Rogério Andrade

Rogério Andrade, 52 anos, é administrador. Atleticano de "berço", considera a inauguração da Arena da Baixada como o momento mais marcante do Atlético, ao ver um sonho acalentado por tantos anos tornar-se realidade.

 

 

Campeonato paranaense, quando tinha valor

07/02/2006


O Atlético cresceu tanto, mas tanto, que passou a perceber o campeonato estadual com outros olhos. Não olhos de desmerecimento, mas também impulsionado pelo grande fracasso financeiro que o torneio regional causa ao clube. Não há mais interesse, e a paixão da torcida, eterna e evidente, ainda mantém aceso o pouco de expectativas que temos em relação a este campeonato que, anos atrás, era motivo de muita festa e muitas alegrias.

Quem não se lembra dos incontestáveis títulos de 1982 e 1983, trazendo o bicampeonato ao melhor time do estado e deixando a nação atleticana mais do que orgulhosa? Quem não se lembra da festa na velha Baixada em 1985, quando o Atlético, em tarde muito especial e inesquecível, triturou o Tubarão e com três gols conquistou novamente o título estadual? E o título de 1990, então? Caramba, um jogo que parecia perdido, com o estádio do Coritiba lotado (normalmente lotava quando o Atlético jogava), num dos jogos mais tensos que já assisti quando relembro os jogos de torneios estaduais. Mesmo perdendo o jogo, a torcida do Atlético fez tanto barulho que o zagueiro do time adversário já nem sabia mais para onde tirava a bola. Em cabeçada de mestre, jogou contra o seu próprio patrimônio e fez explodir o coração atleticano. Ah, que alegria!

Sim, “eles” sempre nos faziam sorrir! Por isso digo que os campeonatos estaduais, há algum tempo atrás, ainda tinham valor. Era o “máximo” ganhar dos coxas. Quando não ganhávamos por conta própria, eles davam um jeitinho de nos alegrar. Mesmo na casa dos verdes, ou mesmo no Pinheirão, ou em qualquer lugar e espaço, o que mais importava sempre era ver o Atlético. Foi bom demais ver o Manguinha fazer o gol do título no Pinheirão, contra o Pinheiros, mas foi sofrido demais ver o Carlinhos deixar o título escapar no jogo anterior, quando errou um pênalti no final da partida. Ah, a gente sofria, mas como a gente sorria!

Este são apenas alguns dos títulos que tive a oportunidade de assistir, bem de perto, ao lado de milhares de atleticanos, de bandeiras estendidas e ao som de muita, mas muita festa! São marcas que ficarão para sempre em nossas memórias, como grandes recordações. Era um tempo em que tudo, ou quase tudo o que tínhamos, era o bom campeonato paranaense. O Atlético traçava o seu planejamento do ano com base no torneio estadual. Era preciso caprichar neste primeiro passo, para aí sim, tentar um “lugarzinho” no meio dos grandes do futebol nacional.

E lá se foi este tempo. Lá se foi a importância dos torneios regionais, mas ficaram as conquistas. Talvez as grandes responsáveis, ao lado da imensa torcida do Atlético, por fazer parte da magnitude que o Atlético é hoje. Para aqueles que não viram, não tenham dúvidas, o Atlético hoje é imenso, muito maior, mas nunca foi pequeno, nunca deixou de ser grande, graças às conquistas, sempre suadas e sempre muito comemoradas, e graças a sua brilhante e apaixonada torcida.

Talvez a nova geração não tenha nem idéia do que o Rubro-negro foi um dia, e quando entra na Kyocera Arena, nem imagina o que aquele estádio significa para todos nós. Neste momento, com tudo o que o Atlético provou e comprovou diante “daqueles” que eram os grandes do futebol brasileiro e, principalmente, depois de mostrar a sua cara e a sua força para todo o continente, os vôos sempre mais ousados talvez sempre se façam necessários. O que temos hoje em dia, aqui em nosso estado, tornou-se pouco, muito pouco para nós que não paramos de crescer.

Eis a distância que faz o Atlético estar infinitamente a frente dos adversários do estado. Não há mais comparação, não há nem mais maneiras de se comparar. Nosso ímpeto e nossa vontade foram tão bem alimentados, que começamos a voar, voar, voar. Já estamos muito longe, e para que nos alcancem, só uma reconstrução ou o nascimento de um novo clube com pelo menos o mínimo de condições para nos confrontar. Essa é a verdade sobre o campeonato paranaense, o resto é papo furado.


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