Juliano Ribas

Juliano Ribas de Oliveira, 51 anos, é publicitário e Sócio Furacão. Foi colunista da Furacao.com entre 2004 e 2007 e depois entre março e junho de 2009.

 

 

Perfumaria

13/03/2006


Não adianta culpar um técnico que não é técnico. Vinícius Eutrópio não tem estofo para dirigir o Atlético, nem em uma partida que seja. No dia-a-dia do Rubro-Negro, deve até prestar bons serviços, auxiliar o trabalho de alguém é sua missiva. Nem sempre alguém que recebe comandos terá competência para mandar. Para falar a verdade, na maioria das vezes, quem nasce para seguir, sempre seguirá.

Quando Matthäus assumiu, todos sabíamos que isto poderia acontecer, uma viagem no meio da temporada era prevista, não sabe-se bem para quê. Mas quando ela acontece, percebemos duas coisas: a primeira é que um trabalho não pode ser feito assim, com janelas, hiatos, a continuidade é premissa para se atingir os resultados e Matthäus deverá arrumar uma outra maneira de resolver suas pendengas na Europa ou em qualquer lugar do mundo, ou que pelo menos seja mais rápido. A segunda é que realmente o Lothar é um grande treinador. O Atlético não pode prescindir do alemão e as dúvidas que se tinham a respeito do seu trabalho e da propalada "pouca experiência" foram desaparecendo a cada vitória e nesta inesperada derrota. Os jogadores e toda a "entourage" que acompanha cada compromisso atleticano sentiram falta da sua presença significativa e de seu conhecimento indubitável sobre tática, motivação e sobre o esporte como um todo.

Sua chegada prevista para hoje é extremamente aguardada. Sua saída temporária trouxe a todos sentimentos de ansiedade e preocupação. Os jogadores devem estar carentes de sua presença. A torcida está sequiosa, passou a semana levantando todo o tipo de dúvida sobre o paradeiro de Matthäus, incentivada por uma mídia esportiva e até não-esportiva que tem alguns profissionais delirantes. Até uma crise conjugal foi especulada para explicar a viagem à Europa. Desde que ele chegou é Matthäus isso, Matthäus aquilo. Sua ausência cria uma espécie de abandono, em todos os setores, internos e externos. Uma figura como a do alemão não se dilui à naturalidade cotidiana com facilidade. Ainda mais em um lugar marcado pelo provincianismo. Lothar desperta nos curitibanos uma enorme curiosidade, sua presença na cidade, pelo significado e pelo exotismo, cria um barulho que é prejudicial numa atividade onde a tranqüilidade no dia-a-dia é mais que fundamental, é vital.

Para que essa tranqüilidade que possibilitará ao Atlético buscar seus objetivos seja atingida, é necessário que não sejam criados mais motivos para especulações, boatos e coisas que tumultuem a vida do favorito ao título do Campeonato Paranaense. Viagens, brigas, xingamentos, socos, fotos, samba, factóides e todo o tipo de coisa que existe na vida de celebridades seja dispensável no CT do Caju. Lá não é a ilha de Caras, é um local de trabalho. Que daqui para frente o Lothar sossegue o facho, e aqueles que perseguem seus passos também. A diretoria não foi simplesmente autoritária quando impôs restrições à imprensa, aquilo foi conseqüência de algo que vinha se tornando insuportável.

Que nesta volta à rotina, Matthäus zere o odômetro e busque a tranqüilidade, que o frisson e o frenesi diminuam pelo bem do Atlético. O queremos trabalhando, sossegado, aplicando aquilo que sabe sem dar margens à especulação. Que ele apareça e diga de viva voz que não foi convidado para dirigir a Alemanha no Mundial, que está tudo bem em casa com a patroa e que agora só pensará no Atlético. É isso que trará benefícios ao time. Uma cabeça capacitada como a dele focada nos objetivos que um clube grande como o Atlético Paranaense tem obrigação de alcançar. O resto é perfumaria.


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