Juliano Ribas

Juliano Ribas de Oliveira, 51 anos, é publicitário e Sócio Furacão. Foi colunista da Furacao.com entre 2004 e 2007 e depois entre março e junho de 2009.

 

 

Evaristo, um treinador de respeito

27/09/2005


O Atlético sai das experiências pediátricas para as geriátricas. Sem maldade o comentário, pois a experiência é um dos valores que mais enriquecem uma pessoa. Depois de apostar em novatos, o Atlético opta pela segunda vez seguida na vivência e traz o tarimbadíssimo Evaristo de Macedo, de 72 anos, para o lugar do também tarimbadíssimo Antonio Lopes. A diretoria parece gato escaldado.

Em um momento difícil como este que o Atlético atravessa, que é ficar sem técnico a poucos pontos da zona de rebaixamento já na metade final do campeonato, o conhecimento de Evaristo pode vir a calhar, pois já passou por isto outras vezes na vida. Em um clube com a estrutura do Atlético, ele só precisará colocar seus conhecimentos em prática para tirar-nos da situação que estamos. É uma situação diferente da que viveu no Vitória; o clube rumava à segunda divisão a passos firmes, totalmente desestruturado, e Evaristo não podia fazer nada, tanto que saiu antes da tragédia.

Evaristo já tem uma passagem muito boa no Atlético, quando da campanha de 1996. Tirou o time da parte rasa da tabela e o colocou nas fases finais, com um esquadrão que encantava o país com um futebol rápido e avassalador. Naquele time jogavam Ricardo Pinto, Alberto, Jorge Luís, Reginaldo, os polacos Nowak e Piekarski, Paulo Rink, Oséas, Alex Guerreiro, entre outros. O time era muito bom e o trabalho de Evaristo foi notável, e, quando de sua saída ao final do campeonato, muitos atleticanos, eu inclusive, lamentaram, pois sonhavam com sua permanência.

Dirigiu também os clubes de maior torcida do país, Flamengo e Corinthians, suportando fortes pressões, mas sem obter sucesso expressivo nestes clubes. Também não podemos desprezar a sua experiência, embora mal-sucedida, na Seleção Brasileira. Sofreu e resistiu à surreal pressão da mídia para convocar um exótico jogador do ABC de Natal chamado Jacozinho, que ficou famoso com o bordão nas telas da Globo: "Convoca eu, seu Avaristo!". Não foi muito bem na Seleção e deu lugar a Telê Santana. Mas assim como teve fracassos, teve grandes sucessos, como o título brasileiro com o Bahia de Bobô em 1988.

Volta agora ao Atlético. A diretoria deixa transparecer com esta contratação que o que busca é livrar o Atlético das trevas do rebaixamento, não importando a continuidade em 2006. Quem sabe teremos outro técnico para iniciar o próximo ano e mais um troca de treinador, algo que a torcida já está bem cansada. Havia opções mais jovens, como o conhecido Tite, mas, fora dos padrões salariais do clube, foi preterido, além de querer trazer toda a sua comissão, o que sairia mais caro e não seria o momento para isso. Mas em algum momento a diretoria terá que investir em um técnico que possa nos levar a vôos mais altos do que a fuga de um descenso.

Evaristo está de bom tamanho para o momento. Não é o que eu queria e sua contratação surpreendeu a muitos que já esperavam, de forma pessimista, nomes desconhecidos ou apostas do naipe de Vágner Mancini, do Paulista de Jundiaí, a nova sucursal atleticana. A contratação de Evaristo mostra bem que a diretoria absorveu os erros do passado. A era dos técnicos novatos parece que se finda. Mas será que uma nova era se inicia? Quem será o próximo? Rubens Minelli, direto da aposentadoria? Acho que não. O clube buscou um nome e achou o de Evaristo, só isso. Um bom nome, que pode trazer o alívio nas próximas rodadas. Do alto de seus 72 anos, tem muito a ensinar à garotada do Atlético. Mas, mais que ensinar, tem que ser firme, pois o atual grupo atleticano não parece muito coeso, e, sem disciplina, já dizia o meu avô e o de todo mundo, não se vai a lugar nenhum.

Como sempre, independente do torcedor gostar ou não do novo técnico, é o momento para se cumprir a premissa básica de todo apaixonado pelas cores vermelho e preta do Atlético Paranaense: apoiar, incentivar e não prejudicar o trabalho do vivido Evaristo. Lembre-se que um dia você o aplaudiu, se não lembra, ou era muito novo, saiba que Evaristo fez parte de um momento que todos os atleticanos guardam no coração, que é a campanha do Brasileiro de 1996. Eu dou todo o apoio a Evaristo, porque de mim ele já tem o básico: respeito.


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