Ricardo Campelo

Ricardo de Oliveira Campelo, 44 anos, é advogado e atleticano desde o parto. Tem uma família inteira apaixonada pelo Atlético. Considera o dia 23/12/2001 o mais feliz de sua vida. Foi colunista da Furacao.com entre 2001 e 2011.

 

 

O dilema do arco

26/10/2005


O assunto do momento, no Atlético, é o gol. Não o gol como substantivo, o objetivo do futebol, mas como “lugar”, ou melhor, posição em campo. A questão é: quem deve assumir o gol do Atlético?

Depois de algumas semanas no Departamento Médico, Diego está de volta, silenciando e, possivelmente, embaraçando aqueles que insinuavam que sua contusão era armação. Voltou aos treinos e, mesmo sabendo da pressão que enfrentará, já disse que quer jogar (o que afasta de vez as teorias conspiratórias daqueles que imaginavam que Diego estaria usando uma contusão para evitar o enfrentamento da disputa da posição com Tiago). Agora, é com Evaristo: volta Diego ou fica Tiago?

Na prática, acho que pouco deve mudar. Em quase três anos no Atlético, Diego não deixou dúvidas de que é um goleiro de primeira linha e capaz de honrar ao máximo a camisa rubro-negra. De outro lado, Tiago mostrou humildade e convenceu a torcida com grandes atuações, provando que também tem plenas condições de ser “o 1” atleticano.

Se na prática pouca coisa pode mudar, a defesa de um dos dois para a posição passa a ser mais um convencimento pessoal do que qualquer outra coisa. Há aqueles que reconhecem os méritos de Diego nestes três anos e, assim, apostam em sua volta à titularidade. De outro lado, há os que nunca foram com a cara do gaúcho, e, embora já tenham se rendido ao seu futebol quando era impossível não fazê-lo, hoje aproveitam para execrá-lo. Por fim, há aqueles que simples e objetivamente vêem em Tiago um goleiro capaz e que deve ser mantido como titular por estar, pelo menos, em fase mais favorável.

O leitor mais assíduo sabe da admiração que tenho a Diego, como goleiro, profissional, e como pessoa. Não é isso, contudo, que forma meu ponto de vista (embora talvez o reforce). Vejo em Diego um profissional que veio ao Atlético com a dura missão de substituir o goleiro Flávio. Que falhou em um de seus primeiros jogos na Baixada, e que teve determinação para dar a volta por cima e terminar o ano como nosso melhor jogador no Brasileiro daquele ano (2003). Um atleta que nunca digere bem uma derrota, assim como nós, torcedores, não digerimos. Em 2005, foi decisivo na final do Paranaense, garantido, em especial, a vitória que deu o título ao Atlético. Na Libertadores, Diego fez de sua liderança um trunfo rubro-negro, e transformou em rotina a prática de defesas impressionantes, ajudando a levar o Atlético à final do torneio. Chegou a brilhar no Brasileiro, vide partidas como a diante do Flamengo, no Rio, onde operou dois milagres que evitaram a derrota atleticana.

Enfim, Diego tem uma história no Atlético. Não que isto seja absoluto, mas teu seu valor. Valor muito maior, na minha opinião, do que quatro ou cinco partidas em que teve atuação discreta. Acho exagero dizer que estava em “má-fase” logo antes da contusão; vinha sendo um goleiro “normal” - o que é, de fato, menos do que esperávamos em comparação com seu próprio retrospecto. Também não acho que seja correta a comparação individualizada de sua “fase” com a de Tiago, que assumiu a posição logo após a saída de Antonio Lopes e a “coincidente” saída de quatro atletas (Alan Bahia, Aloísio, Lima e Dagoberto) do Departamento Médico. Convenhamos que jogar em uma equipe que tem estes jogadores é diferente de atuar em um time com jogadores inexperientes como Marcus Winícius & cia.

Já não tenho mais dúvidas de que Tiago é um excelente goleiro. Só que a fase que vive não pode ser vista dissociada do restante do time que o acompanhou. É verdade que, nas partidas contra Fortaleza e Coritiba, quando falhou, Tiago se recuperou fazendo defesas difíceis e importantíssimas. Mas, além desta recuperação, a atuação do time (Dagoberto acabou com o jogo contra o Fortaleza, e Paulo André fez o gol da vitória contra os coxas) foi fundamental para que aquelas falhas tenham sido esquecidas.

Tudo pode acontecer. Diego, se voltar, terá sorte ou azar? Será ou não o goleiro decisivo com que nos acostumamos? E se não for bem, suportará a pressão? E Tiago, se ficar, terá sorte ou azar? Repetirá as grandes defesas ou falhará? Só o futuro dirá. Creio que Diego merece um voto de confiança e respeito por tudo que já fez, e pelo fato de não estar fugindo da responsabilidade mesmo com a pressão que certamente será criada. Merece ao menos ter a chance de atuar com o time nesse bom momento, colocando seu talento à prova. Ademais, Tiago é jovem e não será prejuízo esperar. Manter Diego, por enquanto, e promover Tiago futuramente seria a forma mais inteligente de o Atlético aproveitar estes dois grandes goleiros. É a minha modesta opinião.


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