Silvio Rauth Filho

Silvio Rauth Filho, 50 anos, descobriu sua paixão pelo Atlético em um dia de 1983, quando assistiu, com mais 65 mil pessoas ao seu lado, ao massacre de um certo time que tinha um tal de Zico. Deste então, seu amor vem crescendo. Exerce a profissão de jornalista desde 1995 e, desde 1996, trabalha no Jornal do Estado. Foi colunista da Furacao.com entre 2004 e 2009.

 

 

Futebol primata, capitalismo selvagem

10/02/2006


A polêmica sobre o contrato de Dagoberto e a Massa Sports mostrou algo curioso. Mesmo em 2006, ainda há pessoas que não perceberam que o futebol é mais uma indústria no mercado capitalista. Alguns ainda pensam que estamos nos tempos românticos, em que os craques jogavam por prazer, os dirigentes tiravam dinheiro do bolso para pagar os salários e o marketing era uma palavra desconhecida, sem espaço no Aurélio.

Realmente tudo era muito mais divertido naqueles tempos. Mas, infelizmente, o mundo mudou. E o futebol também. Agora, quase tudo pode ser comprado e quantificado em dinheiro. O valor do jogador é determinado por seu salário e sua multa rescisória. Os clubes são medidos pelo patrimônio. As torcidas são mensuradas em patéticas pesquisas quantativas. Pelo menos, é assim que o mercado da bola analisa e transforma o futebol.

No Brasil, a situação ficou ainda mais grave quando a Lei Pelé passou a valer. Os clubes perderam poder e viraram meros trampolins para a Europa. Os agentes e empresários se tornaram reis. Não que a Lei do Passe fosse adequada e justa, afinal aprisionava alguns jogadores e criava situações bizarras. Mas, fica óbvio que as duas regras são exageradas e que o ideal reside em algo entre esses dois extremos.

Entretanto, enquanto durar esse caos proporcionado pela Lei Pelé, veremos centenas de casos como o de Dagoberto. Na verdade, a Massa Sports e o jogador não estão errados. Eles só fazem aquilo que a lei permite. Ou seja, lucrar ao máximo em cima do clube usando a paixão do torcedor. E todos, absolutamente todos os profissionais fazem isso. A afinidade com o clube ou com a torcida até pode facilitar uma negociação, mas jamais vai reduzir consideravelmente os milhões que eles “precisam” lucrar. O capitalismo sempre funcionou assim. E, pelo jeito, não vai mudar.

“O escravo tem apenas um dono; o ambicioso tem tantos donos quantos sejam os homens úteis à sua fortuna”, Jean de La Bruyère.


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