Juarez Villela Filho

Juarez Lorena Villela Filho, 46 anos, é advogado, funcionário público estadual, dirigente de rugby e arruma tempo para acompanhar jogos do Atlético, isso desde 1987. Conhece 49 estádios Brasil afora onde foi ver de perto o Furacão. Sócio desde os tempos do Atlético Total em 1998 e na nova modalidade Sócio Furacão desde 2007.

 

 

Jarbas e a farmácia

09/01/2006


Ele era bem conhecido. Além da bela casa que tinha, era figura fácil nas festas da paróquia e dono da farmácia do bairro. Um estabelecimento não muito grande, mas um dos mais rentáveis da região. E seu Jarbas ia levando a vida, sem grande mudanças, mas os negócios iam bem, sem maiores preocupações.

Não costumava pagar muito aos funcionários, mas pagava em dia. E tinha um estagiário do curso de Farmácia que era, além de tudo, seu melhor vendedor. Um dia, não querendo dar o braço a torcer ao jovem funcionário que estava com a razão, gritou com ele, na frente de um cliente. Mesmo assim, o estudante, sabendo que estava certo, indagou-o novamente. Pra quê? Demissão, mesmo sem justa causa, na hora.

E o tempo passou. Não muito tempo depois, abria uma nova farmácia no bairro. O dono? Felipe, o jovem recém saído da faculdade que usou todas as suas economias, venda do que tinha e o dinheiro de empréstimos e mais empréstimos em bancos, para abrir seu negócio. Logo se viram as diferenças.

Seu Jarbas achava que medicamento genérico era mais uma baboseira que o Governo inventa para enganar o povo. Felipe investiu pesado neles e nos similares, logo angariando a clientela de baixa renda do seu ex-chefe. Perfumaria para seu Jarbas era supérfluo, pois quem vai à farmácia quer remédio. Uma ala inteira da nova farmácia era dedicada aos embelezadores, que faziam sucesso com as mulheres e também com os homens.

Depois de um tempo, Felipe ainda criou o clube de vantagens para as pessoas da terceira idade que adquirem medicamentos de uso contínuo. E seu Jarbas teimava em não acusar o golpe. Aos que diziam que a farmácia concorrente estava lhe tomando a clientela, afirmava que era fogo de palha, que logo seus bons e velhos clientes deixariam a novidade de lado e voltariam e lhe dar lucro. A farmácia de Felipe crescia, ficando aberta até meia noite e abrindo também aos domingos.

Passados anos, uma década talvez, seu Jarbas recebeu uma proposta para vender o ponto. Ficou de pensar, mas quando soube que o interessado era Felipe, refugou na hora. A proposta era boa, mas seria muita humilhação vender seu negócio, aquele do qual gostava de falar que entendia há quase três décadas, para um concorrente que havia sido seu funcionário. Não adiantava os amigos tentarem convencê-lo que os tempos mudaram, seu Jarbas se apegou com unhas e dentes a um passado que não volta mais.

Não demorou muito e teve que vender a farmácia para pagar dívidas com bancos e fornecedores. Por menos do que o jovem e empreendedor Felipe lhe oferecera anteriormente. Hoje, cada vez que passa em frente a nova filial do seu concorrente, justamente de onde tirou seu sustento por tantos e tantos anos, seu Jarbas quase chora, lamentando não ter tido uma visão de futuro melhor mais cedo. Há um passado, e que não volta mais.

ARREMATE

Qualquer semelhança entre esse pobre texto e a vida de clubes de nossa capital, não é mera coincidência!


Este artigo reflete as opiniões do autor, e não dos integrantes do site Furacao.com. O site não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso dessas informações.