Juliano Ribas

Juliano Ribas de Oliveira, 51 anos, é publicitário e Sócio Furacão. Foi colunista da Furacao.com entre 2004 e 2007 e depois entre março e junho de 2009.

 

 

O preço da mediocridade

05/09/2005


Mais de dez milhões de reais. Foi quanto custou ao Coritiba Foot Ball Club Massachussets Ohio Paraná uma atitude de inefável mesquinhez. Nem a pomposa grafia anglo-saxônica contida no nome da agremiação verde pôde disfarçar a situação de penúria que viveu o clube desde 1998. Iniciada, por tabela, pelo Atlético.

O Rubro-negro dos paranaenses precisava de um atacante e foi buscar, junto ao Mérida, time de segunda divisão da Espanha, o atacante Cléber, outrora de grande sucesso perante o povo coritibano. Veio o sujeito, vestiu a camiseta atleticana e foi para a concentração. Em uma ação de dar inveja à CIA e ao FBI, o CFC tirou, na calada da noite, a estrela coxa do hotel em que estava hospedado com a delegação do Atlético. O argumento para convencê-lo: quase dois milhões e meio de dólares. Sim, dólares.

Na época, vivíamos épocas de quase paridade à moeda norte-americana. Porém, poucos meses depois, FHC, em janeiro de 1999, abriu o câmbio e desvalorizou o real, causando dívidas em dólares a muitos brasileiros e ganhos escusos a alguns poucos especuladores que compraram dólares pouco antes. O Coritiba ficou no time dos prejudicados pela medida. Um corvo disfarçado de tucano sobrevoou as finanças verdes. Sete anos depois, o time verde ainda sente os efeitos de ter gastado tanto e contraído uma dívida em verdinhas americanas, que viraram dez milhões de reais.

A mediocridade de pensamentos e ambição transformou, no imaginário coxa, um atacante de currículo obscuro, com boas passagens apenas por Mogi-Mirim e pelo prório Coritiba, numa estrela de 2,5 milhões de dólares. O que para o Atlético era mais uma contratação, para os verdes transformou-se em questão de honra. Pouco nos importava perder aquele atacante, mas para eles foi uma vitória sobre nós. Uma mostra de "grandeza". Tentaram mostrar quem tinha café no bule. E amargaram anos de encolhimento, ameaça de perder o roto patrimônio e viram a ascensão do Atlético sem poder acompanhar-nos, apenas nos seguir à distância.

Semana passada o presidente verde Giovani comemorou como um título a maior conquista coritibana dos últimos anos: o pagamento de tais dívidas, negociadas com o banco Bradesco. O CT foi salvo e o trepidante Couto Pereira tem agora a garantia de que não vai faltar tinta verde e branca para disfarçar as rachaduras. Aplausos para o presidente coxa, uma vaia para a mentalidade pequena que ainda permanece no Alto da Glória. Isso talvez leve mais do que sete anos de azar. Até porque, ela não só é incentivada internamente, como é também por parte, a grande parte, da imprensa esportiva paranaense.

O Coritiba não sabe o que é estar na berlinda e ser prejudicado por armações dos unidos clubes de São Paulo e sua imprensa de tinta fortemente bairrista. O Atlético, em seu projeto de transformar-se em um dos maiores clubes das Américas, leva no vácuo todo o futebol paranaense, inclusive o Coritiba, que se beneficiou com a exposição nacional e internacional do Atlético. A imprensa esportiva paranaense pôde finalmente ter notícias que envolvem assuntos de grande repercussão. Crescemos como um todo. Mantivemos três times na primeira divisão e o Atlético situou o estado como força nacional. Sem mania de perseguição, o ranço de alguns setores de fora do Paraná, como dirigentes de clubes e imprensa, está mais forte do que nunca sobre nós.

Não sou ufanista, tampouco hipócrita. Porém, vejo o lado bom das coisas. Neste desafogo coxa, o que não pode ser desprezada por parte deles é a lição e o aprendizado que a pindaíba braba causou. Agora mais mansa, a pindaíba coxa deve ser, num futuro próximo, administrável. E que a partir de agora, atitudes autofágicas e provincianas como a do episódio Cléber sejam cada vez mais raras no futebol paranaense. Os times daqui têm que se engrandecer, pois o STJD carioca e a mídia paulista são maiores que nós. Os clubes paulistas, principalmente, apenas se beneficiam de um ambiente favorável a eles. Os times paranaenses têm que fazer este ambiente menos desfavorável a nós.

Como? União não é a palavra, mas sim convivência racional e foco em objetivos maiores. Menos fanfarronice e mais fortalecimento de estruturas, que inicia dentro dos clubes e passa pela imprensa. As torcidas podem continuar fomentando uma rivalidade que sempre é benéfica. Mas aqueles que vivem do futebol paranaense e fazem dele um meio de vida, deveriam pensar no que o engrandecimento das equipes nacional e internacionalmente traria de bom. No prejuízo que notícias mal-investigadas e o ataque à imagem de pessoas que nem sempre são vilões da história pode causar. Está mais do que na hora do futebol paranaense, capitaneado pelo Atlético, ter mais do que destaque, mas, sim, ser uma potência nacional. Condições para isso não faltam.

O Cléber não passou de um nada para o Atlético, que lucrou e festejou muito mais com um outro, com grafia com "k", o incendiário Kléber, que marcou o tal nome no estado, a partir de 1999. Tentativas de diminuir o rival e impedir seu caminho provaram ser inócuas e engessantes. E, pior, destruidoras. Que a partir de agora, desta lição coxa, os clubes paranaenses sigam seus caminhos, cada um o seu, e antenados nos perigos que vêm de fora. O Atlético faz isso há mais de dez anos, com Petraglia. E o benefício disso é inegável e os frutos estão nas retinas de quem quiser ver.


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