Jones Rossi

Jones Rossi, 46 anos, é repórter do Jornal da Tarde, em São Paulo, e um dos fundadores do blog De Primeira. Foi colunista da Furacao.com entre 2005 e 2008.

 

 

Até breve

16/12/2005


Diego sempre foi acusado de ser marqueteiro. Segundo alguns, aquele amor todo não poderia ser verdadeiro, era mais um estratagema para conquistar a torcida (e quem sabe melhores salários). Que ninguém se sinta ofendido, mas quem acredita nisso sofre de complexo de inferioridade. Acostumado aos anos duros da segunda divisão, o torcedor não acredita que algum jogador ame o Atlético mesmo não tendo sido criado em Curitiba. É como o feio que não acredita que a mulher bonita está interessada nele. Pois hoje o Atlético é lindo. E Diego só fez reconhecer isto, a maravilha que é jogar no Atlético. Não tem nada de marketing aí. Se outros não fizeram, é por pura falta de juízo. Diego o fez e, como um jogador que participou de alguns dos principais momentos da história recente do clube, está marcado positivamente entre a torcida do Atlético. É até mais do que isso. Durante estes últimos dois anos, quase três, Diego foi o grande ídolo do Rubro-Negro, às vezes dividindo as atenções com Washington e Dagoberto, mas ainda assim o grande ídolo.

É claro que nem todos pensam assim. E dou razão. Por mais que a galera em peso grite o nome dos jogadores, ídolo é uma coisa muito pessoal. Meu ídolo até hoje é Paulo Rink. Outros dedicam sua idolatria para outros jogadores por um motivo ou outro, dependendo das características de cada um: raça, técnica, habilidade. Diego reuniu as três características e, se nunca foi unanimidade, sempre foi o preferido da maioria, ocupando um posto que já foi de titãs como Caju, Roberto Costa e Ricardo Pinto. E nosso goleiro, que agora vai para o Fluminense de triste memória, teve momentos de titã, de colosso.

Em 2003, quando o Atlético levava o Brasileiro em banho-maria, com uma participação muito aquém do potencial do elenco e da camisa, Diego revelou-se um goleiraço justamente sob as traves defendidas por Rodolfo Rodrigues. Diego protagonizou defesas milagrosas em série, como se o Rodolfo Rodrigues ali fosse ele. Na campanha do ano passado seguiu demonstrando qualidade no gol atleticano. Fez parte de um timaço, uma das melhores máquinas de futebol que o Brasil já viu, que acabou não ganhando o valor merecido por não ter conquistado o título. E aquele timaço começava pelo gol, por Diego.

Mas o momento que coloca Diego definitivamente entre os grandes do futebol mundial aconteceu na semifinal da Libertadores deste ano, no México, contra o Chivas. Um cruzamento do time mexicano atravessou o gol até um atacante soltar um dos chutes mais fortes que já vi de dentro da pequena área. Diego rebateu a bola na trave, numa defesa que fez parecer que aquela de Banks contra a cabeçada de Pelé na Copa de 70 estava em câmera lenta. Ali, Diego foi gênio com as mãos. Se Pelé dava astúcias de mão a seus pés, Diego, naquele instante, deu astúcias de Pelé a suas mãos.

É pena que vá o tricolor, mas a gente espera que seja apenas um até breve, Diego.


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