Rogério Andrade

Rogério Andrade, 52 anos, é administrador. Atleticano de "berço", considera a inauguração da Arena da Baixada como o momento mais marcante do Atlético, ao ver um sonho acalentado por tantos anos tornar-se realidade.

 

 

Vida dura

19/09/2005


Acompanhei ontem uma declaração do ex-jogador e ídolo Barcímio Sicupira, sobre a sua interrupção na carreira de treinador de futebol na década de 70. Segundo Sicupira, só aceitou o convite porque foi pego de surpresa pela diretoria do Atlético, caso contrário nem teria experimentado tal profissão.

Para o ídolo, ser treinador no Brasil não é vida, é muito risco e algo que não é tão valorizado como em outros países. Por aqui há uma rotatividade enorme e o treinador atravessa os quatro cantos do país, desde à seca do Nordeste até o gelo do Sul em pouco tempo. Terrível e injusto, se vence um jogo difícil é considerado Deus, se empata com o Paysandu em Belém é covarde, irresponsável.

O treinador de futebol aqui no Brasil é um verdadeiro saco de pancadas, daí a estratégia e inteligência de Sicupira em pular fora e nunca mais pensar na frustrante e arriscada profissão. Talvez hoje sua imagem como ídolo fosse outra, talvez muito melhor, talvez bem pior caso ele desse prosseguimento à carreira.

É lógico que existem profissionais que não possuem o mínimo de perfil para a profissão e graças à falta de direção de futebol do Atlético já tivemos a oportunidade de ver isso de perto. Por outro lado existem outros que provocam dúvidas e polêmicas, mas são no mínimo, bons técnicos. Estes sim, vivem facilmente os dois lados da moeda em curto espaço de tempo e são amados e odiados pela torcida da noite para o dia.

No Atlético então, é moleza! Fácil, fácil de acontecer isto. O Atlético é vice-campeão das Américas por mérito do grupo e pelo raciocínio perfeito de um homem chamado Antonio Lopes, o qual colocou ordem na casa em um tempo difícil e que encontrou o caminho do sucesso. Agora o Atlético vive um momento perigoso, estamos à beira do terrível grupo do rebaixamento, e quem é o culpado? Ele, o professor Antonio Lopes.

Não quero aqui defender em todos os aspectos o treinador, pois todos sabemos que existem falhas, porém temos que avaliar os antecedentes, os motivos e o histórico desta trajetória no campeonato brasileiro. Não existe ponte no Atlético hoje em dia. A conexão é direta, ou seja, a diretoria administrativa contrata, a comissão técnica que se vire. Sobra ao treinador todas as funções possíveis, como avaliação dos atletas, auto-crítica, cobrança a ele mesmo, enfim, deve dar todas as respostas e seu único conjunto é o elenco.

Pois bem, relato todo o texto apenas para dizer que é necessária uma ponte, mais conhecida como direção de futebol. Se já é difícil ser treinador neste país, no Atlético então, sem um diretor e uma estrutura de um departamento de futebol, o técnico pode facilmente ser o Deus e o Diabo em apenas uma semana. O ser humano, por si só, já depende de um líder. Todos precisamos de líderes e não podemos assumir sozinhos todas as responsabilidades do êxito ou do fracasso. Lopes também precisa de um líder, no mínimo um guia de futebol, mais conhecido como coordenador ou diretor.

Antonio Lopes erra? Claro, é óbvio que está errando, mas não pode ser culpado pela péssima campanha do Atlético. Não seria justo com o profissional Lopes, tendo em vista a falta de planejamento futebolístico no clube, a qual sempre teimamos em cobrar e a qual já cansamos de ouvir que a modernidade não exige isto. Ou isso entra na cabeça de alguns dirigentes, ou vamos viver de contratações bisonhas, incoerentes e arriscadas.

Uso até o exemplo de ontem. Sacrifica-se um jogador em evolução, Douglas, que vem das categorias de base do clube, a qual o Atlético é reconhecido por revelar grandes jogadores, para tentar uma melhor sorte com uma escalação diferente, com André Conceição e Cristian, ambos recém chegados, o primeiro do Guarani, o segundo do Paulista. Um ou outro pode até mostrar qualidade, mas e o entrosamento, o conjunto, as oportunidades? E Douglas no banco, não entendo. Ontem não era um jogo amistoso e não podemos chegar ao final do campeonato fazendo testes ou buscando um conjunto ideal, caso contrário, iremos até encontrar este conjunto, mas para jogar a série B em 2006.

Fica a dúvida e fica também o suspense de até quando vamos meter os pés pelas mãos. Caso contrário, fica fácil, muito fácil culpar o treinador por todas as coisas ruins que acontecem. Não é bem assim, torcedor, não é bem assim!


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