Ricardo Campelo

Ricardo de Oliveira Campelo, 44 anos, é advogado e atleticano desde o parto. Tem uma família inteira apaixonada pelo Atlético. Considera o dia 23/12/2001 o mais feliz de sua vida. Foi colunista da Furacao.com entre 2001 e 2011.

 

 

A dura vida do goleiro II

15/09/2005


"É impressionante a facilidade que se tem para criticar um goleiro. (...)

Para o goleiro, a linha que separa a glória e o fracasso é muito tênue, é bem difícil permanecer nela. E também é muito difícil reverter um quadro durante o jogo. Se o centroavante perde um gol feito, pode marcar na sequência e apagar a má impressão, mas muito dificilmente um goleiro tem a oportunidade de se reabilitar. (...)

Uma das coisas mais injustas é a crítica sem critério. Principalmente para se avaliar um lance de goleiro, é preciso conhecimento técnico para julgar qualquer culpa. (...).

Parece-me que a má vontade da crônica e dos torcedores com Diego é maior do que o normal. Mas o curioso é que as atuações do jogador não deixam em nada a desejar em relação ao ex-ídolo Flávio. Talvez por este haver sido tenha mandando embora em boa fase, razão pela qual a torcida estaria exigindo que o substituto atue muito melhor do que ele. (...)

Vejo em Diego uma grande pessoa, de fibra, que não tem medo de obstáculos, de críticas, e, principalmente, que não gosta de perder. (...) Posso estar enganado, mas vejo para Diego um grande futuro no Atlético. Acho que ao menos a torcida tinha que ter um comportamento melhor, em favor do atleta, o que trará, como conseqüência, benefícios ao Clube, que pode ganhar até mesmo um líder em campo.


Escrevi esta coluna no começo de 2003. Depois disto, o atual goleiro titular do Atlético mostrou a todos seu valor. Foi excepcional no Brasileiro daquele ano e manteve o nível nos demais campeonatos. Na última Libertadores, foi totalmente decisivo para levar o Furacão à final, arrancando elogios até dos críticos mais ferrenhos. Deu show nas semi-finais, e na primeira partida da final fez uma defesa milagrosa que evitou uma vitória são-paulina já no primeiro jogo.

De repente, o Atlético começa a atravessar um mau momento no Brasileiro, o time não vem jogando nada e os resultados negativos vão aparecendo. Pronto: já começam a malhar o arqueiro, falando até em "má-fase" e fazendo, muitas vezes, críticas desprovidas de qualquer fundamento. Gente que antes dizia que Diego fazia defesas complicadas mas levava gols "fáceis", hoje diz o contrário: que o goleiro não pega as bolas difíceis.

Falível, todo jogador é. Flávio falhava, como falhou na primeira partida da final contra o São Caetano, em 2001. Foi salvo por Alex Mineiro, e por isso escapa de ser lembrado para sempre negativo. Particularmente, acho que a falha mais recente de Diego foi a armação da barreira no terceiro gol do Santos. Não que uma barreira maior evitaria que o chute perfeito de Ricardinho entrasse, mas forçaria o santista a bater mais colocada, e não simplesmente encher o pé, como acabou fazendo. Fora esse, não me recordo de outro lance das últimas partidas que possa ser atribuído ao arqueiro.

Volto a ficar impressionado com a facilidade que se tem para criticar o goleiro. Quando a falha é da zaga, o pessoal dá um desconto, fica na dúvida se critica ou não, ou esquece de criticar (no lance que citei acima, não vi ninguém criticar o zagueiro que tomou um drible fácil e acabou cometendo a falta na entrada da área). Quando o atacante perde gols, o lance é logo esquecido pela torcida (Washington perdeu um gol feito contra o Vasco, em dezembro). Mas quando o pessoal meramente desconfia que houve falha do goleiro, já sai descendo o pau - e aí começam as críticas infundadas, mesmo porque pouca gente conhece realmente a posição de goleiro, apesar de acharem o contrário. Toda bola é do goleiro, todo chute é defensável, e quando o time leva goleada, mesmo que os jogadores sejam medonhos, o goleiro sempre vai ter a culpa dele.

Não faço aqui uma defesa particular de Diego, mas sim da posição de goleiro. Nessa posição é que jogo as "peladas" e alguns campeonatos amadores (nesses jogos, também toda bola é do goleiro e todo chute é defensável). Inclusive já tive o privilégio de treinar com o excelente Tininho, preparador de goleiros do Malutrom, e aprendi muito sobre essa posição tão sofrida e criticada. Não que eu tenha grande conhecimento, pelo contrário, mas sei coisas básicas como por exemplo o quanto é difícil defender um chute quando há dois ou três jogadores bloqueando sua visão.

Não é possível que Diego lidere a Bola de Prata da Placar à toa. Seria algum julgador do prêmio amigo particular do goleiro? Acredito que não. O que vejo são críticas sem procedência, além de ataques por motivações pessoais, em especial críticos que batem em Diego para acertar em Petraglia, que foi quem o contratou. Vejo também pessoas exaltando o reserva Tiago Cardoso, que mostrou ser um bom goleiro, mas que jogou pouquíssimas vezes, nada suficiente para nenhuma conclusão. Essas pessoas provavelmente seriam as mesmas que, na primeira falha de Tiago, pediriam sua saída do time.

Acho que seria melhor que as críticas fossem mais fundamentadas, e, principalmente, distribuídas entre todos os jogadores, não só o goleiro. Melhor para o Atlético.


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