Erick Raifur

Erick Raifur, 53 anos, é atleticano "de quatro costados". Foi colunista da Furacao.com entre 2004 e 2006.

 

 

Os mantras dos coxas

17/10/2005


A excelente pesquisa encomendada pela Gazeta do Povo sobre o tamanho das torcidas dos clubes paranaenses causou furor entre a coxarada. Confrontados com a realidade de que não possuem mais a maior torcida do Estado (já faz alguns anos), resolveram adotar alguns "mantras" que repetem em transe, insistentemente, quando são questionados sobre a pesquisa pelos atleticanos. Vejamos alguns espalhados pelas comunidades coxas no "orkut".

Mantra número 1: "O diretor da Paraná Pesquisas, Murilo Hidalgo Lopes de Oliveira, é conselheiro do Atlético, inclusive viaja junto com a delegação do clube."

Ora, na própria Gazeta do Povo deste domingo está lá: "Murilo é torcedor coxa-branca e assiste com freqüência às partidas do Coxa nas sociais do Couto Pereira. 'Eu mesmo sempre tive esta curiosidade para saber qual é a maior torcida. O problema é que agora terei de tirar uma quarentena dos jogos no Alto da Glória, porque os colegas de arquibancada vão pegar no meu pé', brinca." Como podem ver, o diretor da Paraná Pesquisas é coxa, e ponto final. Querem reconhecimento maior do que este? Mantra desmistificado, portanto.

Mantra número 2: "Eu não fui entrevistado! Curitiba tem mais de um milhão de habitantes e foram entrevistados só 6.700 pessoas."

De todos, este é o argumento mais ridículo, porque denota total desconhecimento de pesquisas de opinião, estatística por amostragem e margem de erro. A Estatística é uma ciência comprovada, estabelecida, com curso superior, mestrado e doutorado. Todas as pesquisas são assim. Inclusive, esta última é a mais completa de todas. Normalmente, pesquisas com pouco mais de 2000 pessoas em Curitiba já permitem obter uma boa base estatística para determinar uma tendência. Mais uma "mantra coxa" furado.

Mantra número 3: "O Petráglia comprou a pesquisa!!!"

Ora, pelo visto o Petraglia adora comprar pesquisas. Comprou a pesquisa Ibope de 2001, e comprou a pesquisa da Datafolha de 2002. Também comprou todas as pesquisas Top of Mind nos últimos 5 anos e, como bom cliente, comprou a pesquisa Ibope de 2004. E agora comprou a pesquisa da Gazeta em 2005. Já pararam para pensar que entre 2000 e 2005, com três participações em Libertadores (uma delas, vice), quatro títulos estaduais, um título brasileiro e um vice, "talvez" a torcida do Atlético tenha realmente crescido? Especialmente entre os jovens? Pois é. Mantra deletado, pois.

Mantra número 4: "Essa pesquisa tá furada! No orkut, a comunidade do Coritiba tem 90 mil membros e a do Atlético tem 30 mil!"

É mais do que notório que a comunidade do Coritiba no orkut foi "turbinada" com um truque bastante simples. Tinha 10 mil membros num dia e 90 mil membros no seguinte. É muito fácil fazer isso. Para comprovar, a comunidade "Eu tenho pena dos coxinhas", que tinha 500 membros, passou para 50 mil do dia pra noite. Mais um mantra verde que vai por terra.

Mantra número 5: "Não importa o que dizem essas pesquisas! Se o Atlético tem a maior torcida, parabéns! O que me importa é que continuo torcendo para o Coritiba"

Finalmente um mantra que reflete a mentalidade dos "coxas" conscientes. São raros, mas existem.

Agora, vou dar uma opinião pessoal sobre essa pesquisa. Pra falar a verdade, me decepcionei com ela. Eu achava que a diferença seria bem maior. 26,8% contra 19,6% não corresponde à realidade. A diferença é muito maior. E uma das razões para a pesquisa não ter apontado isso é o fato de a mesma ter ficado limitada a torcedores com mais de 16 anos. Se fossem entrevistados jovens de 12 a 16 anos, o "vareio" seria brutal. Quem é professor em escolas de primeiro e segundo grau sabe muito bem disso, e percebe "no visual" que hoje a proporção (em cada 10 alunos) é mais ou menos cinco atleticanos, dois coxas, um paranista e dois de times de outro estado no pátio das escolas. Caro leitor, pergunte para quem é professor, e você vai confirmar isso.

No mercado publicitário, essa estatística não é mais nenhuma novidade. Muito pelo contrário. Qualquer diretor de departamento de marketing de uma empresa de porte médio já sabia que o potencial de mídia do Atlético é pelo menos o dobro do Coritiba. E isto se comprova pelos valores que as empresas pagam para expor sua marca na camisa e no patrimônio do Atlético. Pergunte a um profissional da área. Associar o nome de uma empresa ao nome do Atlético custa, já faz algum tempo, quase o dobro do que custaria para vincular ao nome do outrora arqui-rival Coritiba.

E nos próximos anos a diferença vai aumentar muito mais. A garotada é rubro-negra, enquanto a população acima de 60 anos é coxa-branca. Não há reposição. No interior do Estado, mais de 30 escolinhas de futebol, e quase 5.000 alunos inscritos vão mudando o perfil dos torcedores do interior.

Estou ansioso para ver o resultado da pesquisa no interior do Estado. No Norte e no Oeste, acho improvável um grande número de torcida rubro-negra, ainda. Mas na região dos Campos Gerais (Guarapuava, Ponta Grossa, São Mateus, Pitanga e União da Vitória, por exemplo), o Atlético domina totalmente.

Vou contar uma historinha, para ilustrar: eu estive em Guarapuava, há cerca de um mês atrás. Fui numa balada forte da cidade, um lugar chamado Pharol. Era uma festa do curso de Fisioterapia da Unicentro. Balada boa, e lotada com a fina nata dos universitários da região. Tinha pelo menos umas mil pessoas ali. Lá pelas duas da manhã, o vocalista da ótima banda local que estava tocando resolveu dar uma "provocada" no público. Gritou: "E quem é corinthiano aí?" Dezenas de pessoas se manifestaram, ruidosamente. Daí, ele continuou: "E quem é Flamengo?" Mais algumas dezenas de pessoas gritaram. Na seqüência, ele perguntou por são-paulinos e gremistas, com aprovação mais tímida. Nisso, eu já estava indignado, pensando: "Pô, qual é a desse cara? Fica aí pagando pau pra time de outros estados?!". Foi aí então que ele deu uma parada e gritou: "E agora eu quero saber quem faz parte da torcida mais querida do Paraná: AAAAA-TLE-TI-CA-NOS!!!". Fiquei perplexo. O lugar quase veio abaixo. Pelo menos metade das pessoas expressaram, aos urros, o amor pelo Furacão com gritos de Uh, Caldeirão! Uh, Caldeirão!!!

Não sei como fiquei surpreso. Quem viaja bastante pelo interior do Estado, como eu, já sabe disso há um bom tempo.


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