Juliano Ribas

Juliano Ribas de Oliveira, 51 anos, é publicitário e Sócio Furacão. Foi colunista da Furacao.com entre 2004 e 2007 e depois entre março e junho de 2009.

 

 

Dagoberto e a realidade

23/02/2006


Troquei pouco tempo atrás uma prosa eletrônica com o Naor Malaquias, da Massa Sports. Solícito e educado em suas mensagens, garantiu taxativamente a este escriba: "fique tranqüilo, o Dago é do Atlético". Partindo disso e, sem ser ingênuo de acreditar em qualquer coisa que a mim é dita, tenho a impressão que a renovação de contrato do mais talentoso e promissor jogador em atividade no Brasil é bem menos preocupante do que a torcida atleticana imagina.

Não foi propriamente o que disse o Naor que me deixou tranqüilo, mas tudo aquilo que traz no vácuo uma declaração dessa. O histórico de negociações do Atlético é que me deixa tranqüilo. Um clube que vendeu Lucas ao Rennes por impressionantes 14 milhões de dólares, Paulo Rink por 6 milhões ao Leverkusen, Kleberson por 8 milhões ao Manchester United, o clube mais rico do mundo, numa negociação clube-a-clube, mostrando a representatividade da diretoria internacionalmente, e outros jogadores, todos seguindo suas carreiras e vidas com contas bancárias pujantes, dá tranqüilidade aos atletas e respectivos empresários, representantes, ou procuradores. Sejam talentosos, sejam medianos, todos saem do Atlético com a vida feita, pelo menos encaminhada.

Acredito que a turma da Massa esteja tranqüila. Eles não estão negociando com amadores despreparados ou com uma súcia patranheira desprovida de ética como a que dirige o São Paulo Futebol Clube. É gente que defende os interesse do clube por tudo que fazem aos seus atletas e que sabe usar o bom nome do Clube Atlético Paranaense para lutar por bons contratos para eles, com lucro - o fim que justifica o futebol moderno - para todos. Empresas de marketing esportivo, por mais eficientes que sejam, sempre vão precisar de instituições sérias como o Atlético, como folha de face para o lucro que precisam. Sem hipocrisia, querer ganhar dinheiro não é pecado, só depende da forma que se busca o vil metal.

O que se passa é só uma difícil negociação salarial. O Dago usou essas partidas que jogou recentemente para mostrar que está recuperado e ter moeda de troca numa negociação salarial. E como toda negociação, o proponente pede alto, até algo irreal, para a outra parte fazer uma contra proposta e a negociação vai se desenrolando duramente, como num mercado de mascates de Istambul, até o denominador comum e justo seja alcançado. Usa-se todo o tipo de argumento, como o Fleury indo aos jornais, a Massa expondo sua parte, mas o que se busca é o acerto, pois ninguém quer perder, todos buscam o melhor dos mundos.

O melhor dos mundos para o Dagoberto, é, sem dúvida, o Atlético. Para ele está fácil brilhar no Atlético e todos sabem disso, inclusive seus procuradores. O Atlético é o único time do Brasil onde ele pode brilhar quase sozinho, o Atlético tem outros bons jogadores, claro, mas ele é amado pela torcida e não terá medalhões para dividir as atenções. Ele ainda não tem nome feito na Europa, para que ele possa buscar um contrato como o do Robinho, o qual considero inferior a Dago, mas explodiu no Santos e deu a aquele clube dois títulos nacionais. Dago está sendo valorizado pelo Atlético, mas tem que ter em mente que a verdadeira valorização ainda está por vir. Que ele não se compare a Grafite, um jogador muito inferior a ele, comum, vulgar, que merece um São Paulo ou Le Mans da França no máximo. Dagoberto está sendo, sim, valorizado, mas esta valorização não ocorrerá em detrimento do Atlético ou correrá afastada da realidade.

Dagoberto ficou afastado da relva futebolística e o Atlético perdeu muito com isso. O rapaz também muito sofreu. O Atlético só busca algum tipo de compensação. Já o Dagoberto parece estar ansioso para recuperar o tempo perdido. Mas não é colocando a carroça na frente dos zebus que ele conseguirá realizar seus sonhos. Um jogador com o talento fulgurante que tem não precisa deste sentido de urgência em sua vida. Respeitando aqueles que são fundamentais em sua história e que o formaram, todos eles, desde pai, mãe, o treinador da base, o dentista do clube, o funcionário que limpa suas chuteiras, todos que participaram e participam de sua vida, até o presidente Petraglia, este jovem terá muito na vida, na hora certa. Respeitando àqueles que o aplaudem hoje, conseguirá o brilho que tanto persegue e sabe que tem direito.

A hora do Dagoberto é agora e o lugar é o Atlético Paranaense. Talvez ele não tenha se dado conta ainda do efeito Lothar Matthaüs, mas a visibilidade que ele terá mundialmente será muito maior que em um time dirigido por um técnico comum como Leão, Muricy ou Antônio Lopes. Lothar conversa tete-a-tete com figuras do naipe de Franz Beckembauer, é uma sumidade, sacrossanto na Alemanha, admirado mundo afora. Se o Dagoberto brilhar como todos querem, o dinheiro, a fama, a realização virá. Mas este contrato, neste momento, não pode passar do nível do real, entrar no terreno da fantasia. Aprendi que a gente deve fazer primeiro, para depois cobrar. Existe um número razoável, uma cifra justa, que aguarda ser em breve atingida. Para o bem de todos, que isso não demore e esta história que mexe com a massa atleticana saia das notícias turvas nos jornais, para estampar manchetes de glória e conquista.


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