Sergio Surugi

Sergio Surugi de Siqueira, 66 anos, é Atleticano desde que nasceu. Neto de um dos fundadores, filho de um ex-presidente do Atlético, pai e avô de Atleticanos apaixonados, é doutor em Fisiologia e professor. Foi colunista da Furacao.com entre 2005 e 2009.

 

 

To ninho or not To ninho

06/01/2006


Desculpem o trocadilho horroroso e pouco original no título deste artigo, mas com o tempo a gente aprende que irritar o leitor também é uma maneira de atrair a sua atenção. Para aqueles que morderam a isca, o meu agradecimento e vamos ao que interessa.

Começo de temporada e expectativa pelo nosso novo técnico, com o nome do mineiríssimo "Tuninho" Cerezo despontando para um importante veículo de comunicação da cidade como "poule de 10", apesar da possibilidade da vinda de Lothar Matthäus.

Sinceramente, já desisti de pré-analisar as contratações de técnicos do Atlético. Nos últimos tempos tenho adotado a postura cautelosa e oportunista do "vamos esperar para criticar depois". Dessa vez, mais do que opinar sobre o que eu acredito que o novo treinador possa fazer pelo Atlético em 2006, vou tentar mostrar o que eu penso sobre os atributos de um técnico para o começo de uma temporada.

O primeiro desafio do técnico "versão janeiro" é montar aquilo que o grande Geraldo Damasceno (Geraldino) chama de "O Grupo" e que doravante, nesse texto, será grafado com a inicial maiúscula. Trata-se de uma entidade que vai se formando aos poucos, quase de modo imperceptível e que com o tempo adquire não só vida autônoma, como (principalmente) poder sobre todo o resto. Para quem ainda está confuso sobre o que é este tal Grupo, vou dar um exemplo prático que envolve um dos melhores técnicos "versão janeiro" que eu conheço: Mario Sergio.

Este técnico, criador do Grupo 2001, tem uma habilidade ímpar para montar Grupos, colocando cada peça no devido lugar e motivando o espírito de união e de comunidade, imprescindíveis para um final vitorioso. O problema do Mário Sérgio é exatamente a sua falta de percepção do surgimento daquilo que ele mesmo criou e pior do que isso, a relutância em aceitar e de se subjugar ao poder do Grupo. O resultado a gente já conhece: com a deterioração do ambiente, ele é demitido, logo chega um outro qualquer que se encanta com o Grupo e com um mínimo de (ou nenhum) esforço, alcança resultados históricos. Agora, dizer que os técnicos pós - MSPP não têm nenhum mérito é injustiça. Eles conseguem entender e se curvar ao Grupo e isso é atributo de gente inteligente, perspicaz e experiente.

Claro que montar o tal Grupo, não é a única tarefa dos técnicos de começo de temporada. O Atlético tem apostado na contratação de jogadores jovens, muitos deles recém egressos das categorias de base. Tal política tem sido um sucesso, tanto no aspecto competitivo, como também na estratégia administrativa do Clube e por isso deve ser mantida e até aperfeiçoada. Contudo, quando se trabalha com jogadores novos, há que se preocupar com a consolidação dos fundamentos técnicos e táticos do futebol, portanto alguém que tenha a pretensão de treinar o Atlético Paranaense, deve entender a fundo da teoria e prática desse esporte, já que terá a responsabilidade de moldar jogadores que estão amadurecendo na carreira. Outra vez surge o exemplo de MSPP, que sabe muito de futebol.

Voltando ao quase-futuro Cerezo ou qualquer outro que vier a assumir o Rubro-Negro em 2006, modestamente, ofereço aí os palpites de quem tem assistido à ascensão e queda de alguns técnicos no eixo Kyocera Arena - CT do Caju.

Se a leitura do meu texto não for capaz de sensibilizar ao novo técnico, vai uma ultima dica: converse bastante com Borba Filho. Ele também entende de Grupo, de Atlético e de futebol.

Ah!...Acharam que eu não ia falar do Matthäus? Pois bem: como jogada de marketing, não tenho dúvidas, foi algo genial. Como instrumento de aumentar (ainda mais) a auto-estima dos Atleticanos, só pode ser comparado ao que fez Joffre, quando trouxe Belini, Djalminha, Dorval, etc. Analisar friamente as possibilidades de Matthäus vir a ser um bom treinador do Atlético é uma tarefa difícil. Apesar de entusiasmado com a possibilidade, não sei se ele está bem informado sobre o futebol brasileiro ou sobre o perfil do típico boleiro tupiniquim. Uma coisa é se encantar com a habilidade e criatividade do jogador brasileiro dentro de campo, outra é administrar e fazer aflorar estas qualidades.

De qualquer maneira, é um orgulho para qualquer jogador, de qualquer time, bater no peito e dizer que o seu treinador é alguém com a história de Lothar Matthäus. Se ele vier, espero que o plantel saiba aproveitar este presentão da dupla Petraglia-Fleury, que mais uma vez mostra que acertando ou errando, está pensando num Atlético grande. O maior de todos.

Na minha primeira coluna do ano, aproveito para desejar a todos os Atleticanos, um FELIZ E RUBRO-NEGRO 2006.


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