Rogério Andrade

Rogério Andrade, 52 anos, é administrador. Atleticano de "berço", considera a inauguração da Arena da Baixada como o momento mais marcante do Atlético, ao ver um sonho acalentado por tantos anos tornar-se realidade.

 

 

Força estranha

10/08/2005


Hoje é dia de escrever sobre o Atlético, mais uma vez. Foi exatamente este motivo que me levou há algum tempo a pensar e tentar decifrar, não somente a fixação pelo futebol, mas pela estranha magia que me fez um apaixonado pelo Atlético. Tenho absoluta certeza de que, ao lerem este texto, muitos atleticanos poderão ter sua identificação, cada um a seu modo.

Sei que muitas perguntas nunca terão resposta e muitos mistérios levaremos conosco para outro Universo. Mesmo assim e mesmo sabendo que algumas coisas podem ser em vão, me vejo às vezes tentando encontrar, pelo menos, algumas dicas do que exatamente sinto pelo Clube Atlético Paranaense. Há quem diga que pelo que fui, pelo que fiz e pelo que faço, sou um maluco apaixonado por um clube de futebol. Como se diz na gíria, há também quem diga que sou um atleticano “doente”.

Que é uma paixão, não tenho dúvidas. Ao contrário das paixões em uma relação humana, que duram mas não são eternas, e logo são preenchidas pelo amor, mesmo que este não seja para sempre, a paixão pelo Atlético é muito mais intensa, duradoura e caminha em paralelo com o grande e imenso amor que tenho pelo clube. Difícil às vezes entender este emaranhado de sentimentos que muitas, mas muitas vezes se confundem, dia a dia.

Recorro então aos livros e entre os mais lidos, “Atlético, a Paixão de um povo”, de Heriberto Ivan Machado e Valério Hoerner Júnior, encontro algumas respostas. Entre as respostas também encontro mais alguns mistérios e algumas indagações silenciosas que acabam me consumindo.

Em 1968, por exemplo, um conturbado Atlético deixou escapar um título praticamente ganho, deixou que uma grave crise se agravasse internamente e mesmo sem pretensões e alvo de injustiças, ainda respirava. Mesmo em meio a uma das décadas mais sofridas vividas pelo Furacão, alguém não deixava nunca de acreditar no Atlético. Talvez um dos maiores atleticanos de todos os tempos, Jofre Cabral e Silva, passou a viver e morreu pelo Atlético. Incrível, mas no ano em que o Atlético lutava contra tudo e contra todos, Jofre sofria para reerguer o clube. Jofre também era um apaixonado! Não conseguiu ser campeão, mas conseguiu provar como se ama de verdade um clube de futebol. Enfartou na arquibancada e levou consigo, para sempre, o querido Atlético, o qual conforme seu pedido, nunca morreu.

Talvez este seja apenas um dos grandes exemplos de lição de amor dentre muitos exemplos e inúmeras vítimas da paixão que une o torcedor ao Atlético. Mais um caso de amor entre tantos conhecidos ou anônimos. O Atlético é mesmo muito mais do que um simples clube de futebol, é um clube que possui uma estranha força, como uma verdadeira religião que movimenta uma multidão, desde as pedras da velha Baixada até a belíssima Kyocera Arena, desde os velhos amigos até a nova geração de torcedores.

Ainda sem respostas e agora tendo a certeza de que isto será em vão, encontro um parágrafo do mesmo livro e chego finalmente à conclusão de que é o resumo mais aproximado sobre o grande mistério de amor ao Atlético:
“Da mesma forma que o futebol se apresenta como uma função da alma, o amor a um clube pode ser visto como condicionamento psíquico, propulsor até de disparates, justificáveis somente pelos olhos e pelas cabeças dos torcedores da mesma camisa, que em determinados instantes pensam com uma cabeça só, a da torcida, agindo numa espécie de histeria coletiva, senhora do mundo e de todas as razões, incapaz de exercer o racional”.

Eis pelo menos uma ponta do desvendar de um mistério que teima em nos unir, teima em nos aproximar e nos fazer enlouquecer com o Atlético, pelo Atlético. Posso enfim recostar no travesseiro e poder dormir, com um pouco de medo deste amor doentio, mas feliz, muito feliz só em pensar que sou atleticano.

“O clube nunca se entrega a um torcedor, o torcedor é que se entrega ao clube ou ao amor dele”(Mário Filho)


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