Ricardo Campelo

Ricardo de Oliveira Campelo, 45 anos, é advogado e atleticano desde o parto. Tem uma família inteira apaixonada pelo Atlético. Considera o dia 23/12/2001 o mais feliz de sua vida. Foi colunista da Furacao.com entre 2001 e 2011.

 

 

Hora de acordar

04/04/2002


Confesso que já tinha saído da Baixada ridiculamente vazia quando o Atlético converteu o pênalti e arrancou um empate salvador nos últimos instantes da partida contra o Tubarão. Resultado salvador porque a derrota deixaria complicadíssima a classificação do Clube na Sul-Minas. Mas ridículo se lembrarmos que este time é o atual Campeão Brasileiro.

O Atlético precisa decidir o que quer da vida. Precisa decidir se, após o título brasileiro, vai sentar e se acomodar como fez o falido do Alto da Glória. Precisa decidir se neste primeiro semestre a única preocupação da diretoria vai ser a política interna. Precisa decidir se quer continuar vendo a torcida cada vez menor com este estúpido ingresso a quinze reais. Precisa acordar de uma vez. O Campeão Brasileiro já deixou pra trás a classificação na Libertadores mais fácil que se poderia esperar. Se não acordar logo, também vai pro brejo a classificação na Sul-Minas, e, o mais importante, a vaga na Copa dos Campeões em julho, torneio este que pode dar ao Clube uma chance de voltar à Libertadores e se redimir do papelão que fez neste ano.

O torcedor quer saber o que pode esperar do Atlético. Tenho certeza de a torcida espera atitude. Atitude da diretoria, que deixe de lado a politicagem e faça este elenco acordar, como vinha acontecendo em momentos importantes. Que abra um pouco os olhos e deixe a teimosia (ou tirania?) de lado, e repense este preço de ingresso ridículo. Ou será que o Campeão Brasileiro não precisa de torcedores? Ora, se passamos dezesseis anos dizendo aos rivais que de nada adiantava um título nacional se depois o Clube não fez mais nada, não poderemos deixar que o mesmo aconteça justamente conosco.

Desânimo

Mais que o fraco futebol apresentado pelo time Rubro-Negro ontem à noite, o que mais me desanima é encontrar a Baixada simplesmente deserta, vazia. Sinto uma mágoa imensa ao saber que não posso mais chamar o meu Clube de “time de massa”. Quem já viu Atlético x Sergipe, em 95, com a Baixada lotada, sente a dor de ir a um estádio sem a menor vibração. Quem já viu a ex-fantástica torcida atleticana revertendo resultados no estádio Joaquim Américo, sofre como nunca ao encontrar o ex-Caldeirão ermo, frio, sem poder. É duro saber que o time não pode mais contar com aquela arma secreta pra chegar a uma vitória. Tanto que, neste ano, foram apenas quatro vitórias (contra os medíocres Mamoré, Pelotas, Olmedo e Coritiba), mais quatro empates e duas derrotas. E tenho certeza de que, com um público ao menos decente, este retrospecto poderia ser bem diferente.

E agora, Contra o Grêmio, será que mais de três mil pessoas desembolsarão quinze reais para ver o Atlético?

Peço desculpas aos que consideram o assunto do ingresso batido e encerrado, mas não consigo abafar minha mágoa de ver que meu time, apesar de Campeão Brasileiro, está perdendo sua torcida. Parece que a recíproca do "conhecemos teu valor" não existe.


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