Sergio Surugi

Sergio Surugi de Siqueira, 66 anos, é Atleticano desde que nasceu. Neto de um dos fundadores, filho de um ex-presidente do Atlético, pai e avô de Atleticanos apaixonados, é doutor em Fisiologia e professor. Foi colunista da Furacao.com entre 2005 e 2009.

 

 

Meu Paraná

16/07/2005


Não se assustem, o título da minha coluna de hoje coincide com as primeiras palavras do hino de um dos nossos rivais regionais, mas não virei tricolor de uma hora para outra. Por outro lado, aproveito a oportunidade para lembrar de que o time que é dono do tal hino e pelo qual eu não tenho a menor simpatia, certa vez, jogando em São Januário, foi humilhado pelo Eurico Miranda, que ao sentir que o Vasco perderia uma partida importante para o time que leva o nome do nosso estado, invadiu o terreno do jogo, deu de dedo no árbitro e terminou com a partida, garantindo um resultado favorável ao time carioca.

Viajando de um ponto a outro na linha do tempo, recordo da torcida e jogadores do outro rival regional apanhando da torcida vascaína no mesmo São Januário e também das recentes agressões sofridas pelos Atleticanos nesse mesmo lugar, um hibrido de estádio de futebol e terra-sem-lei.

Pois bem, o Atlético perdeu a final da Copa Libertadores, na primeira final da história da competição na qual se confrontaram dois times de um mesmo país. Fomos, junto com o São Paulo Futebol Clube, os responsáveis por oferecer ao Brasil mais esta conquista, que se no “País Pentacampeão” não foi muito valorizada, podem ter certeza que nos outros países da América Latina, incluindo a tão soberba e auto-confiante Argentina, foi tida e havida como um símbolo da supremacia mundial do futebol brasileiro.

Foi uma derrota incontestável, pois o São Paulo tem hoje um time superior, com alguns jogadores fora de série e o nosso time, ainda assim, equilibrou a decisão até a ultima partida, quando finalmente o nosso limite de superação foi atingido.

Todo Atleticano deve estar orgulhoso do que o Atlético tem feito. Somos de longe o time que tem mais conquistas importantes no estado e isso nos tem custado o preço da perseguição em nível nacional. O São Paulo ganhou legitimamente a final, mas antes do indiscutível 4x0, mais do que respeitar, apavorou-se com a sombra Rubro-Negra e usou de todo o seu poder para agir nos bastidores e mostrar que apesar de assustadores, eramos só um time do Paraná, antiga mas (nos olhos deles) eterna provincia de São Paulo.

Outra vez o desrespeito à nossa gente passou impune e foi até aplaudido por alguns conterrâneos menos perspicazes, para não dizer pouco inteligentes. O fantasma de São Januário, que humilhou em tempos diferentes e pela ordem cronológica, Paraná, Coritiba e Atlético, estava de volta, sempre nos lembrando que devemos ficar nos nossos devidos lugares.

Compreendo que talvez seja difícil para um coxa-branca, neste momento de euforia pela conquista dos outros, entender que se eles ainda não foram vítimas de semelhantes manobras, não é porque gozam da simpatia do resto do País, ou muito menos porque são mais respeitados. O motivo real é o fato de que por não terem disputado nada em nível nacional desde o título de vinte anos atrás, simplesmente não incomodam e como diz o velho ditado, “ninguém chuta cachorro morto”.

De certa maneira e contrariando a minha alma de Atleticano, chego a discretamente torcer para que algum outro time do nosso estado possa passar pelas mesmas sensações agri-doces que nós, Rubro-Negros, temos experimentado com tanta consistência nos utimos anos.

Acredito que ainda falta muito, mas talvez um dia os coxas e tricolores também se sintam temidos, odiados e perseguidos pelo Brasil afora.

Para que isso aconteça, antes é preciso tentar alguma conquista que em relevância ultrapasse os limites do Rio Atuba.


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