Bruno Rolim

Bruno Rolim, 42 anos, é bacharel de Turismo e jornalista. Filho de coxas, é a ovelha rubro-negra da família. Descobriu-se atleticano na final do Paranaense 90, com o gol do Berg. Foi colunista da Furacao.com entre 2002 e 2007.

 

 

O Atlético, entre Bragantinos e São Caetanos (2*)

20/08/2005


Bom, estamos de volta, continuando o texto da semana passada, no qual estabeleci uma pequena comparação contextual com clubes como Bragantino e São Caetano, agora venho a falar das perspectivas futuras do Atlético dentro do futebol brasileiro.

Atualmente, vivemos uma conjuntura favorável ao crescimento do Atlético: clubes de grande torcida e tradição, como Flamengo, Vasco, Atlético Mineiro, Grêmio e Fluminense atravessam momentos muito difíceis, oferecendo assim espaços para que o Atlético tente se estabelecer como um clube de ponta dentro da elite nacional. Hoje em dia, coloco apenas dois clubes como grandes em situação privilegiada: o São Paulo (em minha opinião, o maior clube brasileiro), atual tricampeão da Libertadores, um dos poucos clubes de grande torcida - e cada vez mais crescente - que soube se adaptar a esta nova realidade do futebol brasileiro, se modernizando; e o Cruzeiro, com uma torcida menor que a do São Paulo, mas como uma estrutura e organização tão boas quanto. Há o Corinthians, que é um caso à parte, pois o combustível financeiro da MSI acabou por mascarar muitas coisas que estavam erradas no clube - mas é uma enorme torcida, e um grande potencial.

Há aqueles clubes que estão no caminho certo, no processo de reformulação e investimento em estrutura: o Santos já colhe os frutos da reestruturação do clube no início desta década: suas categorias de base revelaram grandes jogadores e o clube está até hoje disputando títulos, escapando da negra fase dos anos 70 a 90; o Internacional, que tem uma das melhores categorias de base do Brasil, se não a melhor, e uma bela estrutura para seus jogadores; e o Palmeiras, que se utiliza do fato de ser um clube de grande torcida, mas ainda está um passo atrás de seus companheiros de estado.

Entre os clubes do Rio, percebo uma grande diferença entre os clubes: o Flamengo, por mais que esteja vivendo uma época de crise, fruto de más administrações anteriores, está tentando se recolocar no topo: o clube reduziu drasticamente seu orçamento, e está canalizando estes recursos para o pagamento de dívidas - e tem tido relativo sucesso neste ponto. Clube de maior potencial de marketing do Brasil, o Flamengo apenas necessita aprender a utilizar sua imagem; o Botafogo é outro clube que está tentando se reestruturar, e tem conseguido com uma administração responsável, sanear alguns problemas. Num futuro próximo, dificilmente veremos Flamengo e Botafogo disputando títulos - mas, se os objetivos deles forem cumpridos, poderemos ter equipes do Rio novamente em condições de disputar títulos.

Finalmente, temos os grandes em situação delicada: o Fluminense apenas está com uma equipe razoável por conta do investimento feito por uma empresa de convênios médicos, não tendo uma estrutura favorável, e tendo muitas dívidas, que estão apenas aumentando; o Vasco da Gama é outra equipe que sofre: graças à figura nefasta de seu presidente, o clube acaba tendo sua imagem manchada - o que pode ser percebido no fato do clube não ter nenhum patrocinador, pois poucos gostariam de ter sua imagem ligada a um clube famoso pelo regime ditatorial de seu presidente; o Grêmio apresenta dívidas monumentais, está hoje na Série B, e somente sobrevive por conta de alguns jovens valores revelados pelo clube, que estão sendo vendidos a preço de banana; e, finalmente, aquele o qual considero como o grande em situação mais difícil: o Galo. o Atlético Mineiro está naquela que pode ser considerada a pior crise de sua história - repleto de dívidas, com uma estrutura deficiente, tendo seu presidente envolvido no escândalo do governo, através de seu banco, com uma torcida que invade campo para agredir seus próprios jogadores - ironicamente, a torcida do Galo é tida como uma que nunca abandona o clube. Esta fama está sendo jogada ao chão agora.

Enfim, a situação dos grandes acima permite uma melhor inserção do Atlético Paranaense dentro deste cenário. O Atlético não apresenta tradições e glórias do porte dos clubes acima, tampouco recebe os mesmos recursos de televisão, porém está em uma trajetória ascendente. É um clube administrado de uma forma mais moderna - modelo seguido por São Paulo e Cruzeiro -, dando completa ênfase ao aspecto estrutural, oferecendo condições para a disputa de títulos. Este investimento estrutural pode ser percebido de uma forma brilhante através daquele que é o maior patrimônio do Atlético: a Arena da Baixada, estádio extremamente moderno, exemplo para o Brasil. O primeiro estádio a receber um patrocínio, através da Kyocera - muitas empresas gostariam de ter seu nome ligado àquele que é o mais moderno estádio nacional. Quando, em 2007, o estádio estiver concluído e com capacidade para 45 mil pessoas, o efeito será maior ainda.

O Campeonato Brasileiro de 2001 foi apenas o marco inicial de um clube que tem todas as condições de, ao lado de São Paulo e Cruzeiro, lutar por troféus todos os anos. Deve-se valorizar os vice-campeonatos: o Brasileiro de 2004 e a Libertadores de 2005 mostraram que o Atlético está vindo para disputar títulos, não se contentando em ser um mero participante de campeonatos. Sua torcida começou a perceber isto, e já exige muito mais do clube: uma sétima posição, que há 10 anos atrás era vista como uma glória, hoje é algo corriqueiro. E esta tem tudo para ser a realidade do Atlético num futuro próximo: a disputa frequente por troféus.

Enfim: esta longa coluna foi apenas para mostrar que o Atlético não pode ser comparado a clubes como Bragantino, São Caetano e o Brasiliense - clubes de torcida nula, que poderão sucumbir assim que os seus mecenas pararem de investir - como o Bragantino já caiu, aliás. Dentre esta nova leva de clubes ascendentes, destaco um além do Atlético: o Goiás, que sofre por estar em um centro completamente distante da mídia, não tendo visibilidade, mas é um clube de extrema organização e bela estrutura. Os outros vieram apenas na esteira destes clubes, copiando modelos que já foram adotados com sucesso pelo Atlético: estádios com cadeiras, boa estrutura para os jogadores no campo, restaurantes e praças de alimentação dignas dentro do estádio.

O futuro mostrará quem tem mais garrafa para vender. E o Atlético mostra ser um possível candidato a se estabelecer no topo. Mas agora é hora de pensar no grande jogo de hoje, contra o São Paulo. Jogo curioso, onde é nítido que o Atlético vem mais motivado - o São Paulo vem desfalcado de alguns bons valores, tem chances nulas de ser rebaixado para mim, e está desde já pensando no Mundial. Justamente, diga-se. Espero um bom jogo, e que o Atlético traga a vitória - não pélo fato do São Paulo, mas pelos três pontos, que poderão nos aproximar novamente do grupo da Sul-Americana.

Saudações atleticanas, rumando à Arena para torcer e empurrar o Furacão!


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