Juliano Ribas

Juliano Ribas de Oliveira, 51 anos, é publicitário e Sócio Furacão. Foi colunista da Furacao.com entre 2004 e 2007 e depois entre março e junho de 2009.

 

 

Professor Mateus

11/01/2006


Lothar Matthaüs... O que dizer disso, hein? Agora que está confirmado que a gente se dá conta da envergadura da tacada rubro-negra. Lótar Mateus, diriam uns. Lótar Matáus, diriam outros. Lótar Matias, Lutor Mateus, Lex Luthor... Está valendo tudo. Vale enrolar a língua e se meter a balbuciar, ou pior, tentar ler o idioma germânico com suas quilométricas palavras cheias de consoantes e tremas. A imprensa mundial, até em Andorra, Haiti ou no Turcomenistão confirma o novo técnico do Atlético: Lothar Matthaüs. Ou, simplesmente, Professor Mateus.

Extraordinariamente brilhante em termos de divulgação e marketing, espetacular, fenomenal. Até a beleza da Marijana, a esposa do Professor Mateus, ajuda a fazer a moral do Atlético Paranaense pelo Brasil e pelo mundo. Lothar Matthaüs faz parte de uma estirpe de craques do naipe de Cruyff, Maradona, Van Basten, Zico, Falcão, Beckenbauer, Breitner, Bobby Moore, Baresi, Baggio, Platini e outros poucos, que levaram seleções ou clubes à glórias e conquistas como protagonistas. Melhor jogador do mundo em 1990 e 1991, é daqueles caras que a gente lembra de ter visto até na figurinha do chiclé Ping Pong da Copa. Uma celebridade da bola que agora está aqui, e será visto com mais freqüência na Água Verde, Umbará ou num bairro tipo Ecoville ou coisa que o valha. Que tal bater um churrasco na Napolitana da Arena e na mesa ao lado está o Lótar, aproveitando a insana e bem brasileira fartura gastronômica de um rodízio, coisa incomum na Europa? "Um picanha, porr favorr!", diz ele, lambendo os beiços, "Um Bohemia, bem gelado, amigon!", pede o Lótar sem negar a tradicional arte germânica de beber uma loira.

Algumas coisas trouxeram o Mateus pra cá. A oportunidade de trabalhar no melhor futebol do mundo é uma delas. Conhecer a cultura e os costumes dos brasileiros. Mas no Brasil, o único clube que oferece condições de trabalho adequadas, como às que Mateus, um distinto, rico e lendário cidadão está acostumado, é o nosso Clube Atlético Paranaense. Este foi o fator fundamental. Ninguém imagina o Mateus num CT qualquer em uma Vila Zumbi. Ou tendo que se adequar às instalações de algum clube numa Barra Funda ou numa Itaquera de uma cidade como São Paulo. Ou pior, treinando uma equipe nas Laranjeiras, Xerém, Gávea, Barra. Modernidade, tecnologia, métodos avançados de fisiologia, só no Caju. Conforto, clima e espetáculo, só na Kyocera Arena. É nessas que a gente tem a percepção exata de como o investimento em estrutura - já criticado por alguns, porque em alguns anos tivemos que abrir mão de conquistas no futebol para fortalecer o patrimônio - é importante e decisivo. Como a cidade de Curitiba, que começou a receber mais investimentos estrangeiros depois que se preparou para isso. Receber a nata do futebol mundial nas Araucárias é só um reflexo. O Atlético, segundo João Havelange, o amumiado eterno papa da cartolagem mundial, é o único que possui estádio com categoria de Copa do Mundo no país. Provável sede de jogos em 2014, a Arena novamente receberá a elite do futebol mundial e será centro de atenções. Isso que vivenciamos agora, esta exposição, é só o começo. Vem muito mais por aí. Quem viver verá e vibrará.

Como técnico, pouco pode-se dizer sobre o Professor Mateus. Foi campeão nacional sérvio-montenegrino com o Partizan Belgrado, mas, até aí, nada que impressione ou o credencie como grande técnico. Sua experiência de cinco Copas do Mundo no futebol, junto ao conhecimento vivenciado do pragmatismo do "fussball" alemão é que falará mais alto. O respeito e a reverência com que o jovem elenco atleticano terá por sua imagem também será importante. O Atlético tem toda a estrutura técnica para que o trabalho de Mateus seja bem sucedido. No Atlético, o técnico vem para dar o "algo a mais", o diferencial, o resto é o clube que proporciona.

A cereja nesse bolo seria o Paulo Rink, herói de 1995, artilheiro das altas castas da história rubro-negra. Está lá fazendo gols mamão-com-açúcar no futebol cipriota (pra quem não sabe, na greco-turca ilha do Chipre), vivendo à beira-mar no paraíso. Mas seria bom que ele viesse reencontrar o companheiro de seleção alemã, servindo de ponte entre o elenco e o técnico. Mas eu gostaria, acho que não só eu, como grande parte da massa rubro-negra, que ele viesse compor o ataque, não ficar no lado de fora do gramado, afinal, ele só tem 33 anos, tem muito para oferecer e cairia como uma luva nesse time atleticano.

Bem vindo, Professor Mateus. Que como todo bom professor, além de ensinar, aprenda muito e transfira a mistura de seus conhecimentos para os campos, sejam de Rolândia, Irati, da Vila Capanema, São Luís do Maranhão (onde estreamos na Copa do Brasil), Rio, São Paulo ou seja lá onde o Furacão for, e principalmente, vença no sagrado gramado da Baixada. Em ano de Copa da Alemanha, o mundo está olhando também para cá. Que o mundo veja um Atlético vencedor.


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