Rogério Andrade

Rogério Andrade, 52 anos, é administrador. Atleticano de "berço", considera a inauguração da Arena da Baixada como o momento mais marcante do Atlético, ao ver um sonho acalentado por tantos anos tornar-se realidade.

 

 

Ironia do destino

17/02/2006


Eles um dia puderam “rir” das nossas caras, mas sorriram antes demais, e quem “ri” por último, ri melhor. Eles um dia estufaram o peito e disseram ter o melhor estádio do Paraná, mas o destino colocou Mario Celso Petraglia à frente de todos os pesadelos alvi-verdes, e fez nascer a Arena da Baixada. Eles um dia desfilaram um título brasileiro da primeira divisão. Desfilaram tanto que acabaram “vazando” da avenida e perderam-se nos mais escuros caminhos. Nunca mais ganharam um título nacional, e se dizem campeões “primeiro”. E o primeiro se tornou o último.

Capricharam em achar tanta graça quando beiramos o caos da segunda divisão, quando nos enfiaram cinco gols em domingo de páscoa, que acabaram em queda livre, despencando direto ao grupo secundário do futebol brasileiro. Um dia sentiram tanta inveja do nosso estádio, que se acharam no direito de quebrar instalações e inúmeras cadeiras, mas quando olharam para sua própria casa, puderam perceber que mesmo nos lugares cobertos, a água teimava em escorrer pelas paredes, apodrecendo os tijolos úmidos pela urina de seus próprios moradores.

Um dia, sem ao menos pedirmos, nos negaram seu campo de futebol para podermos disputar o título mais importante do nosso estado, título que somente nós tivemos o privilégio de disputar. Não, não jogamos, nem no estádio deles, nem em nosso estado. E hoje eles lustram o que dizem ser “monumental” para receber grandes clubes como o Ceará, Guarani, Remo, Vila Nova, Gama, América, entre outros.

Zombaram tanto dos nossos diretores marketeiros, que tiveram a eleição mais vergonhosa de toda a história do futebol do Paraná, com direito a verbetes feios entre os próprios irmãos. Estufaram o peito, iludidos por uma suposta quitação de dívidas, que estão até o pescoço com processos trabalhistas, dívidas com o INSS, estando inclusive ameaçados de perder o centro de treinamentos, provavelmente penhorado muito em breve.

E agora a maior de todas. Um dia, há pouquíssimo tempo, levantaram nas cadeiras da Baixada, e quando Dagoberto estava estirado no gramado e a Arena em silêncio, apenas as vozes verdes eram ouvidas: “bichado, bichado, bichado”. Confesso que senti ódio, e assim como o craque Dagoberto, senti dor, mas esperei o mundo dar voltas. Logo veio a segunda divisão, lágrimas que molharam um país inteiro, e nesta semana, o castigo final. A promessa, o jovem talento, a única esperança de um time que está pra lá de desesperado, sofre uma lesão. Onde? No joelho. Diagnóstico? Ruptura de ligamento cruzado. Solução? Fisioterapia e cirurgia sem data marcada. Retorno aos gramados? Aproximadamente oito meses, ou seja, futebol para o menino, apenas em 2007, podendo o irônico destino dar ao jogador Keirrison a artilharia isolada da terceira divisão.

Não sei se é ironia mesmo, ou castigo. Não sou adepto ao humor negro, mas lamento pelo jovem talento (será mesmo?) estar no lugar errado, na hora errada e “estragar” seu joelho ao se doar tanto em um campeonato tão pobre como o paranaense. Mas paciência, pois para eles, é o que resta. Azar do menino, que não tem culpa, mas que faz a própria torcida sofrer uma espécie de “bronco-aspiração”, asfixiando-se com a tal da palavra “bichado”.

É meus amigos, o destino, por muitas vezes, pode nos causar situações surpreendentes. Portanto, a eles, somente o meu olhar matreiro, um sorrisinho de canto de boca, querendo gargalhar. E quando vejo a tabela da segunda divisão, meu coração explode em alegria.


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