Marcel Costa

Marcel Ferreira da Costa, 45 anos, é advogado por vocação e atleticano por convicção. Freqüenta estádios, não só em Curitiba, quase sempre acompanhado de seu pai, outro fanático rubro-negro. Foi colunista da Furacao.com entre 2005 e 2008.

 

 

O clube dos grandes

19/08/2005


O que é ser um time grande hoje no Brasil? Esqueçam o Clube dos 13 e seus inúmeros convidados extras, entre eles o Atlético. Nem mesmo todos os fundadores desse clube podem hoje ser chamados de grande. Ou alguém acredita que o Bahia, na zona de rebaixamento para a Série C, pode ser comparado a um time como o Cruzeiro, por exemplo? Obviamente, existe um seleto grupo de clubes que de fato são grandes hoje em dia. Esse rol será chamado por mim de clube dos grandes. Um clube quase fechado, onde dificilmente entram novos sócios.

O Atlético entrou há pouco tempo nesse clube. Seria um jovem rico, ambicioso e ousado no meio de um clube de velhos, muitos deles já ultrapassados, falidos e sem nenhuma pretensão na vida. Outros, claro, mesmo pertencendo ao clube há muito tempo ainda têm fôlego renovado e ostentam uma boa condição financeira.

Essa introdução é necessária para tentar explicar quem é o Atlético e quem é o nosso adversário de amanhã: o São Paulo. O mesmo rival de um mês atrás na inédita final brasileira da Libertadores da América.

O São Paulo é um clube tradicional, de uma cidade de mais de 20 milhões de habitantes, com inúmeros títulos nacionais, internacionais e uma grande torcida. Talvez seja hoje o maior clube de futebol do país, considerando história, patrimônio, torcida, estrutura e condição financeira. Já faz parte daquele clube dos grandes desde o tempo em que o Atlético ainda sofria para vencer um campeonato paranaense. Tem bons contatos, influência e respeito dentro e fora de campo, inclusive pela Conmebol, organizadora da Libertadores da América.

O Atlético, por sua vez, é o maior clube do Paraná: um estado menor que a cidade de São Paulo. Uma década atrás vivia de sonhos, hoje considerados absurdos, como firmar-se na primeira divisão do futebol brasileiro ou conquistar um bicampeonato paranaense. Seu maior patrimônio era a apaixonada torcida que o manteve vivo por 70 anos. Graças à visão do excelente Mário Celso Petraglia, o Atlético cresceu... e muito! Hoje, o Furacão tem a mais moderna Arena da América do Sul, é administrado profissionalmente, tem uma excelente estrutura e condição financeira, revela jogadores, ganha e disputa títulos no Brasil e fora dele, tanto no profissional como na base. Com esse espetacular crescimento dos últimos 10 anos, ganhou uma vaga no clube dos grandes.

Entre os grandes do Brasil, o Atlético não se contentou em ser apenas mais um. Mostrou uma nova visão a todos e ousou desafiar aqueles que já criavam teia dentro do clube e acreditavam viver para sempre de seu glorioso passado. Deixou para trás a maioria dos membros do clube e agora desafia aqueles que, mesmo mais velhos, ainda obtém bons resultados e entendem ser necessário estar sempre se renovando, como o Santos e o São Paulo, por exemplo. Mas esses se incomodam com o Atlético, pois é um jovem ousado e ambicioso que pretende ocupar seus lugares de destaque.

Ano passado perdemos do Santos na reta final do Brasileiro. A culpa foi nossa, pois o título estava em nossas mãos. Nesse ano fomos derrotados mais uma vez, mas na Libertadores da América. O Atlético está crescendo em um ritmo espetacular e derrotas fazem parte do longo caminho para a consagração definitiva. Uma hora esse ritmo vai diminuir, saibamos disso, pois tudo tem limites. Nessa hora, que está próxima, o Atlético precisará se estabilizar como um grande clube, conquistando títulos e estando sempre entre os primeiros de qualquer competição que participe.

Amanhã teremos a chamada revanche contra o São Paulo. Obviamente que teríamos muito mais chances se jogássemos o primeiro jogo daquela final na Kyocera Arena ou se o adversário não pudesse jogar em seu estádio e em sua cidade. Mas isso, infelizmente, fazia parte do regulamento e mesmo com uma enorme pressão da nossa parte não conseguimos reverter esse dispositivo, nem fazer com que a Conmebol autorizasse as arquibancadas tubulares. Fosse contra outro adversário, menos respeitado dentro da Confederação Sul-Americana, afirmo com certeza absoluta de que o jogo sairia em nosso estádio. Mas aí voltamos ao início: o São Paulo é grande há muito tempo e tem uma forte influência nos bastidores. Isso é normal e nós também estamos começando a ser respeitados. Mas a consagração definitiva virá com o tempo!

O que nós precisamos entender é que somos novos dentro desse clube e para quebrar certos preconceitos e paradigmas, precisamos continuar sendo ambiciosos e ousados. Daqui a alguns anos tenho certeza de que respeitarão ainda mais o Atlético. Estamos no meio dessa longa transição, que, felizmente para nós, está vindo em um ritmo alucinante.

E o que o torcedor do São Paulo precisa refletir é que hoje eles ganharam um novo adversário, no lugar de alguns clubes que estão caindo ou cairão no esquecimento. Se o Atlético ou um colunista atleticano o incomoda, como meu nobre amigo Rogério Andrade, é porque já nos consideram um rival. Um inimigo que será cada vez mais comum na vida tricolor, como já são Santos, Corinthians, Palmeiras e Cruzeiro. Acostumem com a gente, pois viemos para incomodar a velha oligarquia do futebol brasileiro.

Amanhã não será uma revanche da final. Essa terá que ser feita em uma decisão ou fase importante de um campeonato grande. Assim como a revanche com o Santos aconteceu na Libertadores da América, não em um jogo normal do Brasileiro. Mesmo o troco que o São Paulo sonhava em dar no Atlético pela eliminação em 2001 não foi nos inúmeros confrontos entre os clubes no período entre 2002 e 2004, mas nessa final da Libertadores. Amanhã será apenas um bom jogo entre dois grandes clubes do futebol brasileiro! A revanche virá no momento apropriado!


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