Sergio Surugi

Sergio Surugi de Siqueira, 66 anos, é Atleticano desde que nasceu. Neto de um dos fundadores, filho de um ex-presidente do Atlético, pai e avô de Atleticanos apaixonados, é doutor em Fisiologia e professor. Foi colunista da Furacao.com entre 2005 e 2009.

 

 

Deixem o Matthäus em paz

13/02/2006


Já estou sentindo uma certa antipatia da imprensa para com o treinador Lothar Matthäus.

Nos jornais e nas rádios, volta e meia saem notinhas cutucando o comportamento do nosso técnico, principalmente em relação ao seu modo de trabalhar com os profissionais de imprensa. Interessante a falta de percepção desta gente, desacostumada a deixar o jeitinho de lado e (supremo vício brazuca) que acha que o interesse individual sempre se sobrepõe ao interesse coletivo.

Matthäus tem dificuldade com o idioma português e conseqüentemente tende a evitar entrevistas longas. Alguns poderão argumentar que o intérprete existe para resolver esse tipo de problema, mas quem já trabalhou com intérprete sabe muito bem que uma conversa pública que depende de um intermediário jamais pode ser comparada a uma troca de informações direta, entre duas ou mais pessoas. Primeiro existe a própria insegurança de quem faz uma declaração ou responde um questionamento, através da boca de outrem e depois também deve ser considerado o fato de que algumas expressões em um idioma simplesmente não podem ser traduzidas com fidelidade para outro. Deste modo, é normal que Matthäus tenha adquirido um certo desconforto ao participar de entrevistas.

Além disso, ele, no pouco tempo que está no Atlético, já deu mostras que cultiva o gosto e a prática da disciplina (que tanto incomoda ao tupiniquim típico) e que por isso não está disposto a transigir naquilo que foi combinado. Uma pergunta por repórter é pouco? Acho que não. Quem ouve as (chatérrimas) entrevistas coletivas de outros treinadores mais “simpáticos e tolerantes”, já está careca de saber que os repórteres repetem consistentemente uma mesma questão, sobre um mesmo tema, muitas vezes com o único objetivo de mostrar serviço. Este, efetivamente, não é o propósito de uma entrevista coletiva.

Outro dia escrevi na minha coluna que os jogadores deveriam aproveitar a oportunidade de, seguindo o que prega Matthäus, misturar o talento com a disciplina e o profissionalismo. Pelo menos um deles parece que não se interessou pela (nova e insistente) chance de transformar-se em atleta profissional e já dançou. Aliás, trata-se de um jogador que aparentemente tem no comportamento do Romário o seu guia, esquecendo, porém, de imitar também o futebol do baixinho. Quem sabe no dia que conseguir, ele poderá chegar nos treinos na hora que bem entender. Desde que Matthäus não seja o treinador, “of course”.

Enfim, parece que estaremos prestes a contemplar um mini conflito de civilizações. A nossa, acostumada com o acoxambramento impune e a do Matthäus, que acredita que sem esforço, respeito e sacrifício não se chega a bons (e principalmente consistentes) resultados.

Continuo apelando para que os adeptos da alegria-alegria sejam um pouco mais tolerantes com o comportamento daqueles que agem com profissionalismo, seguindo as regras claras e pré-estabelecidas como elas devem ser seguidas. Com respeito e sem concessões injustificadas.

Se acharem que não conseguem, que pelo menos parem de achar que o mundo gira ao redor de seus rotundos (e profundos) umbigos e deixem o Matthäus ser alemão em paz.

O Atlético e os atleticanos agradecem.


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