Juliano Ribas

Juliano Ribas de Oliveira, 51 anos, é publicitário e Sócio Furacão. Foi colunista da Furacao.com entre 2004 e 2007 e depois entre março e junho de 2009.

 

 

Palavras ao vento

10/10/2005


Os ventos que sopram da parte geograficamente elevada da cidade trazem com eles bravatas e rancores, nestes dias que precedem mais duas rodadas do Campeonato Brasileiro. A segunda delas será o chamado “clássico Atletiba”.

O técnico coritibano, Alexi Stival, o Cuca, curitibano de origem, cara branca, bochecha rosada, cabelo apolacado e tudo, teme o fracasso em sua cidade natal, depois dos últimos insucessos da sua equipe. Usa como tábua de salvação da sua moral, uma bravata: afirma que ganhará do Atlético. Se essas coisas pudessem ser levadas a sério no futebol, Evaristo de Macedo já teria pedido para os jogadores atleticanos marcarem algum outro compromisso no dia do clássico, uma viagem para a praia, um churrasco na casa de amigos, um passeio no shopping ou qualquer coisas que pudesse entretê-los, enquanto o Coritiba “Foot Ball Club” entrasse em campo para ganhar o Atletiba por WxO.

Lógico que no Umbará ninguém deu pelota. O Atlético treina para o próximo compromisso, de peso rigorosamente igual ao Atletiba, que é o jogo contra o Brasiliense, na Kyocera Arena. Um jogo que para o Furacão é de grifada importância, já que o time vive bom momento no campeonato e, respeitando os profissionais do Brasiliense, deseja a vitória para subir na tabela e confirmar a ascensão. Ninguém bravateia uma vitória certa, embora os torcedores não esperem nada menos do que isso. A dupla Cuca & Coxa têm um difícil compromisso contra o Paysandu, em Belém. Acho que da mesma forma como prevêem uma gloriosa vitória sobre o Atlético, visionam tomar uma traulitada impiedosa do Papão da Curuzu. Isso deve explicar a necessidade de já se pensar no Atlético e numa vitória obrigatória em casa. O Papão, jogando em Belém, na visão verde, é adversário imbatível, portanto, deve-se já esperar o outro jogo. Na visão verde, ainda, este um jogo fácil. Vencer um clássico, para o “estrategista” Cuca, o Rinus Michel do futebol paranaense, é mamão com açúcar. Ele já sabe o caminho das pedras.

Vemos com isso tudo que Cuca, treinador da nova geração, usa expedientes ultrapassados para tentar fazer com que suas equipes vençam jogos. Apela muitas vezes para a emoção, chora, esperneia, faz apostas perigosas e bravateia. São artifícios antigos de motivação. Muitos treinadores que sobrevivem no futebol brasileiro são desta categoria, a dos treinadores “motivacionais”. Geralmente seus trabalhos são de tiro curto, pegam times em baixa, motivam-nos, ganham alguns jogos na base do “vamos que vamos”. Mas, em algum momento, as suas equipes necessitarão de estratégias. Aí tudo se complica e, ao invés de planos de ação, dá-lhe factóides, provocações, vislumbramentos e afins. Já ouvi dizerem que Evaristo seria ultrapassado. Perto das estratégias de Cuca, as de Evaristo são de vanguarda e o velhinho um dos mais modernos do futebol. Certo foi Petraglia ao vetar o nome de Cuca quando da contratação de Antonio Lopes, mesmo com toda a imprensa local dando como certa a presença de Alexi Stival no comando Rubro-negro. Petraglia mostrou mais uma vez que sabe o que faz.

Deixemos o clássico para depois, vamos com tudo para cima do Brasiliense, com Dago e companhia. É isso que está empolgando a massa rubro-negra, pois o time que voltou a ser aquele que todos nós queremos. Nesta terça, a Kyocera Arena estará repleta de atleticanos em euforia, na véspera do feriado de Nossa Senhora de Aparecida, a padroeira do Brasil. Um programão para a véspera deste feriado será ver o Atlético de Evaristo de Macedo. A partir de quarta começamos a pensar em Atletiba. Aí, sim, poderemos imaginar o Furacão soprando de volta as palavras vindas do alto da montanha.

Que os coritibanos aproveitem a promoção de ingressos para assistir ao jogo, que vai até amanhã. Os preços que os verdes pagarão para assistir ao clássico deveriam ser os praticados sempre. É uma questão de valor. É mais barato um jogo a vinte na Kyocera Arena do que um a oito no sacolejante Major Antônio. Desta vez o preço é sem Nescau, Quik ou Neston. A única coisa que a torcida coxa não tem como saber é se neste jogo vai ter chocolate. A única pessoa que acredita em chocolate e, quem sabe, em coelho da páscoa, é o Cuca.


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