André

André, 46 anos, é jornalista. Não abre mão de ser dono do seu Atlético. Vibrou quando o Fião matou no peito aquela bola que ia entrar e saiu jogando com categoria. Abraçou o Vivinho na goleada contra o Cascavel e, diariamente, reza por Alex Mineiro. Foi colunista da Furacao.com entre 2004 e 2005.

 

 

O sorriso de Julião

13/07/2005


Confesso que fiquei desgraçado da minha cabeça para escrever essa coluna. Quando o Marçal passou a escala eu desacreditei. Logo eu? E logo agora? Afinal, eu gostaria de manter esse espaço para a rapaziada fazer aquele remember saudável do velho Trétis. Entretanto, nas atuais circunstâncias não há como deixar de lado os tempos modernos. Nós só estamos na final da Copa Libertadores da América. Mais nada. Pela mãe do guarda! E agora, como é que eu faço? Bom, sendo assim, não me resta outra alternativa que não promover um mix contemplando a disputa internacional. Vê aí se presta.

Vou te dizer. Fechei a conta e passei a régua com a classificação para a decisão da Libertadores. O que não quer dizer que larguei os béts da conquista final. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Embora já esteja satisfeitíssimo pela posição que alcançamos - e eternamente agradecido pelo esforço de todos – sigo no aguardo da hemorragia de prazer que será levantar o caneco. Mãe de Deus! No mais, repito o que venho alimentando para a brodagem: não é hora de avaliações técnicas, previsões táticas e palpites do placar para a amanhã. Nesse momento só precisamos de uma coisa: esperança. Vai que embarcamos pro Japão? Digamos que seria, no mínimo, bem interessante congraçar com os nipônicos.

E já que estamos falando sobre uma possível viagem rumo ao outro lado do planeta, aproveito o ensejo para, enfim, reavivar um momento pitoresco do rubro-negro. Fato que acredito ser muito pertinente para situar bem o estágio que o Atlético está vivendo. Mas alerto. Ao término da lembrança, não vai ter moral da história nem conclusão final. Deixarei um espaço para a sua reflexão, que eu acredito, virá acompanhada de um grito e um maroto soco no ar.

Liberta DJ...

Eram jogados 1991 e o Atlético enfileirava três vitórias na abertura do campeonato nacional. Ensacolamos, cada qual a sua maneira, as representações do Flamengo, Grêmio e Fluminense. Nosso escrete não era dos piores, mas dada a pujança do clube naquela época - sempre equilibrado entre a elite e a segundona – se tratava de um feito absolutamente monumental.

Pois bem. Ao retornar da escola, fui ter com o Globo Esporte como fazia religiosamente. Se eu não me engano, era a terça-feira após a vitória sobre o Flu, alcançada no Rio de Janeiro. E como é de praxe quando um time paranaense faz um saracoteio no Brasileiro, a matéria repercutia a inesperada liderança atleticana. Lá estavam nossos atletas frisando a importância da manutenção do bom futebol na seqüência, o técnico exaltando o rendimento do conjunto, aquele lero-lero bem tradicional.

Quando não mais que de repente, encheu a tela do Brasil uma figura pra lá de diferenciada. Portava óculos escuros, vasta cabeleira loira, barba e tatuagens mil. Cravado no gerador de caracteres, uma curiosa alcunha profana: Diabo. Entre aspas, claro, pois no RG poderia ser verificado seu verdadeiro nome: Julio César Sobota, então integrante da Torcida Organizada Os Fanáticos, entidade que hoje é presidida pelo mesmo. Questionado pela repórter sobre a expectativa da torcida em relação ao futuro do Atlético, Julião respondeu, com um misto de ilusão e ironia. “Nós já estamos comprando as passagens para o Japão”.

Naturalmente, a equipe terminou o certame na décima sétima colocação, 16 voltas atrás do primeiro. Porém, a posição final ficou apenas para engrossar as estatísticas, está limitada aos almanaques. Pois desse tempo, o que ficou claramente vivo em minha memória, foi o belo sorriso de Sobota após a resposta.


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