vou repetir o vasto currículo de vitórias e boas experiências do homem no nordeste deste Brasil imenso. Quero apenas, num misto de esperança e desconfiança, desejar ao comandante Givanildo muito sucesso e que repita aqui todos as conquistas realizadas nas longínquas terras nordestinas.

Boas vindas dadas, vamos para outras.

Achei fantástica esta postura do Petraglia na derrota para o Adap. Não esperava que ele fosse tão publicamente humilde em seu mea culpa. Foi digno de um grande líder, que assume responsabilidades que não são só suas, mas de seus liderados. E nesse ponto, cá pra nós, está demorando para os jogadores perceberem que a bola está "literalmente" com eles.

Aqui está um agravante da situação. Quanto tempo mais os jogadores vão ficar com esta postura blasé diante do mundo? Os caras estão na porta do Campeonato Brasileiro achando que estão na pré temporada...acorda galera! A coisa já começou faz tempo e vocês têm de parar de achar que são o biscoito mais gostoso do pacote e efetivamente jogar bola. Os mais prejudicados com essa desunião e esta imaturidade não é outra gente a não ser os próprios jogadores. Porque a hora que o pessoal da caneta se encher desses caras, vai todo mundo para a rua. Duvidam? Eu não!

Sabe, essa coisa de colocar a culpa no alemão não está com nada. O fulano não queimou o próprio filme, ele bombardeou o laboratório inteiro. Enquanto ele esteve aqui o time ganhou porque tinha de ganhar. Tem coisas que não dependem tanto do técnico e por isso não credito essas vitórias a ele. Penso que esta passagem nem estará no currículo para ele não lembrar da fiasqueira que fez por aqui. Dia desses eu estava vendo um filme da Copa de 90. O cara jogava muito, mas acabou. Para mim ele é ex-jogador e não técnico de futebol.

E aquela conversinha de estrutura, de crescimento nos últimos 10 anos, que nós somos isso e aquilo? Sempre ironizo esse tipo de comodismo arrogante , mesmo que muitas vezes seja mal interpretada. Ironizei e sofri, porque levamos uma sapecada do Adap. E quer saber? Muito bem feito. Se nos despirmos de toda alma torcedora, veremos que o Atlético não merecia ganhar. E isso me fez pensar em mais um agravante: Acreditar que as conquistas alcançadas sirvam de "varinha de condão" para que vençamos é coisa daquele time cuja única glória que podem cantar no momento é a Glória Gaynor ... "I´ll survive! I´ll Survive! Yeah, yeah!".

Por isso, com agravante ou sem agravante, a gente tem de acreditar e cobrar. As pessoas que ficaram na arena ou grudadas no radinho até o final do jogo no dia 18 de março de 2006 têm de ser recompensadas de alguma forma, porque elas tiveram coragem de acreditar quando muita gente já tinha largado os betes.

Fico feliz pela história, mas quero cantar as glórias que ainda vamos alcançar. E vamos! Muitas delas. Eu acredito nisso, mesmo que sejamos um misto de todos os tipos de torcedores: pessimista, otimista, desconfiados, mas acima de tudo corajosos.

Nenhuma novidade para quem tem como hino não temer a própria morte.


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