Juliano Ribas

Juliano Ribas de Oliveira, 51 anos, é publicitário e Sócio Furacão. Foi colunista da Furacao.com entre 2004 e 2007 e depois entre março e junho de 2009.

 

 

A marca Atlético

25/07/2005


Era uma vez um Atletiba. Seria mais um clássico qualquer com derrota atleticana, algo recorrente antes da revolução de 1995. Mas não até aparecer Marcelo Araxá e eternizar aquele jogo. Nos estertores, aproveitando o rebote do goleiro, Araxá mergulha com a cabeça apontando para o solo e dá uma cabeçada ninja, a poucos centímetros da grama e a milímetros da bota do zagueiro. Goooooool do Atlético! E gol do Fantástico.

O jogo terminou 2 a 1 para os verdes, mas o gol do valente Araxá foi o grande assunto. Foi o gol do Fantástico, o gol da semana. O Atlético conquistou alguns minutos de exposição na mídia nacional. Era em momentos assim que a "marca" Atlético aparecia antigamente: esporadicamente. Aquele gol do Fantástico foi um dos raros momentos de divulgação nacional do Atlético naqueles tempos. Apesar da derrota, não teve um atleticano que não vibrou com aquele gol com a cara da raça atleticana e vibrou ainda mais quando ouviu o Léo Batista, com sua voz solene, mostrar o tape com os gols do jogo e o escolher como o mais bonito.

Trago o gol do Marcelo Araxá para ilustrar, primeiro, a mudança para melhor que ocorreu na vida do Atlético. Antes, era assim que a gente aparecia nacionalmente. Praticamente nenhum jogo do Atlético era transmitido e ter um jogador emplacando um gol do Fantástico era um dos poucos momentos de divulgação nacional da "marca" Atlético. Hoje em dia, a coisa mudou e quem diz é o jornal Valor Econômico da semana passada. Segundo o jornal, o Atlético Paranaense foi o quinto time com mais exposição de marca em 2004, considerando jogos ao vivo, vídeo tapes, em TV aberta, por assinatura e em pay-per-view. Foram 77 jogos transmitidos, o equivalente a 115 horas. Perdemos apenas, na ordem, para Corinthians, Santos, São Paulo e Cruzeiro. Algo que nem o mais fanático e otimista atleticano iria pensar quando estava vendo o gol do Araxá no início do anos 90. Está certo que não havia pey-per-view naquela época, mas o Atlético também não disputava títulos importantes tampouco o Paranaense.

Imagine o leitor, este ano, com Campeonato Paranaense, Libertadores e Brasileirão, a quantidade de exposição na mídia da "marca" Atlético. E o melhor, aparecendo valorizada por bons desempenhos em competição, sempre disputando o título. O Atlético constrói sua marca de maneira vencedora e eficiente. O desempenho na mídia em 2004 foi fundamental para o acordo que revolucionou os contratos de patrocínio no Brasil, com a pioneira parceria de "naming rights' do país, com a Kyocera Mita. A empresa japonesa não é boba, sabe que dará retorno colocar seu nome na esteira da marca Atlético e prevê também que o futuro será também de sucesso para ambos. O investimento em estrutura dos últimos tempos transformou o Atlético em um clube sólido o suficiente para ter a credibilidade que uma empresa mundial de alta tecnologia espera para fechar uma parceria.

Mas as coisas não aconteceram por acaso, simplesmente por investimentos e boas gestões. O Atlético sempre contou com o terceiro item, que é a atratividade. O Atlético sempre foi um clube atraente, mesmo nas dificuldades. Era bacana ser atleticano tanto na carestia quanto agora, na pujança. O Atlético sempre teve uma massa de admiradores, mesmo conquistando, certas épocas, um só título por década. A "marca" Atlético não foi construída só nos últimos dez anos, ela só estava adormecida. Pois uma marca não é só um design com logotipia. Marca é personalidade, é o DNA de qualquer instituição. E neste quesito, de personalidade, o Atlético sempre foi um gigante adormecido. O Atlético tem as cores mais vibrantes que um clube pode ter, que são a preta e a vermelha. Tem na sua história momentos da raça e superação, como o Atletiba da gripe lá pelos anos 30, o brado de Jofre Cabral, que implorava pela vida do Atlético, os gols de Ziquita, a cabeçada infernal de Araxá e muitos outros. O Atlético sempre teve muito potencial de sedução simplesmente por seu DNA guerreiro.

Hoje o Atlético é considerado um dos grandes do futebol brasileiro, por conquistas nas áreas patrimoniais e de competições. Sua marca é conhecida e comentada Brasil afora. E com o clube avançando cada vez mais, ainda mais gente será seduzida. O Atlético conquista torcedores com enorme facilidade. Sempre foi assim, nas vacas magras empatávamos e até superávamos o time da colônia alemã em torcida e bastou uma melhoria na estrutura para a gente superar e dobrar a vantagem para o segundo time do Paraná em admiradores. Por isso que dá para a gente acreditar quando dizem que o Atlético será um dos melhores do mundo. Porque tem tudo o que é necessário para isso: estrutura, visibilidade e uma massa de fãs que já superou o um milhão e cresce vertiginosamente, um pouco mais a cada boa campanha atleticana. As pesquisas "Top of Mind" não deixam mentir.

Àqueles que dizem que o Atlético não vai crescer muito mais, que não tem mercado para isso no Paraná, que seremos sempre regionais, digo: nenhum clube tem tanto potencial para ser o clube do futuro como o Furacão. Pois hoje o Atlético tem um corpo forte, junto à sua alma que foi sempre forte. A alma da "marca" Atlético sempre existiu. Foi ela que conquistou nossos corações e continuará a conquistar outros. O corpo forte que o Atlético tem hoje só tornou isso mais fácil. Porque tem coisas que só acontecem no Atlético, coisas que ninguém explica, que fazem pessoas optarem por torcer para o Furacão e que fazem a gente amar este clube cada vez mais. Como o gol do Marcelo Araxá.


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