Ricardo Campelo

Ricardo de Oliveira Campelo, 44 anos, é advogado e atleticano desde o parto. Tem uma família inteira apaixonada pelo Atlético. Considera o dia 23/12/2001 o mais feliz de sua vida. Foi colunista da Furacao.com entre 2001 e 2011.

 

 

Grandeza de espírito

25/08/2005


Eu torço - e sou fanático - pelo Atlético porque ele me traz alegrias. Pra mim, a função de um time de futebol é, ou deve ser, trazer alegrias, dentro de nossas pretensões. Acompanhei, durante a infância, o Atlético sofrer, e, justamente por isso, a felicidade em vê-lo no topo na atual década, campeão brasileiro e disputando títulos nacionais e internacionais, é extrema. O Atlético torna minha vida melhor. É um clube que me proporciona uma alegria incomensurável, a maior possível para um torcedor.

Tenho orgulho das raízes humildes e da ascensão atleticana. Orgulho de pertencer a um estado discriminado, e ainda assim, conseguir destaque única e exclusivamente com base em fatos, em conquistas. De que adianta ser um clube “grande”, do eixo econômico do país, arrotar arrogância, conquistar uma Libertadores, se essa alegria é tão tênue? Tênue a ponto de ser devastada por uma vitória no campeonato brasileiro.

Sim, a quantidade de e-mails repletos de ódio que a Furacao.com vem recebendo dos são-paulinos, além dos textos publicados em sites paulistas, é prova de que a alegria proporcionada pela Libertadores faz parte do passado; hoje os torcedores estão intensamente incomodados por mais esta derrota para o Atlético na Arena. O nervosismo dos jogadores tricolores, que fizeram um pacto com os dirigentes para “não perder na Arena”, e durante a partida deram cotoveladas e pancadas para todos os lados também mostram a raiva que destinam ao Atlético, e que não foi mitigada pela conquista continental. A posição dos dirigentes são-paulinos de buscar este “pacto” com seus jogadores, e agora a ridícula tentativa de interditar a Arena, também são sintomas do rancor que domina seus corações e não os permite esquecer deste clube chamado Atlético Paranaense, que (e aí vem o paradoxo) eles adoram chamar de pequeno, de insignificante.

O tamanho do espírito das pessoas, infelizmente, não acompanha a grandeza de um clube.

Atitude acertada

Não entendo o porquê do tamanho desespero são-paulino. A (nova) derrota do São Paulo para o Atlético, na Arena, só mostra o quanto foi acertada a atitude dos dirigentes tricolores em tirar a final da Libertadores do estádio atleticano, onde, certamente, o resultado seria diferente e possivelmente o destino do torneio também.

Só não consigo entender a relutância dos são-paulinos em reconhecer que foi o medo, sim, que os fez recusar jogar na Baixada. De fato, havia o regulamento, mas a Conmebol tornou-o flexível desde que houvesse a anuência do São Paulo. Certamente o tricolor não preferiu o Beira-Rio pela distância, ou pelas condições climáticas. Preferiu fugir da Baixada pois sabiam que iria acontecer o de costume: vitória atleticana. Simples, inesquivável. Negar isso é hipocrisia das brabas, pra não dizer covardia.

Dois estádios, duas medidas

Poucos meses atrás, acompanhando a Copa Libertadores, vi pelo Sportv a transmissão de São Paulo x River Plate, no Morumbi. Vi, ao vivo, os torcedores do River Plate serem, em um primeiro momento, acuados pela PM paulista, e, posteriormente, darem um legítimo “corridão” nos policiais. Os “modernos” bancos de praça utilizados nas arquibancadas foram facilmente quebrados e transformados em armas. Vi uma situação periclitante, um clima de guerra e que terminou com vários feridos. Vi também as notícias de que o ônibus com a delegação argentina foram apedrejados, um episódio profundamente lamentável, que colocou em grave risco a integridade dos atletas do River.

Não vi nenhum pedido de interdição do Morumbi pela imprensa.

Neste sábado, no jogo em que o Atlético bateu o São Paulo, vi um emocionado Mário Celso Petraglia insultar o jogador tricolor que aleijou o meia Fabrício, do Atlético. Vi também os componentes do banco de reservas fazendo um escarcéu por causa de uma bola de tênis (depois não querem ser chamados de bambis), que ingenuamente caiu da mão de um menor de rua malabarista, que teve a sorte de conseguir entrar no estádio, mas não teve a sorte de contar com a benevolência dos atletas para recuperar seu instrumento.

Já vejo a imprensa cogitando, e até pedindo, a interdição da Arena.

Dois jogadores, duas medidas

Em 2001, vi Cocito ser imprudente, e, embora tenha tentado evitar, não conseguir conter a força do escorregão, atingindo o então meia são-paulino Kaká, que teve que deixar o jogo.

Vi a imprensa crucificar Cocito, estigmatizando-o como jogador violento e achincalhado-o com termos chulos, indignos de serem destinados a um jogador de futebol.

No último sábado, vi Alex perder o domínio da bola. Fabrício se aproxima dela com mais velocidade e muito mais condições de tocá-la. Vi Alex, provavelmente imbuído do nervosismo gerado pelo “pacto” feito com os dirigentes são-paulinos, chegar dura e irresponsavelmente no lance, com tamanha força que rompeu o ligamento do joelho de Fabrício, fraturando-lhe ainda a tíbia. Vi que o jogador atleticano apenas virou a perna, tentando – sem sucesso – escapar do choque com o desesperado são-paulino.

Vejo a imprensa dizer que não houve maldade por parte do jogador são-paulino, que foi um lance de azar. Vejo alguns chegarem ao devaneio de afirmar que Fabrício teve maldade no lance.

Esse é o país em que vivemos.

Abre aspas

“No futebol é normal um xingamento aqui, outro ali. Quem não agüenta é bambi.” Edílson

Mensagens

Amigos são-paulinos, vocês devem levar cerca de um minuto para nos escrever uma mensagem. Nós levamos aproximadamente três segundos para identificar que o remetente não é atleticano, e apertar os botões shift + delete. Cabe a vocês decidir se vale a pena continuar escrevendo.

Antonio Lopes

A imprensa publica boatos de que os jogadores atleticanos estariam insatisfeitos com o estilo “lina dura” do treinador Antonio Lopes. O curioso é que esse mesmo grupo reclamava que o estilo de Casemiro Mior era muito “mole”. Vá entender!?

Defesa

Como jogaram bem ontem os zagueiros Paulo André e Danilo. Podemos perceber que os jogos contra São Caetano e Paysandu foram exceções. Esta dupla de zaga ainda nos vai dar muitas alegrias. Assim como o volante Douglas, que arrebentou contra o São Paulo e ontem mostrou a mesma segurança na vitória sobre a Ponte Preta.


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