Bruno Rolim

Bruno Rolim, 42 anos, é bacharel de Turismo e jornalista. Filho de coxas, é a ovelha rubro-negra da família. Descobriu-se atleticano na final do Paranaense 90, com o gol do Berg. Foi colunista da Furacao.com entre 2002 e 2007.

 

 

O renascer das cinzas: a Fênix do Sul

13/10/2005


Não estive em Curitiba esta terça, na vitória contra o Brasiliense. Estive em São Paulo, em um concerto de rock. Durante o longo tempo na fila, vamos conversando com pessoas de outras cidades sobre música pesada, amenidades, até chegar ao assunto principal: o futebol. Conversando com um corinthiano e um são-paulino na fila, pude perceber o crescimento do Atlético - ambos confessaram admirar muito o clube, e o fanatismo dos torcedores. Segundo um deles, "antes eu nem me lembrava do Atlético, achava que era um clube novo, hoje o time sempre entra pra ganhar." O próprio torcedor do São Paulo declarou admirar o Atlético - há um ranço entre as torcidas depois da final da Libertadores, assim como contra o Santos. Sinal de crescimento. Sinal de projeção.

Conversando com estes torcedores, expliquei um pouco da trajetória do Atlético desde que me recordo como torcedor. O título paranaense de 1990, com o belo gol de Berg. A ascensão para a Série A, no mesmo ano. As discretas campanhas de 1991 e 1992, o rebaixamento em 1993. Campanhas medíocres no Estadual. O sofrimento com o maldito Pinheirão. As gozações dos torcedores rivais, os públicos pífios. O nulo ano de 1994. Os jogadores folclóricos, vindos por atacado. O início medíocre de 1995. Aquela goleada - sim, o chocolate de Páscoa. Ironicamente, o melhor 5x1 que o Atlético poderia ter sofrido. Sim, acordamos. A torcida chorou, nós choramos - nosso clube parecia mortalmente ferido...

Então, o clube que agonizava, esperava apenas o seu fechamento, sem recursos para comprar bolas de futebol, despertou. Nosso rival, com aquela goleada, criou um monstro. Dentro daquele corpo agonizante, ainda corria o bravo sangue rubro-negro. A morte esteve próxima - mas, como nosso hino diz, "rubro-negro é quem tem raça e não teme a própria morte!". Começou aí uma bela história, um clube que escapou por pouco do oblívio, e iniciou a alçar vôos nunca antes imaginados...

A Série B de 1995, o início de tudo. Já faz 10 anos, ainda lembro-me dos jogos. Desde a estréia ruim contra o Goiatuba, até o apoteótico quadrangular final contra Coritiba, Mogi Mirim e Central de Caruaru (Pernambuco). A torcida exultante, carregando o técnico Pepe, e os bravos jogadores que conquistaram de forma brilhante o acesso à elite nacional, para nunca mais deixá-la. A equipe de 1996, que lançou o nome do Furacão ao Brasil. O Atlético de Ricardo Pinto, Paulo Rink e Oséas. O Atlético dos poloneses (que Deus o tenha, Nowak). A equipe que somente não conquistou o título por conta da selvageria de torcedores do Fluminense, que quase assassinaram o goleiro Ricardo Pinto. O Atlético teve que esperar um pouco mais para comemorar um título nacional.

Campanhas irregulares em 1997 e 1998. A construção da Arena, em 1999. Aliás, o ano de 1999, com mais uma equipe espetacular. O Atlético de Flávio, de Alberto, do quadrado mágico: Kelly, Gabiru, Lucas e Kléber. A magistral conquista da Seletiva - o Clube Atlético Paranaense conseguia assim entrar no seleto rol de clubes a jogar uma Copa Libertadores da América. Mas os vôos poderiam - e viriam a ser - mais altos.

