Ricardo Campelo

Ricardo de Oliveira Campelo, 44 anos, é advogado e atleticano desde o parto. Tem uma família inteira apaixonada pelo Atlético. Considera o dia 23/12/2001 o mais feliz de sua vida. Foi colunista da Furacao.com entre 2001 e 2011.

 

 

Lágrimas por ninguém

08/12/2005


“Lágrimas por ninguém, só porque é triste o fim” (Paralamas do Sucesso)

Assistindo, pela TV Globo, às centenas de torcedores coxas chorando pelo rebaixamento, veio-me uma reflexão: por quê choram? Quando torcedores de Palmeiras, depois o Grêmio, e até mesmo o Atlético de Minas, choraram o rebaixamento de seus times, era fácil entender. Além de estar há muito tempo na elite do futebol, são clubes que, com certa freqüência, disputavam títulos. Mesmo o combalido xará mineiro, que há alguns anos vem ficando no rabo da tabela, chegou a disputar a final do torneio no não muito distante ano de 1999.

O Coritiba disputa o quê? Fora o único título com saldo de gols negativos do mundo, em 1985, quando passaram pelo menos perto de ganhar algo? Nos dez últimos anos de primeira divisão, os coxas não incomodaram ninguém. Sua melhor participação foi em 1998, quando enfrentou a Portuguesa de Desportos e, com uma derrota e dois empates, restou eliminado. A outra participação “memorável” (apenas para sua torcida) foi em 2003, quando, no embalo das vitórias magras de Bonamigo, conseguiram uma vaga na Libertadores – na qual, pra variar, não passaram nem da primeira fase.

Os coxas choram porque a ilusão de se equiparar ao Atlético vai acabando. O Coritiba mostra a eles, dia após dia, que está anos luz atrás de nós. E, quando vem uma prova destas, o golpe é duro e a tristeza bate. Só porque é triste o fim, mesmo. É bonito ver a manifestação da torcida de orgulho, cantando o(s) hino(s) do Clube, mostrando que estará com ele em qualquer momento. Mas ao mesmo tempo em que essa demonstração de amor é bela, isso nada mais é do que um sintoma de que esse amor da torcida pelo Clube é tudo o que sobrou. Não há time, não há primeira divisão, a maquiagem no estádio não convence, tampouco as risíveis promoções para encher a arquibancada e camuflar as inquestionáveis pesquisas que apontam qual é, verdadeiramente, a maior torcida do estado. Só sobrou o amor da torcida – o que haverá sempre em um Clube que se preze, não sendo, na verdade, motivo de maiores destaques.

O engraçado é que nem todos coxas aceitam as provas que o Coritiba vem dando-os. Depois do rebaixamento, dá pra dividir grupos de torcedores pelas suas reações:

- os desmemoriados: alguns coxas têm memória curta (ou cara-de-pau mesmo), e vêm dizer que nós, atleticanos, estamos preocupados demais com o time deles, que devíamos olhar para o nosso Clube. Seria até desnecessário dizer que nós não esquecemos toda a pelação de saco que fizeram para o Santos e para o São Paulo, mas como lembrar disso me dá um prazer sádico e vingativo, fica o registro.

- os “Bento Carneiro”: “minha vingança será maligna”, dizia o personagem de Chico Anísio, o vampiro brasileiro e fracassado. Acreditem, mas tem coxas que dizem que voltarão para a Primeira Divisão e que o Atlético é que vai ser rebaixado no futuro.
Obs: A título de curiosidade, Bento Carneiro nunca conseguia efetivar seus planos de vingança.

- os iludidos: ilusão não é novidade para uma torcida que há anos bebe gengibirra e arrota Fontana Fredda. E tem coxa que ainda acha que o importante são os títulos estaduais e a vantagem nos confrontos diretos com o Atlético, tudo conquistado na época em que Evangelino Neves dava as cartas na arbitragem paranaense.

- os conscientes: acreditem, existe coxa consciente. Antes do rebaixamento, recebi por e-mail um artigo escrito por um torcedor já conformado com o rebaixamento e que apontava a distância que o Atlético abriu em relação ao seu Clube em termos de títulos, patrimônio e torcida. Esse tipo de torcedor me preocupa. Prefiro os iludidos.

Nós, atleticanos, não perdemos nada com a queda do rival. Poder político do futebol paranaense é um argumento usado pelos hipócritas ou por quem não lembra que o presidente do Coritiba, em reunião do Clube dos 13 no começo do ano, traiu, de última hora, o grupo liderado por Atlético e Cruzeiro, preferindo favorecer o Santos. Também não há o risco de ficarmos “acomodados”. Primeiro porque não somos um Clube que quer apenas terminar o campeonato melhor que os rivais – nós disputamos títulos. Segundo porque temos times muito maiores com quem rivalizar.

A Frase do Ano

“O importante de um campeonato por pontos corridos é ter um elenco forte. O que é um elenco forte? É ter os onze e substitutos à altura. O Coritiba tem um elenco forte este ano e reúne todas as condições de disputar o título.” Giovani Gionédis, Presidente reeleito no Coritiba, em entrevista em julho ao site FutebolPR.


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