Bruno Rolim

Bruno Rolim, 42 anos, é bacharel de Turismo e jornalista. Filho de coxas, é a ovelha rubro-negra da família. Descobriu-se atleticano na final do Paranaense 90, com o gol do Berg. Foi colunista da Furacao.com entre 2002 e 2007.

 

 

E é apenas o início: de Curitiba para o mundo!

16/01/2006


Comecei a acompanhar futebol em 1990 com uma maior intensidade. Ano em que o Atlético conquistou, de forma brilhante, o Campeonato Paranaense sobre o rival Coritiba, em um jogo inesquecível. Ano em que o Atlético conquistou o acesso à Primeira Divisão nacional, logo após ser rebaixado em 1989. Ano de uma Copa do Mundo na qual o Brasil de Lazaroni acabou sendo eliminado nas oitavas-de-final. Ano no qual a seleção da Alemanha (ainda como Alemanha Ocidental) sagrou-se tricampeã mundial, capitaneada por um jogador que marcou história em seu país: Lothar Matthäus.

Matthäus, que já havia defendido a Alemanha nas Copas de 1982 e 1986, ainda participou das duas copas seguintes, em 1994 e 1998, totalizando 25 jogos em 5 Copas do Mundo - recordes ainda não superados na história da mais importante competição do planeta. Curiosamente, um dos primeiros ídolos que tive no futebol, integrante de uma esquadra histórica da Internazionale de Milão, juntamente com seu compatriota Jürgen Klinsmann. Bola de Ouro da revista France Football em 1990, e eleito o Melhor Jogador do Mundo pela FIFA no ano seguinte. Um nome que conquistou um respeito enorme entre quem conhece futebol.

Avançamos quinze anos na história, e acabamos em Curitiba, cidade de porte grande da América do Sul. O Atlético Paranaense, após um 2005 muito bom, marcado pela decisão da Copa Libertadores e por uma boa campanha no Campeonato Brasileiro, estava buscando um treinador. Mas as opções disponíveis no mercado nacional eram poucas, e as opções de qualidade pediam quantias completamente fora da realidade brasileira para aceitarem o cargo de treinador no clube. Diversos nomes ventilados: o ex-técnico do Internacional, Muricy Ramalho, assinou com o São Paulo; os outros nomes não estavam à altura do Atlético. Até que uma visita a Curitiba acabou por marcar uma bomba no mercado nacional: o alemão citado no parágrafo anterior aceitou o convite do Atlético, e tornou-se o novo treinador do clube.

É, sem dúvida, um marco na história do futebol nacional. Nunca um nome tão conhecido no mundo havia sido trazido para o futebol brasileiro para treinar um clube local. O Atlético, tido como um clube médio na grande mídia, ocupou páginas inteiras e capas de cadernos esportivos pelo mundo inteiro. Uma das perguntas que ecoou da Itália até a Índia foi "quem é o Atlético Paranaense?". Da noite para o dia, algumas equipes de reportagem do Brasil e do mundo estavam em Curitiba, para cobrir e obter mais informações sobre este clube, que é o símbolo do que se chama de "nova geração de clubes brasileiros", preocupados em evoluir suas estruturas, não pensando apenas na tradição. Se a intenção da contratação de Matthäus foi gerar barulho, obteve-se um êxito retumbante. O Atlético era a bola da vez nos noticiários brasileiros, e se destacava nos veículos mundiais.

Obviamente, a repercussão entre os rivais do Atlético oscilou entre o desdém e a inveja. "Não vai dar certo, ele não sabe falar português", "Será o novo Passarella", "Ele nunca fez nada como treinador", "Não vai durar dois meses no clube", foram algumas das frases proferidas por aqueles que, no fundo, gostariam de um nome como esses dentro do clube. A seguir, farei uma pequena análise sobre o que penso desta contratação.

É um golpe de marketing? Sim, óbvio que é. Mas o brasileiro tem a mania de pensar tudo em curto prazo, visando apenas o ano corrente. Eu não enxergo a contratação de Matthäus como uma ação de curto prazo, estou pensando no futuro do Atlético. Foi um negócio muito bom para todos os lados: para Matthäus, é a chance de aprender sobre um estilo de futebol distinto daquele praticado na Alemanha e no continente europeu. Ele nunca escondeu que sonha em treinar a seleção de seu país, e seria um diferencial o conhecimento do futebol sul-americano. Para o Atlético, é uma chance nunca antes tida: um dos maiores nomes do futebol mundial levando o nome do Atlético para o mundo inteiro. Declarações positivas que somente têm a valorizar a marca do clube - que é um dos patrimônios mais valiosos dentro da realidade atual do futebol mundial. Pode-se falar que o foco das notícias era Matthäus, e não o Atlético - e isto não está incorreto. Mas, nos meios de comunicação, o que importa não é ser o foco da notícia, mas estar nele. E o Atlético está conseguindo, com louvor, este papel.