Chegou o ano de 2000, e o Furacão varreu a América. Com uma campanha extraordinária na primeira fase (até aquele ano, havia sido a melhor campanha de um clube brasileiro na história da competição), e vitórias memoráveis como o 3x1 sobre o Nacional, no legendário Estádio Centenario. A campanha acabou abreviada nas oitavas-de-final, nas penalidades máximas, mas o Atlético havia deixado sua marca. O ano seguinte reservava o maior dos presentes para a torcida rubro-negra...

Flávio. Alessandro. Gustavo. Rogério Corrêa. Nem. Fabiano. Cocito. Souza. Adriano. Kleberson. Kléber. Alex Mineiro. Sim, doze titulares. Com o suporte de reservas como Ilan e Adauto, o Atlético iniciou o Brasileiro de forma explosiva, ainda sob o comando de Mário Sérgio. Após uma série instável, o técnico foi demitido, e veio aquele que viria a escrever seu nome na história do Atlético, juntamente com os 12 jogadores acima: Geninho. Com sua vinda, o Furacão começou a soprar alto, e numa campanha magnífica, veio a conquistar o Brasileiro da Série A. Sim, o clube que agonizava havia seis anos veio a se tornar o maior clube do Brasil em 2001.

Embora a Libertadores não tenha sido como o clube esperava, o Atlético já havia deixado seu nome gravado dentro do futebol brasileiro. Os anos de 2002 e 2003 não reservaram muito, porém 2004 foi outro ano para ser gravado em nossas memórias. O renascer de Washington, tido como acabado no futebol. O surgimento de revelações como Jadson e Fernandinho. O craque Dagoberto se firmando. A contusão que abreviou a participação do jovem craque em 2004, abrindo espaço para um jogador vindo da Arábia, que teve participação importante na reta final do Brasileiro: Denis Marques.

Infelizmente, por conta de bobeadas inexplicáveis, o Atlético não levou o Brasileiro. Mas conquistou, pela terceira vez, uma vaga na Copa Libertadores da América. E, em 2005, na mais memorável das participações atleticanas nesta competição, o clube fez o que poucos acreditavam: após vitórias épicas contra Cerro Porteño (em que o goleiro Diego brilhou), Santos (o artilheiro Aloísio) e Chivas (Lima brilhando), o Furacão chegaria à sua primeira final continental, contra um adversário brasileiro, o São Paulo. Após o empate em um jogo tumultuado pela diretoria tricolor, o Atlético acabou sucumbindo no Morumbi. Se o primeiro jogo tivesse sido na Arena, a história teria sido outra? Nunca saberemos. Mas o vice da Libertadores é algo a ser recordado - especialmente pelo estado do Paraná ter clubes com participações pífias fora do Brasil.

Agora, pergunto-me: por que realizar uma retrospectiva, relembrar os momentos ruins?

Respondo à minha própria pergunta: o Atlético tem uma torcida que experimentou um crescimento enorme nos últimos anos. Muitos são jovens torcedores, que não tinham sequer 10 anos de idade quando perdemos de 5x1 para o Coritiba. Não experimentaram o Atlético nos escalões baixos do futebol. Não viram o Atlético ameaçado de fechamento, afundado em dívidas, afastado de seu estádio. Apesar disso, estes torcedores são nosso futuro - e precisamos ter uma torcida mais humilde, que valorize toda a história do Atlético, que saiba o que é ser atleticano na alegria e na tristeza.

Uma torcida que não vaie jogadores que marcaram o clube e nunca fizeram nada para manchar o Atlético - como fizeram com o Oséas nesta terça. O torcedor deve ter consciência de que os jogadores estão vestindo a camisa rubro-negra, e merecem todo o incentivo. Cobrança? Sim. Ofensas? Não.

Que a torcida tenha consciência de seu valor para o Atlético, e se preocupe em apoiar o clube, em apoiar os jogadores. Honrem as cores que vocês vestem! Atleticano de verdade nunca vai vaiar o próprio clube!!!


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