Silvio Rauth Filho

Silvio Rauth Filho, 50 anos, descobriu sua paixão pelo Atlético em um dia de 1983, quando assistiu, com mais 65 mil pessoas ao seu lado, ao massacre de um certo time que tinha um tal de Zico. Deste então, seu amor vem crescendo. Exerce a profissão de jornalista desde 1995 e, desde 1996, trabalha no Jornal do Estado. Foi colunista da Furacao.com entre 2004 e 2009.

 

 

Hora de bordar umas estrelas

10/12/2005


Em 2003, quando o Atlético amargava as últimas posições no Brasileirão, os dirigentes vieram a público explicar a situação. Segundo eles, o planejamento do clube era formar um time competitivo a cada três anos. Nessa intervalo - como foram os modorrentos 2002 e 2003 -, o objetivo era equilibrar as finanças e preparar uma base para o grande time que viria em seguida. E os cartolas não estavam mentindo. Em 2004, o Furacão surgiu forte, com um elenco repleto de estrelas: Washington, Jadson, Fernandinho, Dagoberto, Diego, Marinho... O resultado todos sabem. Uma temporada excelente e um título que escapou por apenas três pontinhos malditos.

E por que esse intervalo era necessário? Simples. O Atlético recebe uma cota de televisionamento muito menor que seus rivais (Corinthians e São Paulo, por exemplo) e, para manter as finanças estáveis, precisa lucrar com a venda de jogadores. As demais receitas são insuficientes para montar um time competitivo. Segundo o balanço contábil do clube, a venda de ingressos não chega nem a 15%da arrecadação total. E a folha salarial do departamento de futebol é de cerca de R$ 1 milhão, por mês. Ou seja, em um ano, o clube gasta mais ou menos R$ 12 milhões apenas em salários. É preciso vender um Jadson por ano para pagar isso.

O pior disso tudo é que não há outro caminho. É preciso pagar esses salários astronômicos se quiser chegar a algum lugar. Um Washington da vida recebe, no mínimo, R$ 70 mil por mês. E os clubes das grandes cotas de TV não se preocupam em pagar isso. É um mercado altamente concorrido e cheio de "leilões".

Uma alternativa, adotada principalmente pelo Paraná Clube, é investir em anônimos. São jogadores que podem dar certo, como Borges e Daniel Marques, mas podem trazer decepção total, como Jorge Henrique, Cleo, Durval e Marín. E esses erros têm um custo dentro de campo e um preço alto fora dele (multas por rescisões, redução no público, perda de premiação por classificação em campeonatos, etc.).

Portanto, a fórmula que o Atlético tem adotado nos últimos anos parece a mais coerente. Investe forte nas categorias de base e, para equilibrar, contrata também alguns jogadores experientes e de qualidade (Washington, Aloísio, Marinho e Ferreira, por exemplo). Para completar, aposta também em algumas incógnitas. Se derem certo, trazem grande lucro ao clube.

E é extamente por esse motivo que o Atlético mudou seu planejamento. Pelo menos, é o que parece. Em entrevistas, alguns dirigentes deixaram escapar que o intervalo de três anos será reduzido. A explicação é o lucro surpreendente alcançado pelo clube em 2005. A brilhante campanha na Libertadores rendeu, no mínimo, R$ 10 milhões ao Rubro-Negro, sem contar a excelente negociação de Lima – comprado a preço de banana e vendido a petrodólares. Além disso, o clube já conseguiu montar uma forte base para 2006. Jancarlos, Danilo e Paulo André, que vieram como apostas, se tornaram excelentes jogadores. As categorias de base mostram sua força com Evandro, Alan Bahia, Dagoberto e Tiago Cardoso. Além deles, creio que veremos Schumacher, Anderson Aquino, Ricardinho, Marcus Winícius, Douglas e Sammir brilharem no ano que vem. São jogadores extramamente precoces, que mostraram muita qualidade mesmo com a idade reduzida.

Ou seja. Se a diretoria investir um pouco nessa equipe, contratando alguns jogadores experientes, terá tudo para conquistar três títulos em 2006: o Brasileirão, a Copa do Brasil e a Sul-Americana. Podem preparar a agulha, porque em 2006 vamos bordar mais umas estrelinhas douradas na camisa.


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