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Juliano Ribas
Juliano Ribas de Oliveira, 51 anos, é publicitário e Sócio Furacão. Foi colunista da Furacao.com entre 2004 e 2007 e depois entre março e junho de 2009.
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Os paquidermes e a vanguarda
18/07/2005
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A experiência do Atlético durante toda a Libertadores da América e a série de fatos ocorridos antes e durante a decisão deixaram bem claro o contraste entre a modernidade do Atlético e o futebol à moda antiga. O resultado na final não foi aquele que a gente esperava, mas toda a massa rubro-negra pode se orgulhar, tanto pelo honroso vice-campeonato do torneio mais importante da América, quanto pela percepção de quanto o Atlético dos Paranaenses está à frente em matéria de evolução em toda a América Latina.
O arquétipo do futebol que não se quer mais ver, e que também a Fifa não quer mais ver, é o que ainda se pratica na América do Sul. No regulamento da Conmebol, previa-se que o estádio da final deveria ter capacidade para mais de quarenta mil pessoas. Não importam as questões de segurança, conforto, praticidade para se chegar ao estádio e também evacuá-lo, segurança na chegada e saÃda de torcedores visitantes, condições de gramado e instalações internas. Também não importam as condições de trabalho para a imprensa e nem se o estádio tem ou não transmissão digital via fibra ótica, poupando as televisões de montar um grande aparato técnico para a transmissão. Não importa que o estádio tenha excelentes camarotes e tribunas para dirigentes, restaurantes de primeira qualidade. Visão perfeita do campo também é supérfluo. Respeito ao ser-humano e a qualidade como prioridade também não fazem diferença. O que importa, e a única coisa que importa, é que o estádio tenha mais de quarenta mil lugares.
Não precisa nem de cadeiras, boa visão do campo e acomodações dignas. Basta ser grande. Como o Morumbi, um orgulho para o povo são-paulino, simplesmente pelo tamanho. Grande nas dimensões, parco na qualidade. É essa a noção que se tem no Brasil. Não precisa ter qualidade, pode ser a maior tosqueira, contanto que seja grande. Um paquiderme. Consideram-se bons estádios Morumbis, Mineirões, Maracanãs, Serras Douradas e outros. Esse estilo superdimensionado é a marca daquilo que ficou para trás.
O mundo hoje é ágil, rápido. Estamos na era digital, onde tudo acontece em um estalar de dedos. Pró-atividade e qualidade são a marca desse novo tempo. Transmissões de dados em pouco segundos, automação. Menos gente, mais resultado. Esse é o mundo moderno. Custos inteligentes, idéias inteligentes. Em todas as searas, o mundo pede, exige a adequação. Não se toleram mais soluções que não prevejam o bem estar do ser-humano e sua mobilidade. Esta é a grande questão do mundo: tornar viáveis coisas que se tornaram inviáveis com o passar do tempo, em diversas áreas, como construção, trânsito das grandes cidades, meio ambiente, enfim, qualidade de vida é a questão central.
No futebol não é diferente e a preocupação pioneira do Atlético Paranaense em relação aos novos tempos, coloca-o como a vanguarda do futebol na América. Hoje, isso ainda não é muito valorizado, pois a América Latina ainda vive em um tremendo atraso em comparação ao que se faz no primeiro mundo. Mas o Atlético, sendo o primeiro sÃmbolo de modernidade por estas terras, terá muito a ganhar quando o estilo paquiderme, grande, lento e panaca deixar de ser a referência. Os primeiros a ficarem preparados vão pontear o futebol por aqui. E o Atlético será o grande lÃder. Quem viver verá.
Para a Copa do Mundo de 2014, todos os estádios do Brasil deveriam ser postos ao chão, menos um: a Kyocera Arena. Como está, já teria todas as condições de sediar um jogo de Copa do Mundo. Para poder sediar um jogo sequer de Copa, os outros estádios da cidade, o da Federação e o Couto Pereira, teriam como única saÃda o tri-nitro-tolueno, ou seja TNT, dinamite. Dos escombros, quem, sabe, surgisse um estádio em pé de igualdade à Kyocera Arena.
E o mais impressionante é que 2014 está praticamente aÃ. Para se fazer a estrutura necessária para um evento como a Copa, levam-se anos. E ninguém, exceto o Atlético acordou. Estão felizes com seus elefantes brancos. Como o pessoal do São Paulo, que se orgulha de seu estádio em que no primeiro andar senta-se em bancos que parecem assentos de charrete, vê-se os jogadores, as estrelas do espetáculo, como minúsculas pulgas, devido à distância e quando se aproximam, vemos apenas a metade de seus corpos, devido à s placas de publicidade e à burrice de se colocar o campo num patamar mais alto do que das pessoas. Banheiros sujos e mictórios que são apenas paredes, entrada e saÃda de torcedores perigosas e apertadas são a marca daquilo lá. É impensável ver alguma marca de respeito fazendo um acordo de "naming rights" para um estádio daquele.
É por isso que nossos visitantes, principalmente os do time que um dia foi rival, destroem nossas instalações, arrebentam nossas cadeiras e banheiros. É por chegarem à triste (para eles) constatação que estão em outro nÃvel, muito abaixo do conquistado pelo Atlético com a administração Petraglia. A visão de futuro do Atlético refletiu no campo e os resultados obtidos hoje em dia devem-se a essa preparação. Um projeto a longo prazo, para se fazer do Atlético o melhor clube do Brasil, já dá resultados agora. Nunca seremos o maior clube do Brasil, até porque Curitiba nunca será a maior cidade do paÃs, nem a segunda, nem a terceira. Mas seremos os melhores.
A grande conquista do Atlético na Libertadores da América foi a queda do muro que nos separava dos nosso maior sonho. Toda a questão do mando de jogo na final fez com que houvesse a mobilização necessária para que aquilo saÃsse dali. É a ironia do destino. O atraso de uma regra permitiu que a modernidade do futebol na América do Sul continuasse a ser posta em prática pelo Atlético. Nossa avançada casa logo estará tocando o céu, completa. E quando isso acontecer, nada será capaz de nos segurar, nem regras, nem jogos de bastidores, nada. Nós ditaremos as regras, nós faremos o caminho, pois seremos os lÃderes. Mário Celso Petraglia tinha razão. A Libertadores não era para agora. Mas está muito próxima. A consciência de que a qualidade faz a diferença começa a ser valorizada. Tanto que a Conmebol já pensa em mudar vários itens de seu regulamento. Graças ao Atlético, clube que quebra paradigmas, rompe barreiras e muros, os novos tempos do futebol latino americano estão chegando.
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