Ricardo Campelo

Ricardo de Oliveira Campelo, 45 anos, é advogado e atleticano desde o parto. Tem uma família inteira apaixonada pelo Atlético. Considera o dia 23/12/2001 o mais feliz de sua vida. Foi colunista da Furacao.com entre 2001 e 2011.

 

 

Dago - com excessos

06/10/2005


Não gosto de exaltar excessivamente um determinado jogador. Dá azar. Ou, às vezes, faz o atleta “subir no salto”, e ele acaba baixando seu rendimento.

Mas é impossível deixar de se render – com todos os excessos – ao fenômeno Dagoberto, pelo que fez ontem diante do Fortaleza. Dagoberto é um jogador mais que diferenciado. A diferença que tem sobre os demais sobra. É como um motor 250 cilindradas correndo entre outros de 125. Como um atleta profissional disputando jogos contra universitários. Como um faixa preta de jiu-jitsu “rolando” contra faixas roxas.

Dago é diferenciado. Demais. Se o Atlético ontem construiu o resultado com três gols no primeiro tempo, a marca do atacante esteve presente em todos eles. No primeiro, construiu a jogada que resultou no escanteio. No segundo, sofreu a falta que resultou na conclusão de Aloísio/Danilo. E o terceiro ele mesmo tratou de fazer, com sua jogada titular de entortar o zagueiro, nos remetendo aos últimos três anos (2002-2004) em que vibramos com suas jogadas sensacionais vestindo a camisa rubro-negra. Dagoberto, ontem, fez o Atlético parecer o Atlético de 2004 – e temos que reconhecer que o vice-campeão brasileiro era mais forte que o vice-campeão da América.

Sempre dizem que o “se” não existe no futebol. Mas, “se” o “se” existisse, eu gostaria de dizer: “Ah, ‘se’ Dagoberto estivesse em campo naqueles jogos do Beira-Rio e do Morumbi...”

Obrigado por nos trazer de volta a emoção, Dago. Não vejo a hora de estar na Baixada mais uma vez gritando o seu nome.

Mafuz vs Diego/Petraglia

O colunista Rafael Barreto, do site Rubronegro.Net, escreveu nesta semana um interessante artigo sobre a “Metamorfose de Augusto Mafuz”. Barreto escreve, com muita propriedade, sobre algo que muitos já perceberam: o jornalista, que antes era sempre pró-Atlético, mudou. Deixou sua coluna ser influenciada por fatores diversos, como – e em especial – a rixa com Mário Celso Petraglia. Mafuz escreveu muita coisa que não esperávamos ler, como criticar a parceria com a Kyocera (invejada por todo o Brasil), como dizer que o vice-campeonato da Libertadores foi obra do acaso e enaltecer com certo exagero a diretoria dos “coxas” (como ele maliciosamente os chamava nos velhos tempos).

Também por esta rixa com Mário Celso – e talvez por alguma ligação pessoal com o ex-atleticano e também goleiro Flávio, dispensado por Petraglia –, Mafuz implicou, desde o começo, com o goleiro Diego. O goleiro gaúcho era uma aposta de Petraglia, e isso bastou para despertar incômodo no jornalista. No começo, Mafuz o incluía entre suas “listas” de jogadores, procedimento que vem utilizando ultimamente em suas críticas (exemplo hipotético: “A presença de jogadores como Diego, Igor, Fabiano, etc. fizeram com que o Atlético deixasse de conquistar o Brasileiro em 2004) ou elogios (exemplo concreto, referindo-se à partida contra o Flamengo: "Nesses quinze minutos finais, Dagoberto, Denis (!!!), Evandro e Ferreira fizeram o Atlético ser brilhante").

Hoje, Mafuz bate direta, e sucessivamente, em Diego. Chega ao claro excesso de remeter (com freqüência) o leitor à fatídica partida de Erechim, culpando o goleiro pelo empate conseguido pelo Grêmio no Brasileiro do ano passado. É claro que partidas como as vitórias sobre o Cruzeiro no Mineirão e contra o Vitória-BA em Salvador, em que o goleiro teve atuação decisiva, são esquecidas pelo jornalista, que, de tão envolvido em sua cruzada anti-Diego, chegou até a rememorar uma defesa de Flávio em 2002, quando escreveu:

Confiável é o goleiro que alcança o impossível. Lembram daquela defesa de Flávio contra o Paraná no gol dos vestiários da Arena? Já era gol, já era o fim. No entanto, o espetacular Flávio foi buscar a bola onde só o inglês Banks conseguiu na cabeçada de Pelé, no chão que parecia aberto tragando a humanidade. Não se engane com as eventuais defesas de Diego. Prestem atenção. São defesas possíveis e previsíveis. Estão no limite da obrigação. Passou dele a bola entra.” (Coluna de 09/09/2005)

Mas o mesmo Mafuz já se rendera a Diego (quando era impossível criticá-lo), dizendo o inverso do que diz agora:

Sempre vi defeitos em Diego. Talvez por isso, sempre me neguei a ver as suas virtudes, embora soubesse que existiam. No jogo de Assunção me rendeu. Não pelas defesas com bola correndo, algumas, milagrosas como a que fez num chute de falta, junto ao poste direito. Sem visão, usou a intuição. Tampouco pelo pênalti defendido, que nesta espécie de decisão, é a causa imediata de conquista. Minha rendição, pelo menos neste momento, foi em razão do seu comportamento pessoal. Antes da decisão, seu discurso impregnado de fé, criou a aura de otimismo em todos, inclusive em quem estava vendo pela televisão. Isso se chama carisma. (Coluna escrita após o jogo Cerro Porteño 2 x 1 Atlético)

Pelo que Diego fez na Libertadores, pelas defesas que fez no título paranaense de 2005, pelo que mostrou no Brasileiro de 2003 (em especial), no de 2004, e no início do atual (ou as defesas contra o Flamengo no empate em 1 x 1 já foram esquecidas?), sou contra essa campanha para tirá-lo sumariamente do time. Admito a discussão técnica, pois Diego realmente já foi melhor do que está hoje. Mas, tendo um pouco de memória, creio que julgar três anos de titularidade por quatro ou cinco partidas não é certo. Ainda mais quando se bate em Diego para acertar em Mário Celso.

Tiago Cardoso

Tiago Cardoso vem mostrando ser um excelente goleiro. E já acredito que poderá, em breve, se mostrar um substituto à altura, ou até melhor (por quê não?) que Diego. Mas não tenho dúvidas de que a boa-vontade que os “anti-Diego” mostram hoje com o jovem goleiro é não durará para sempre. Por se querer vê-lo como titular, o pessoal perdoa a deslizada de Tiago no gol do Fortaleza. Mas, fosse Diego que tivesse a mesmíssima atuação que Tiago teve ontem, estariam dizendo que quase complicou o jogo, que a defesa do pênalti não foi mais que obrigação, e que rebateu muitas bolas para o meio da área.

Por isso, ainda prefiro que Tiago venha a se tornar o titular quando estiver mais maduro, para evitar este tipo de crítica e se tornar um ídolo inconteste, como já foi Diego.



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