Sérgio Tavares Filho

Sérgio Juarez Tavares Filho, 45 anos, é jornalista e morou até os 12 anos em Matinhos, litoral do Paraná. Acompanha o Atlético desde que nasceu e vive numa família 100% rubro-negra. Até os cachorros se chamam Furacão e Furacão Júnior. Foi colunista da Furacao.com entre 2001 e 2009.

 

 

Esmola

08/11/2005


... e se levar o calção entra em campo. A piada é antiga, batida mas reflete o momento do rival do Atlético. Com apenas R$ 5 o torcedor do Coritiba vai poder acompanhar o time contra o Corinthians e a Ponte Preta. Nem nos tempos da segunda divisão, há dez anos, eu vi coisa parecida. Quando a Furacao.com avisou que o último clássico Atletiba teria promoções para os alviverdes, no Couto Pereira, houve a referência do termo "desesperado", na manchete. Foi o que bastou para que o formulário de e-mails do site funcionasse bastante. Se há menos de um mês já havia o temor pelo rebaixamento em 2006, como deve estar a cabeça dos nossos rivais?

Andei pesquisando no orkut e vi muitas comunidades referentes ao péssimo começo do Atlético no Campeonato Brasileiro. Se o internauta tiver um pouco de paciência, digite "Kyocera" no menu de busca daquele site. Kyocera Rebaixado, SIM! e Kyocera 0% são algumas das peripécias criadas pelo povo. Numa determinada discussão, do dia 14 de agosto, o camarada escreve o seguinte: "Já era. Hoje voltaram a rondar a zona do rebaixamento. No próximo jogo, vão entrar pensando em se vingar do São Paulo e provar que poderiam ter ganho caso jogassem na Kyocera. Como no futebol o jogador tem que entrar pensando no jogo em si, e não em bobagens deste tipo, a derrota já é certa. Não adianta, a nossa mandinga é forte demais. Esse ano eles não escapam". Coitados. Além de enfiar 4 a 2 no time paulista o Furacão teve mais três bons resultados na seqüência.

A descrição da comunidade Kyocera 0% é mais engraçada. "Se vc também está feliz com a maravilhosa campanha desse 'time', seis jogos e seis derrotas no Brasileiro, entre e escrache eles!". O autor só conseguiu sete participantes. Talvez até os rivais já pressentiam que o rubro-negro ia virar o jogo. É por isso que eu não sou tão caridoso com os alviverdes. O Atlético já passou da fase de viver às sombras do Coritiba. Assim como o colunista Juliano Ribas, não vejo tanta necessidade do nosso Estado ter três representantes na primeira divisão. O futebol brasileiro está se modernizando, já tem um campeonato em que a fórmula não muda há três anos e, apesar de os clubes ainda viverem da verba da televisão, a profissionalização já está na cabeça dos dirigentes.

Promoção no ingresso e latas de Nescau tem um apelo social interessante. Só que não em jogos do principal campeonato de futebol do mundo. A iniciativa é bonita, mas não deixa de ser constrangedora. Mesmo com mais de nove mil bilhetes já vendidos, o tombo e a frustração pela não permanência na elite do Brasileirão pode sair caro. E no ano que vem, nem achocolatado vai adoçar a vida de quem um dia já foi o maior clube paranaense.

Enquanto isso, o Atlético segue o caminho de sucesso: obras no CT quase finalizadas, meninos nas seleções de base, parcerias, cuidado com os produtos piratas e um preço de ingresso compatível com a beleza do estádio. Nem isso afasta os rubro-negros de sua paixão. "Criança não quer esmola, quer futuro", é o que diz as placas instaladas pela Prefeitura de Curitiba em alguns pontos da cidade. Qualquer semelhança com o rival do Furacão, é mera coincidência.


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