Jones Rossi

Jones Rossi, 46 anos, é repórter do Jornal da Tarde, em São Paulo, e um dos fundadores do blog De Primeira. Foi colunista da Furacao.com entre 2005 e 2008.

 

 

Motivação, uma grande besteira

08/10/2005


Toda véspera de clássico é a mesma coisa. Qualquer declaração que saia do ramerrame tradicional de obviadades ditas por jogadores e técnicos é usada como fator motivador para os adversários. E olha que dessa vez a afirmação nem foi tão original assim: Cuca - ousadia máxima - disse que o Coritiba ia ganhar o clássico. Foi o suficiente para que os apressadinhos fossem logo sugerindo usar isto para motivar o elenco atleticano. Calma aí, pessoal! Deixem-no sonhar em paz. Vocês queriam o quê? Escutar pela milésima vez aquele papo batido de "respeitar o adversário"? Ou esperavam que Cuca dissesse que perderia o jogo? Acho que chegou a hora de parar de uma vez por todas de alimentar tais bobagens pela imprensa.

Na época da final da Libertadores chegou-se ao cúmulo do jornal O Globo dar manchete para uma declaração de Paulo Autuori dizendo que iria usar um discurso de Antônio para motivar seu time. Detalhe: o discurso de Lopes falava justamente sobre usar declarações de Autuori para motivar o Atlético. Não entendeu? Provavelmente nem eles sabiam do que estavam falando.

Os dois casos acima mostram o nível de despropósito a que chegamos. Afinal, de que motivação maior um jogador precisa além do próprio fato de disputar uma final de Libertadores ou um clássico? E olha que existe o bicho, uma régia remuração em dinheiro dada após as vitórias. Tenho certeza que os jogadores devem ler o que sai na imprensa e dar risada. Primeiro por que tudo não passa de bobagem.

Duvido que algum jogador atleticano tenha se alterado por um milésimo de segundo por causa da declaração do técnico do Coritiba. E segundo por que eles tem plena consciência da importância do clássico e não precisam de motivação adicional para disputá-lo seriamente e pensando em ganhar.

Indignação vazia

Outra coisa que já deu o que tinha que dar é essa história de se indignar com a imprensa do "Eixo", sempre conspirando contra os times do Paraná e do Sul. Eu trabalho no Jornal da Tarde que tem, modéstia à parte, um dos melhores cadernos de esportes do País, se não for o melhor. E sempre foi dada grande atenção ao Atlético. Ano passado foi até preparado um caderno especial do Atlético Campeão Brasileiro, que infelizmente acabou não sendo publicado por motivos óbvios.

A entrevista com Petraglia que saiu na Furacao.com no início deste ano foi feita por mim para o caderno. Acho que a cobertura dada ao Atlético aqui em São Paulo é muito boa. Da mesma forma que ninguém de Curitiba espera que o caderno de esportes da Gazeta do Povo dê capa para o Corinthians todo dia, não se pode esperar que os jornais de São Paulo só falem do Atlético. Uma prova que essa suposta conspiração não existe é o fato que que a mesma imprensa a qual é acusada por aí de ser são-paulina aqui tem fama de ser corintiana.

O que acontece é que o Atlético cresceu. E junto cresceu o interesse da imprensa. O deslumbramento inicial com a Baixada, com o CT e com a torcida acabou e chegou a hora deles noticiarem coisas novas. E nem sempre as matérias são positivas. Tá certo que a desinformação ainda é grande na hora de falar sobre o Atlético, mas proporcionalmente não é maior do que em relação aos outros times. A imprensa esportiva em geral é ruinzinha mesmo, tanto que não conseguiu descobrir um gigantesco esquema de ladroagem no apito debaixo de suas próprias barbas. Quem descobriu foi a VEJA, que está longe de ser uma publicação esportiva. Mas não existe, absolutamente, interesse deliberado em prejudicar o Atlético.

Então vamos, por favor, parar com essa ladainha de boicote ao programa de TV X, à revista Y, ao jornal Z. O Atlético nunca precisou da imprensa para crescer, se tornar gigante e ganhar títulos. Não é agora que vamos começar a precisar.


Este artigo reflete as opiniões do autor, e não dos integrantes do site Furacao.com. O site não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso dessas informações.