Juliano Ribas

Juliano Ribas de Oliveira, 51 anos, é publicitário e Sócio Furacão. Foi colunista da Furacao.com entre 2004 e 2007 e depois entre março e junho de 2009.

 

 

Fábrica de ídolos

08/08/2005


No espetacular reencontro daquelas que são atualmente as duas maiores forças do eixo Sul-Minas, houve também o reencontro de dois ídolos de grande envergadura da história atleticana junto à torcida rubro-negra. Um fato marcante, tal como o próprio jogo iria se mostrar após o trilar inicial do apito do árbitro.

Adriano e Clesly, ou Gabiru e Kelly, pisaram a grama bonita da Kyocera Arena sabendo que aquele jogo seria muito importante em suas vidas. Essa consciência fez com que se desdobrassem, e, assim, mostraram porque foram ídolos no Atlético. Fizeram gols e jogaram muito, temos que reconhecer. Mas as figuras que nós tínhamos como ídolos em nossas mentes, deixaram de ocupar tal posto. Depois do estupendo jogo de sábado, Kelly e Gabiru não ficaram menos importantes para a história do Atlético. Mas ficaram menos ídolos.

Assim como idolatrias são desfeitas, como no último sábado, novos candidatos ao posto não param de aparecer. No Atlético é interessante, para não se dizer pitoresco, a forma como ídolos aparecem. Em todas as épocas, nas de vacas esquálidas ou nas de vacas adiposas, sempre surgem jogadores que conquistam a idolatria popular. O Atlético é uma fábrica de ídolos. É algo inexplicável, mas eles não param de surgir. A fórmula é bastante simples: basta vestir a camisa rubro-negra com amor e pronto, é ídolo. Vestiu com muito amor, mas muito mesmo, consegue a ovação popular.

Finazzi meteu três na caixa do Cruzeiro, mostrou oportunismo, faro de gol, humildade, sorte e respeito à camisa rubro-negra. De onde não se esperava tanto, surge uma nova esperança. A fila anda e os nomes de Adriano e Kelly já são passado, enquanto este ano já apareceram novos nomes para ocupar o coração da torcida atleticana. Quem explica o Lima? Era simplesmente um ex-coxa e, de repente, cataplau! Lima desanda a fazer gols importantes e se identifica com a torcida e vira realidade. Portanto, o jogo de sábado serviu para registrar o sepultamento da idolatria por Kelly e Adriano e a candidatura de novos postulantes a ídolos: Finazzi e Schumacher.

Se um dia Gabiru e Kelly voltarem, terão condições de reocupar os espaços que a eles pertenceram. Mas agora tem gente nova que está muito a fim de ser ídolo no Atlético. Porque deve ser muito gostoso ser ídolo no Atlético. Ter seu nome gritado pela mais fanática das torcidas. Fazer história num clube que é marcado pela raça e pela superação. Um seleto grupo de jogadores que foram ídolos no Furacão sabe bem o que é isso. Kelly e Adriano sabem. Diego, Dagoberto, Lima, Cocito, Alan Bahia e outros vivem isso hoje em dia. Deve ser algo de sabor inesquecível comemorar um gol junto à massa rubro-negra, desfilar o peito inchado de glória junto ao alambrado apinhado de loucos vibrando como se não houvesse amanhã.

Algo que não deixei de perceber no jogaço de sábado foi o "body language", a atitude do Gabiru logo após o seu gol, o primeiro do Cruzeiro. Ele fez o tento e, instintivamente, partia para comemorar junto à lateral do campo, em frente à torcida atleticana, como fazia. Segundos depois, se tocou que não era mais rubro-negro, mas sim, azul. Deu uma meia volta atrapalhada e correu para os braços da torcida do Cruzeiro. E pode ter certeza, sentindo saudades da proximidade e do calor humano que um ídolo só recebe na Baixada.


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