Juliano Ribas

Juliano Ribas de Oliveira, 51 anos, é publicitário e Sócio Furacão. Foi colunista da Furacao.com entre 2004 e 2007 e depois entre março e junho de 2009.

 

 

Paraíso coxa-branca

05/12/2005


Desculpem, mas vou falar é do Coritiba. O Coxa estava caindo pelas tabelas e eu aqui falando das reformas no sublime, esplêndido, sofisticado e quantos mais adjetivos caibam CT do Caju. O Coritiba "Foot Ball Club" entregando a rapadura nos últimos minutos no sagrado solo do Anacleto Campanella e eu no dia seguinte escrevendo sobre as eleições que irão definir os novos ocupantes das cadeiras dos conselhos Gestor e Deliberativo do Atlético Paranaense. Mas hoje, segunda-feira, dia de minha coluna sobre as coisas do Atlético, ou "A. Paranaense", como a nós referem-se os verdes, é dia de falar da queda da casa Coxa. O A. Paranaense vai bem, obrigado.

A tragédia coxa me lembra muito um daqueles suicídios coletivos, que de vez em quando a televisão nos mostra, que volta e meia acontecem em uma cidadezinha de algum estado obscuro no interior dos Estados Unidos, um Idaho, Iowa, Utah ou Oklahoma da vida. Liderados por um cretino, fanáticos cometem suicídio coletivo sob as ordens do tal líder. Cegos pelos delírios de magnificência, visões de um mundo de grandiosidade e perfeição, esperando abreviar o caminho ao nirvana, em massa, dão cabo de suas existências terrenas, sonhando serem os "escolhidos", pessoas superiores. Com o suicídio, essas pessoas chegam ao purgatório e olhe lá. Mas o caso coxa é diferente. Tem cretino, tem cegos, tem malucos, mas há uma diferença: é que eles conseguiram o objetivo. O Coritiba "Foot Ball Club" chegou ao paraíso.

Cegos pelo tal cretino, acreditaram que tinham um estádio monumental, um Taj Mahal do futebol. A parca construção tem apenas várias latas de tinta verde da mais barata e muitos quilos de massa corrida sobre as infiltrações. Acreditaram que tinham um esquadrão de milhões de dólares com craques de primeira grandeza para fazer uma boa Libertadores, mas continuam sem ter ganhado um jogo oficial sequer fora do Brasil e sem ter passado da primeira fase desta competição. Piamente acreditaram que tinham time para vencer o Campeonato Brasileiro deste ano e a confiança era tal que não hesitaram em fazer a jocosa "dança das lanternas" dentro da Kyocera Arena. Perderam para o time reserva do A. Paranaense, mas ainda continuaram em delírio. Seguiram neste estado de transe até pouco antes do derradeiro golpe. Ainda, irracionalmente, olhavam as embaixadinhas e macaquices do "líder" em pleno treino e continuavam cegos, achando que continuariam na primeira divisão para conseguir o "bi-brasileiro”, o nirvana prometido pelo cretino para daqui alguns anos.

Agora, finalmente, os coxas chegam ao paraíso. A segunda divisão do Campeonato Brasileiro é o lugar perfeito para os delírios de grandeza coritibana. O paraíso não era aquele que eles imaginavam. Mas logo vão amar seu novo lugar, será o "Shan-gri-lá" que estava em seus sonhos. Na segundona o Coritiba "Foot Ball Club" é grande. Sim, claro que é. Eles podem falar de boca cheia "o Coxa é time grande". Perto do São Raimundo, do Ituano, do Marília, do Avaí, o Coritiba é uma senhora instituição. Para os coritibanos será um sentimento que há tempos não desfrutam. Olhar para a maioria dos adversários e pensar: "somos favoritos"; planejar o futuro no certame e imaginar "vamos disputar título". Será, junto com Náutico, Atlético-MG, Portuguesa de Desportos e Paysandu, um dos times temidos do campeonato. O desmedido ego alviverde será alimentado com as mais caras trufas e caviar beluga.

Na Segundona, perto dos campos de bola da maioria dos times, o Monumental será então Santiago Bernabeu que sempre imaginaram ter. O pão-com-bife lá servido, será iguaria fina perto do que é servido em algum bar de um estádio nos rincões do Brasil, onde passarão a jogar. Poderão se orgulhar de ter a melhor praça de alimentação do país. E o futebol, este sim, será "top" na segunda. Craques do naipe de Batatinha, Capixaba, Peruíbe e Peabiru terão a chance de brilhar. O futebol que apresentam adaptar-se-á como uma luva ao estilo de uma segunda divisão. Grama seca, terra batida, marcas de cal cujo pó branco é polvilhado sobre o solo, buracos, morros. O Coxa caiu porque reformou o gramado no início do ano. Um gramado pior teria ajudado mais as feras que o presidente verde trouxe.

Caíram. Mas, bem da verdade, subiram. A grandeza que tanto procuravam foi atingida. Pois um pequeno pode ser grande entre os menores. Num raciocínio bem verde, é melhor ser grande na segunda divisão, que pequeno na primeira. Terá agora adversários do seu quilate e dentre estes pode se destacar. Vai gostar tanto que vai ficar. O problema é gostar demais. Aí, um dia, será grande entre ASA de Arapiraca, ABC de Natal, Desportiva e Linhares. Como Bahia e Vitória são hoje em dia.


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