Juliano Ribas

Juliano Ribas de Oliveira, 51 anos, é publicitário e Sócio Furacão. Foi colunista da Furacao.com entre 2004 e 2007 e depois entre março e junho de 2009.

 

 

Responsabilidade

20/03/2006


Culpa e responsabilidade são coisas diferentes. Embora uma seja tangível à outra, a culpa vem de conduta negligente que causa dano; responsabilidade é assumir a prática de atos, nem sempre negligentes.

Por isso é diferente perguntar de quem é a culpa pela trágica eliminação do Campeonato Paranaense e de quem é a responsabilidade.

Mário Celso Petraglia assumiu a responsabilidade pelo fato mais doído dos últimos tempos do Rubro-negro. Doído por ter sido muito humilhante. Responsável pelas grandes cartadas rubro-negras há onze anos, o crupiê do grande pano verde da Baixada, ganhou bem mais do que perdeu. E a última jogada foi a contratação do astro do futebol mundial Lothar Matthaüs. E não houve nada de negligente nisso, mesmo que a atitude de trazê-lo tenha implicado em riscos. Seria o caminho mais fácil culpar Mário Celso. Sua figura é sempre protagonista, seja nas conquistas ou seja nas derrotas inerentes ao futebol. Matthaüs fugiu, há de se culpar alguém que ficou. E, claro, muitos pensam em Petraglia.

A esmagadora maioria do povo atleticano apoiou a contratação do alemão, não só apoiou, como festejou, incensou, orgulhou-se. A jogada de marketing transformou-se, depois de seis boas vitórias, em bom negócio também dentro de campo. Até a fuga, ele tinha o respeito e a admiração dos atletas e da torcida. Dezenas de fatos extra campo, notícias em todas as colunas de jornais, passando pela coluna social, esportiva e policial, não foram suficientes para diminuir o prestígio e as expectativas a respeito do Atlético sob o comando de Lothar. Até sermos surpreendidos por esse abandono de emprego, estávamos todos apoiando, quase que de maneira inconteste, que o tal fujão tinha muito a fazer pelo Rubro-negro. Portanto, também somos responsáveis.

Podemos listar culpados pela derrota vexatória, sim. Desde o jovem Tiago Cardoso, por ter tomado um peru, ao Dagoberto, que fez muito menos do que se espera dele, ao bom Alan Bahia, que perdeu pênalti no jogo em Campo Mourão, passando, certamente por Vinícius Eutrópio, cuja falta de tarimba ficou exposta. Podemos culpar àqueles que atrapalharam a vida do Matthaüs, o fotógrafo que deu um soco nele, à saliente repórter da RPC que virou tema de disse-me-disse, aos jornalistas sem limites que se excederam na cobertura, ao Jost Vieth, o tradutor-auxiliar-técnico-boquirroto. E, lógico, o maior culpado de todos, Lothar Matthaüs.

Se foi apenas banzo o motivo de sua fuga, fica exposta dessa forma a fraqueza de sua figura. Capitão da Alemanha, homem forte, de primeiro mundo, pragmático e decidido, cheio de métodos e discurso de "comprometimento acima de tudo", "é preciso orgulho dessa camisa", mostrou que é débil em suas posições. Critica-se muito o comportamento de jogadores brasileiros que chegam ao exterior e não permanecem, por causa do frio, da falta do arroz-e-feijão, falta da família, do samba. Na maioria das vezes jovens e sem instrução, espalham-se pelo mundo e muitos deles conseguem superar tudo e ter sucesso. Matthaüs mostrou que essa fraqueza não é brasileira, é muito mais européia.

O time precisou de Matthaüs e ele não estava lá. Estavam os de sempre, Mário Celso Petraglia e a fanática torcida atleticana. Mário Celso escalou time, deu pito no Eutrópio, fez de tudo, até dar a cara para bater sozinho após o fatídico jogo. Eu me solidarizo com o presidente. Dou a cara para bater por ter apoiado em gênero, número e grau a contratação do alemão fujão, que deixou um time sozinho num momento decisivo. A responsabilidade também é minha, e não há pretensão nenhuma nisso, muito pelo contrário. Sou apenas mais um atleticano que, junto a mais de milhão faz deste clube o que ele é. Somos todos responsáveis, mas nunca, jamais culpados.

Novo Técnico

Chega. Assunto superado. Remoer fracassos é adiar o sucesso. Que se traga um bom nome para treinar o bom time do Atlético. Gosto do nome do Givanildo de Oliveira, nome que pode ser barrado pelo preconceito sulista. Um treinador que tem dezoito títulos, dois deles do difícil Campeonato Brasileiro da Série B deve ser considerado. E, na árida seara técnica nacional, seu nome é uma bela opção. Outro, para quem quer ganhar a Copa do Brasil, pode ser Tite, que já venceu a competição. Seja quem for, tem que chegar logo, vestir o boné e trabalhar duro para resgatar o orgulho ferido de todos nós. Esta semana, temos que buscar a freqüência positiva em nossos pensamentos para conseguirmos a vitória contra o Volta Redonda. Sei que é difícil, mas, parafraseando Euclides da Cunha, o atleticano é antes de tudo um forte.


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