Rogério Andrade

Rogério Andrade, 52 anos, é administrador. Atleticano de "berço", considera a inauguração da Arena da Baixada como o momento mais marcante do Atlético, ao ver um sonho acalentado por tantos anos tornar-se realidade.

 

 

Futebol, política e justiça

01/12/2005


As máscaras estão em queda. Quanto mais o vento sopra, mais os mistérios são desvendados e mais as bruxarias do país se afastam. O Brasil está acordando, enfim, no mundo da bola e no mundo político. Para ambos ainda falta um bom caminho a trilhar, é claro, mas há um bom indício de que os primeiros passos começam a aparecer. Bom para o povo. Bom para quem gosta de política, bom para quem gosta de futebol.

Basicamente, volto esta coluna a dois episódios importantes e de total interesse para o povo. O provável descenso do Coritiba no mundo da bola e o afastamento de alguns políticos da “teta” brasileira (ou “treta” brasileira).

Está mais do que provado que as farsas, as ilusões e, principalmente, a incompetência, um dia, por mais tarde que seja, serão desmistificadas. Não é possível que alguém carregue, por tanto tempo, a fama de estar contribuindo, quando na verdade está envergando e envergonhando as áreas políticas e esportivas do país, aqui em questão.

Coritiba Foot Ball Club e José Dirceu de Oliveira e Silva estão em baixa. Hoje em dia mais destacada a baixa do político, o qual recém teve seu mandato cassado. Uma vergonha! O povo brasileiro está envergonhado. O homem acusado de chefiar o “elenco” do mensalão, que já teve duas identidades, que já foi denunciado, detido e exilado, que passou por cirurgia plástica para alterar sua fisionomia, obtém hoje um mandato cassado até o ano 2016. Viveu de farsas e viveu de ilusões, sempre achou que impressionou e chegou ao auge quando foi responsável pela transição do governo Lula. Tornou-se o homem forte do governo e agora deixa que o povo acompanhe seu trágico destino.

Assim também foi escrita a história do Coritiba. Um clube que já teve seu auge, que sempre colocou a prepotência e a arrogância diante de todos os seus sonhos, que também foi dirigido por farsantes e viveu, ou foi morrendo aos poucos de ilusões. Arrebanhou todo um povo, que tornou-se sofrido e ao mesmo tempo esperançoso, mas que hoje não possui mais nada além da fé. Fé que lota as igrejas e que torna até um pecado os pedidos de um milagre. Se sobreviver, será Deus o responsável por lhe dar nova vida? E se morrer, culpará Deus por não olhar e não iluminar seus caminhos?

Por detrás um caminho trilhado também por farsantes, pessoas que, além de pisar em seus adversários, na tentativa da máxima humilhação, iludiram um povo ao afirmar: “Não temos mais dívidas”. Pois agora há uma dívida muito maior! Uma responsabilidade imensa e um débito impagável, caso se confirme a queda para o abismo.

Ninguém em sua mais perfeita sanidade, nem seu próprio povo, confia mais no Coritiba, assim como ninguém, nem o povo brasileiro, confia no mineiro José Dirceu. Ambos escreveram suas histórias em páginas que, com o tempo, amarelaram e hoje apodrecem. Se vangloriaram com algumas conquistas que se apagaram com o tempo, mas que hoje, o povo reconhece que foi apenas uma “maquiagem” para esconder o fracasso.

Vemos um total desespero de um clube de futebol que um dia afirmou que levava o Estado do Paraná nas costas. O desespero que se explica pela dúvida de talvez, nunca mais voltar. José Dirceu ainda tem uma certeza, de que poderá retornar em dez anos, já o Coxa, talvez nem durante este tempo cure a dor de uma torcida que se iludiu e que hoje paga caro o preço da arrogância, e que também é culpada por se achar e se rotular, sempre, como uma torcida gloriosa. Deixou que seu patrimônio fosse invadido por pessoas que tornaram um clube, em um clube pequeno, em teoria, prática e pensamento.

Nem considero improvável uma combinação de resultados e até acho que será perfeitamente normal se a Ponte Preta perder em sua casa e o Cruzeiro derrotar o São Caetano em Minas, terra de José Dirceu. Mas talvez o improvável seja o Coritiba fazer, o que há tempos, sua torcida deseja e não vê. Uma vitória contra o vice-líder, que ainda luta pelo título, será algo praticamente impossível. É como se esperássemos que o político mudasse suas atitudes, acreditando e rezando para que a grande maioria dos deputados votasse contra a sua cassação. Não é apenas uma questão de crença, mas sim uma questão de lógica.

Portanto, acredito que seus lugares estejam reservados. Coritiba e José Dirceu viverão, a partir do próximo ano, anos e anos de angústia, desespero e, talvez até arrependimento de terem perdido tanto tempo vivendo apenas em mundos irreais. Enquanto os outros partidos se fortalecem para a próxima eleição, enquanto outros clubes crescem e evoluem com imensa superioridade para as próximas temporadas, Coxa e José Dirceu adormecem em um país que está aprendendo exatamente o significado da palavra “justiça”.


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