Jones Rossi

Jones Rossi, 46 anos, é repórter do Jornal da Tarde, em São Paulo, e um dos fundadores do blog De Primeira. Foi colunista da Furacao.com entre 2005 e 2008.

 

 

A mimada torcida do Atlético

01/10/2005


Caríssimo leitor, eu tenho 27 anos. Para alguns muito, para outros pouco. Como atleticano, já vivi bastante coisa. Estive presente nos principais momentos da história recente do Atlético. Vi todos os jogos do Atlético na Segunda Divisão de 1994 e de 1995. Eu estava no último jogo do Atlético na Segunda Divisão de 1994, logo após a eliminação para o Juventude, contra o Goiatuba, na Baixada. Eu e mais umas trezentas pessoas. Estava lá quando jogamos com o Barra do Garças, jogo que inaugurou a iluminação artificial da velha Baixada, já em 1995. Fui pra Mogi Mirim ver o Atlético subir para a Primeira Divisão em ônibus cata-osso que, se não demonstrava minha total devoção ao clube, mostrava um desapego tremendo à própria vida. Naquela viagem, organizada pela Fanáticos, eu e o meu amigo Fábio Tortato pagamos dez reais. Ida e volta. Imagine o grau da loucura.

Naquele mesmo ano vi o Atlético ser goleado pelo Coritiba no Couto Pereira na Páscoa. Mas vi também, com 3 a 0 na cabeça, a torcida cantar o hino completinho, do início ao fim, verso por verso, com uma força sobrenatural. Nem mesmo os 5 a 1 que marcava o placar final me tirou a satisfação de ouvir um amigo coxa-branca me confidenciar que jamais vira algo do tipo. E que achava que mesmo que vivesse mais cem anos nunca mais veria.

Acho que o caríssimo leitor já entendeu aonde quero chegar. Foi a torcida que mudou a história do Atlético. Ela lutou durante anos para ter um time à sua altura. E agora, que finalmente conseguiu, resolveu se apequenar.

Vaias, críticas desmedidas a bons jogadores, coisas que só a torcida coxa, que só a torcida são-paulina faz. Ora, há dez anos aplaudíamos "craques" (e bota aspas nisso) como Pádua, China, Camilo e Pateta. E eram aplausos sinceros. Aqueles jogadores eram ruins, mas se matavam pelo Atlético porque olhavam para as arquibancadas e viam uma torcida que os apoiava incondicionalmente.

Quem vaia o time não é atleticano. Ou não gosta de ser atleticano. É um louco. Para quem não gosta de ser atleticano há pelo menos outras 21 opções só na primeira divisão. Você pode se tornar coxa e ficar à sombra do maior rival, vivendo de mágoa contida e inveja indisfarçável. Você pode virar são-paulino e vaiar suas maiores revelações, como Kaká e Luís Fabiano, até que eles se mandem pra Europa. Depois, quando seu time for campeão, é só fingir que apoiou o tempo todo.

Há torcedores que acham que o time está lá dentro só para ganhar. Não é bem assim. O time entra em campo para representar honradamente as cores do Atlético. Ganhar é, na maioria das vezes, uma conseqüência. Nem sempre as coisas dão certo. O que não pode acontecer de maneira nenhuma é ver sair, das mesmas arquibancadas que ovacionaram o atacante Pateta, vaias ao goleiro Diego. Essa é a diferença do Atlético para os outros times. E que espero continuar vendo daqui a mais 27 anos.


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