André

André, 46 anos, é jornalista. Não abre mão de ser dono do seu Atlético. Vibrou quando o Fião matou no peito aquela bola que ia entrar e saiu jogando com categoria. Abraçou o Vivinho na goleada contra o Cascavel e, diariamente, reza por Alex Mineiro. Foi colunista da Furacao.com entre 2004 e 2005.

 

 

Pequeno manual de tosquêira atleticana

21/10/2005


Meus ídolos...

O que pega é o seguinte: hoje o Atlético entra em campo contra o xará mineiro, confere? Sim, confere. E, naturalmente, eu deveria escrever sobre o jogo, a ascensão da equipe no certame (a segunda), tratar da Era Evaristo, Dagoberto quase pegando no breu, certo? Claro! Bom, mas daí eu já vou me dar o direito de apavorar o lado e não fazer nada disso. Então, com vocês...

Pequeno manual de tosquêira atleticana

Capítulo 1 – Jogadores

Luis Américo – sub-aproveitado nas boas equipes do Paraná Clube na primeira metade dos anos 90, Luis Américo veio para o Atlético no segundo semestre de 1994. Fez parte daquele esquadrão espetacular montado pelo Hussein Zraik, uma das maiores bad trips da história do clube. O povão atleticano entrou na pira errada da diretoria e não dormiu mais com as alucinações jofre-cabraleanas explodindo em flashs rubro-negros de ambições estapafúrdias nas asas de pavões misteriosos desembocadas num retumbante fracasso. Foi nesse contexto psicodélico fim-de-feira que apareceu aquele que seria o dono da camisa onze. Luis Américo não era de todo horrível no trato da redonda, apesar da fachada de galã italiano de quinta, o que nem de longe era o naipe de atleta que o Atlético carecia. Perto de uns e outros, até que ele praticava um soccer. Mas devia estar em débito com o Coisa Ruim, pois tudo que podia dar errado naquele time, dava com ele. Luis Américo sempre se adonava da responsabilidade das furadas, gols perdidos debaixo da trave, toques de canela em geral. Lembro-me dos papos com Marcos Paulo durante as peladas na velha Baixada, rindo da nossa própria desgraça, prevendo que o dia em que apresentássemos a bola ao Luis Américo ele faria os seguintes movimentos, em seqüência: arremessaria, cortaria, sacaria, passaria (com as mãos, claro) e, num futuro distante, aplicaria uma bica na menina.

Fião – Isso que é nome de zagueiro! E se não bastasse o nome, Fião tinha a estirpe, pinta, condição, atitude. Como diria Valmir Gomes, Fião tinha a perna esquerda, a direita, o cabeceio, chute, braços, cabelo, olhos e, o mais importante, tinha bigode de zagueiro. Agora monte tudo numa carcaça negra de respeito e sinta o drama dos atacantes nas divididas. No dicionário rubro-negro de futebol estilo roots Fião é sinônimo de defensor. Entre 1988 e meados de 92, nosso atleta com manhas de gladiador africano nos brindou com as mais belas rachadas levanta poeirão. Mas quem pensa que a especialidade dele era a apenas o jogo, digamos, um tanto quanto viril, está completamente enganado. Permita-me descrever um lance exemplar: rodada dupla no Couto Pereira, Coxa e não sei quem, Atlético e não sei quem, atacante adversário dribla o goleiro rubro-negro e arremata tranqüilo em direção à nossa meta, quando a bola encontrava-se distante dois milímetros da linha fatal, sob o signo de Zumbi surge Fião, que dá guarida à pelota inflando o tórax e sai jogando com um toque extra-classe. Pois você pensa que era só isso? Aguarde essa então, por mim relatada pelo Marcos Paulo. Atlético e Joinville no Couto Pereira válido pela segunda divisão do campeonato brasileiro. Rubro-Negro no ataque, bola retomada pelos catarinenses e lançamento em profundidade configurando um perigoso contra-ataque. O jogador do JEC ia ficar de frente pro crime, mas Fião, em carreira solo no grande círculo, saltou espetacularmente na mais bela ponte edificada em gramados paranaenses, agarrou a bola no alto e trouxe junto ao peito caindo macio no gramado. Resultado: cartão amarelo e segue o baile. Daí você calcula.

Gilson Blonde Devil – Não é querer tirar pra lóque nossa antiga esperança de gols, pelo contrário, faço votos que tenha sido só impressão e o mesmo tenha enriquecido e goze de muita felicidade e paz mental, mas que o Gilson tinha cara de quem tomava uma Wimi bem caprichadinha isso tinha. Boleirão old school, face sempre cinza devido à barba cerrada, pancinha indisfarçável, um penteado Capitão Galinha (também conhecido como mullet) no backside ornando com um anti-careca no cucuruto, Gilsão era aquele que você aponta no boteco como “careca-cabeludo”. Fez furor no interior paulista e chegou com cartaz de matador insaciável. A solução imediata para levar o Atlético à primeira divisão em 93 ou 94, não lembro ao certo. E até que ele fez alguns gols, mas não rolou, ficou na história como o Diabo gente boa que não fazia mal a ninguém.

obs: a seleção dos jogadores foi absolutamente aleatória. E, aguardem, na próxima coluna, tem mais...


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