O Atlético tem sido pioneiro em muitos campos dentro do futebol nacional: o primeiro clube a investir pesadamente na construção de uma arena multi-eventos, nos moldes europeus; o primeiro clube a perceber o valor da estrutura na formação de jogadores; o primeiro clube a investir mais pesadamente em ações de marketing visando melhorar a imagem institucional (ainda que o marketing atleticano seja incipiente, se comparado aos clubes europeus, está muito à frente de seus colegas brasileiros); o primeiro clube a perceber que o futebol nacional não está em condições de brigar com o futebol europeu, investindo na formação de jogadores. E agora, o primeiro clube a investir na vinda de um técnico com o renome de Matthäus. Os outros clubes falam que é loucura - enfim, o Atlético Paranaense é um clube acostumado a loucuras. Somos pioneiros, e temos orgulho disso.

Sobre os impactos positivos em longo prazo, ainda pouco explorados dentro da cobertura da imprensa: o Atlético é tido como um clube médio dentro do futebol nacional. Recebe cotas de televisão muito inferiores às equipes de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Os seus contratos de patrocínio ainda possuem valores pequenos, se comparados a clubes como Cruzeiro, Grêmio, Internacional ou Fluminense. Percebam que não estou sequer cogitando comparar com São Paulo, Flamengo e Corinthians - os três clubes com maiores valores recebidos por patrocínio, pois são os clubes mais expostos pela mídia, podendo assim cobrar maiores valores.

O que pretende o Atlético - ao menos esta é uma concepção que desenvolvi - é valorizar sua marca, agregar valor ao produto Atlético Paranaense, e todos os seus subprodutos: a Arena da Baixada (devidamente valorizada com o acordo de naming rights com a multinacional Kyocera), o CT do Caju, suas escolinhas espalhadas pelo Brasil (e na China), e a própria camisa rubro-negra. Pensando num passado recente, é nítida a valorização da marca Atlético Paranaense nos últimos dez anos: o clube hoje disputa títulos, possui um estádio considerado o mais moderno do país, um dos melhores Centros de Treinamento do continente, além de revelar inúmeros jogadores, sendo conhecido como um clube formador. Com uma escolinha na China, e convênios com norte-americanos e coreanos, o Atlético conseguiu levar seu nome para estes países, que têm no clube um exemplo de organização dentro do futebol brasileiro - o que é interessante, visto que são dois dos mercados mais promissores para a expansão dos clubes - os maiores clubes da Europa possuem ações de comunicação avançadas nos países da Ásia, e é esta a intenção do Atlético.

Com a vinda de um nome do quilate de Matthäus - cujo prestígio o concedeu a honra de ser um dos nomes a sortear os grupos da Copa do Mundo de 2006 - a tendência é a exposição dos produtos ligados ao Atlético Paranaense crescer, possibilitando-se assim um incremento nas verbas de patrocínio ao clube. É uma das maneiras mais interessantes de se atingir um estágio de crescimento sustentado dentro do mercado mundial do futebol, se alinhar com o que há de mais moderno dentro das ações de marketing e relações públicas. E com este crescimento, muitas portas se abrirão para o Atlético, dentro do Brasil e dentro do mundo.

Quantos treinadores não sonharão em ocupar a vaga de Matthäus no Atlético? Quantos jogadores não desejarão vir ao clube, que está sendo divulgado como um exemplo de organização e estrutura? Quantas pessoas não gostarão de conhecer mais sobre este clube, visitar a Arena (especialmente após a conclusão do estádio, prevista para 2007), o Centro de Treinamentos? Quantas crianças não escolherão torcer para o Atlético, após a intensa cobertura que o clube irá receber? Quantas pessoas não gostarão de comprar produtos relacionados ao Atlético Paranaense - e não estou falando apenas em âmbito nacional, mas pensando em vôos mais altos. Hoje, o Atlético está sendo comentado por conta da contratação de Matthäus. E esta exposição terá frutos colhidos muito futuramente.

Pensando em longo prazo: com o provável incremento nas receitas de patrocínio e possível incremento nas cotas de televisão (visto a maior exposição na mídia que o clube receberá, embora este fator ainda esteja dependente da boa vontade dos dirigentes dos clubes grandes nacionais e da sua mentalidade retrógrada), o Atlético Paranaense terá maior condição de sustentar um elenco mais qualificado, podendo brigar de igual para igual com clubes de maior porte, assim possibilitando a conquista de novos títulos, e uma exposição maior ainda.

Ainda é um sonho. Não, não chamaria de sonho, chamaria de projeto. É um projeto que se iniciou há 10 anos. E não tem previsão de acabar. Estamos crescendo, e temos ainda muito o que crescer.

Hoje o torcedor atleticano sorri. No futuro, terá muito mais motivos. Eu confio. Eu acredito.

E que venha Lothar Matthäus, e com ele uma nova página na história do Clube Atlético Paranaense!


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