Sérgio Tavares Filho

Sérgio Juarez Tavares Filho, 45 anos, é jornalista e morou até os 12 anos em Matinhos, litoral do Paraná. Acompanha o Atlético desde que nasceu e vive numa família 100% rubro-negra. Até os cachorros se chamam Furacão e Furacão Júnior. Foi colunista da Furacao.com entre 2001 e 2009.

 

 

Futuro

25/10/2005


As cenas vão ficar por muito tempo na lembrança. O chute para fora de Aloísio, contra o Galo, empolgou as pequenas torcedoras na Kyocera Arena. Uma olhou para a outra, se abraçaram e fizeram questão de continuar gritando nas arquibancadas, esperando o marcador ser aberto. A esperança e a fé rubro-negra já dominam os corações dessa nova gente. São crianças que tiveram a sorte de saber como as coisas funcionavam dentro do Atlético somente através da história. Essa nova geração se orgulha em vestir o manto sem ser confundido com o Flamengo. A sigla CAP já é bem conhecida no território nacional e já não se parece com o CRF carioca.

A essência do atleticano não pode ser explicada. Quem torce para o vermelho e o preto da Baixada é diferente. A criatividade, a teimosia, a alegria, o calor e a maneira com que se vive o Atlético não se vê em qualquer lugar. A cara pintada, o quarto enfeitado, a pantufa no pé, o boato. O que seria da gente se não fosse o bendito boato? Quantas vezes a nossa torcida insuflou o peito afirmando que o Zico estaria a caminho e nos contentávamos com o Kita? Dane-se o Zico, oras. Kita também tem quatro letras. Kita também é craque. Kita é seleção! Alô, Sebatião Lazaroni!

O atleticano é bem-humorado. Vê piada em tudo. O astral é sempre positivo. Não importa quem dos nossos esteja em campo. A camisa tem que ser honrada. Mesmo assim, as vaias existem. Vaias, não. Desculpe, internauta. Ninguém na Kyocera Arena vaia. A gente assovia. Ou você já viu alguém na cadeira ao lado urrar "uuuuuuuuuu"? Eu não. Sempre é um "fiiiiiiiiiiiiii", com os dois dedos na boca e cuspe pra todo o lado.

(O cuspe. O popular "guspe" (dicionário Michaelis: Não consta verbete guspe neste dicionário). Futebol sem ele seria diferente. Quantas vezes você já não viu na televisão uma cena fechada de um craque e logo em seguida ele escarra no gramado? Vou sugerir para a direção atleticana colocar as mesmas placas que proibem andar na pequena área antes da partida, nas laterais do gramado: "É proibido c(g)uspir no chão". Eu acho que é só isso que falta no nosso templo.)

Ainda continuo lembrando da nossa torcida. Quanta gente bonita, quanta gente saudável. Gente que ama e que é amado. Um amor correspondido através dos shows de Dagoberto, da raça do Aloísio, da esperteza do Evandro, do carisma do Diego, da alegria de Alan Bahia, da superação do Jancarlos e da seriedade com que é comandado, e até às vezes mal interpretado, por Mário Celso Petraglia. Torcedores que procuram através de sites, confrarias e organizadas só fazer o melhor pelo Atlético. Tudo isso nos une. Tudo isso nos engrandece cada vez mais e transforma a raiva e a inveja em sentimentos adversários.

Não há motivos para ter pena. Ninguém me defendia enquanto eu era confundido com flamenguista, a minha diretoria contratava o Kita e eu era persuadido, os meus meiões eram vermelhos e pretos mas não tinham o símbolo do Atlético e a bandeira que era desfraldada tinha que ser encomendada. Guardadas as suas devidas proporções, é assim que a maioria dos clubes brasileiros sobrevivem. Confudem-se com um passado de glórias, vivem enganados na atualidade e não tem nenhum projeto futuro.

O Atlético teve um passado honroso e digno, vive o presente de conquistas e sabe que daqui para frente só teremos alegrias e inovações. É claro que sempre haverá gente querendo estragar a festa, mas aquelas meninas, lá do primeiro parágrafo, saberão como resolver. Afinal, elas vão ficar muito tempo na lembrança.


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