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Juliano Ribas
Juliano Ribas de Oliveira, 51 anos, é publicitário e Sócio Furacão. Foi colunista da Furacao.com entre 2004 e 2007 e depois entre março e junho de 2009.
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Procura-se um rival
29/08/2005
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Não somos rivais do São Paulo Futebol Clube. Não há rivalidade entre o povo malvadamente apelidado de especimen cervÃdea e o povo rubro-negro do Paraná. Muita coisa aconteceu este ano, polêmicas e uma decisão de grosso calibre entre as agremiações. Mas alguns arranca-rabos não são suficientes para criar uma rivalidade, como já ouvi falar que existiria. Nós somos, mesmo que ande faltando faÃsca na parada, rivais dos coxas.
A grafia em caixa baixa do apelido dos verdes neste texto não é ocasional. Assim como é irresistÃvel me referir a eles como "coxinhas", "verdes", como acima, e outras alcunhas. Em outros tempos, quando ainda tinham importância, quando ainda circulávamos na mesma esfera de disputas, e eu também era mais jovem e mais impulsivo, eu me referia aos coxas como "nazistas" ou "porcos". Eu não uso mais estes termos agressivos não tanto por polidez, adquirida com o tempo, mas mais porque não há Ãmpeto o suficiente para isso. Hoje o Atlético mudou bastante o foco. Mira em grandes alvos. Nos últimos anos, deixamos um pouco a autofágica disputa estadual para disputar tÃtulos com outros clubes, de outros estados, como Cruzeiro, Santos, São Paulo, São Caetano. Não por acaso, clubes tão bem estruturados como o Atlético.
Mas a verdade verdadeira, mesmo que eu esteja longe de ser dono nem que de um por cento dela, é que, tirando as disputas de momento, a história que elas criam, o registro que fica de qüiproquós e rusgas, e a atenção maior que passa a ser destinada a cada novo encontro, não há rivalidade que se possa chamar desta forma, que não seja estadual. O Corinthians não é rival do Flamengo, os times de maior torcida do paÃs. O Flamengo, não é rival do Atlético-eme-gê, apesar do imbróglio causado por José Roberto "Wrong" nos ÃnÃcio do anos oitenta, numa decisão de Brasilero e da atenção que se cria a cada novo encontro. O Grêmio não é rival do Palmeiras, apesar de terem feito eletrizantes encontros nos anos noventa. E por aà vai.
O Brasil é muito grande e dividido e o número de times que chegam aos pÃncaros de disputas é elevado. Na Argentina, por exemplo, todos os principais clubes daquele paÃs se situam em Buenos Aires e cercanias. River, Boca, Independiente, Velez. No Brasil, não. De Pernambuco ao Rio Grande, há times que disputaram e disputam tÃtulos importantes. Gente muito diferente não só no sotaque, mas nas mentalidades e no jeito de encrencar com aqueles que não são seus pares. É bom sair na rua e já ter com quem tirar uma onda, é um prazer fazer uma troça amiga com os adeptos do time rival após uma vitória sobre os mesmos ou mesmo na derrota destes para outrem. Eles entendem o que a gente fala, mesmo que não gostem. Tirar um sarro de coxa é bom demais, ainda que em desuso.
Os são-paulinos nem sabem encher o nosso embornal. Ofensa pra eles é nos chamar de "time pequeno" ou de "pé-vermelho" e exaltar as qualidades de seu time, realmente campeonÃssimo. Os bambis são chatos e insitentes. Sem nenhum humor, são rançosos em seus comentários, que lotam nossa caixa postal a cada opinião dada aqui no saite em que haja referência ao seu mimoso time. Eu não quero essa turma pra rival. Eles são muito chatos, isto que digo não é ofensa deliberada, apenas observação. Talvez o discurso e o estilo deles dê mais certo com corintiano, com palmeirense, mas com a gente não.
Se não tivessem acabado com a Sul-Minas, um campeonato batutÃssimo, quem sabe surgiria alguma rivalidade entre a gente e os gaúchos, pela proximidade e pela grande quantidade deles no Paraná e de paranaenses lá no Rio Grande. Mas nunca ia ser como os coxas. Já é provocação dizer que os coxas não são mais rivais. Dizer para um coritibano que a gente não dá muita pelota para eles é a tirada do momento. Mas, também, eles não param de nos dar razão. O dirigente coxa, aquele sempre investigado, não pára de cuspir ofensas a tudo que é do universo atleticano. É a maneira de ele tentar se emparelhar ao Atlético: diminuindo nossas vultosas conquistas, chamando contratado nosso, que fez mais gols em oito jogos que o colombiano Ari em um campeonato brasileiro inteiro, de pangaré, e outros circos mais que ele monta.
Revolucionamos o futebol do estado e do paÃs, ganhamos tÃtulos importantes e disputamos cabeça a cabeça outros tantos e lá está o dirigente coxa, bravateando e cuspindo fogo pelas ventas. O torcedor coritibano deveria cobrar menos papo e mais trabalho, para tentar pelo menos equiparar as coisas com a gente. O Atlético quer um rival. Tem gente procurando em outros territórios o que a gente poderia ter aqui dentro. O São Paulo não é rival. Nunca vai ser, eles preferem os "porco" ou os "gambá", como chamam. Eles estão emparelhados com o São Paulo e quando estão abaixo, nunca é por tanto tempo, como o Coritiba, abaixo em tudo há mais de uma década. Nós já ficamos assim nos anos setenta, mas somada à nossa incompetência estavam razões sombrias de manipulações.
Faço um apelo ao dirigente coxa; menos papo, mais trabalho e devolva-nos a graça de uma verdadeira rivalidade. Tem gente na torcida do Atlético procurando onde não precisa. Ela está aqui, perto da gente. Denegrir quem está no alto não o coloca lá. Disputem tÃtulos nacionais com a gente, melhorem o sucateado patrimônio e arrumem as contas, aà venham falar alguma coisa. Por enquanto, na prática, a gente está sem rival. Na teoria e na história, temos o coxa. Mas que está perdendo cada vez mais a graça, está.
Na semana da pátria, tem pega contra o Santos. Tá aà um time que é bem mais empolgante brigar.
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